A semana chegou ao fim com um comportamento atípico para o mercado da soja no Brasil. Mesmo diante de uma demanda firme, principalmente por parte da China, os volumes de negociação da oleaginosa ficaram aquém das expectativas. A instabilidade dos mercados globais, impulsionada por fatores geopolíticos e climáticos, somou-se aos efeitos do câmbio e do calendário, resultando em um panorama cauteloso para produtores e exportadores brasileiros.
Durante os últimos dias, os preços da soja registraram perdas nos principais vencimentos na Bolsa de Chicago. O contrato de julho encerrou a semana cotado a US$ 10,67 por bushel, enquanto o de setembro fechou em US$ 10,53. A queda, que variou entre 5,25 e 7,75 pontos, refletiu as incertezas provocadas pelos desdobramentos do conflito entre Irã e Israel, afetando não apenas o petróleo, mas outras commodities agrícolas, como milho e trigo, pressionando também os valores da soja.
Na sexta-feira, os mercados operaram com comportamento desigual. Enquanto o petróleo WTI teve leve alta de 0,3%, o Brent recuou 2,50%. O óleo de soja, que chegou a subir mais de 1,5% ao longo do dia, inverteu a tendência e fechou com baixa superior a 0,5%. A valorização do óleo nas bolsas internacionais costuma oferecer suporte ao grão, e sua retração contribuiu para o movimento negativo registrado na soja em grão.
Outro fator de pressão foi a ausência da China nas compras diretas de soja norte-americana na última semana. Embora o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) tenha reportado vendas semanais acima das expectativas para a safra velha e dentro do esperado para a nova safra, os chineses não figuraram entre os principais compradores. A Alemanha liderou as compras da temporada 2024/25.
No entanto, os dados das alfândegas chinesas divulgados nesta sexta-feira apontam uma forte presença brasileira no fornecimento de soja para a nação asiática. A China importou 12,11 milhões de toneladas de soja do Brasil em maio, superando os 8,81 milhões registrados no mesmo mês de 2024. No total, o país asiático adquiriu 13,92 milhões de toneladas no mês, evidenciando a importância da produção brasileira, sobretudo em meio ao prolongado impasse comercial entre China e Estados Unidos.
Este protagonismo do Brasil tem mantido os prêmios de exportação em patamares elevados, servindo de suporte adicional aos preços internos. As bonificações nas negociações variam de US$ 0,80 a US$ 1,40 por bushel, com as posições mais longas registrando os valores mais altos. Nos portos, os preços encerraram a semana entre R$ 138,00 por saca para o contrato de julho em Paranaguá e R$ 143,00 para setembro em Rio Grande.
Impacto dos prêmios nos portos brasileiros
Os prêmios de exportação tornaram-se ferramenta estratégica para equilibrar o mercado diante das oscilações externas. Em momentos de queda na Bolsa de Chicago, como o observado nesta semana, os prêmios compensam as perdas e oferecem ao produtor margem de negociação mais atrativa. A diferença entre oferta e demanda nos portos tem favorecido os vendedores, especialmente nas posições futuras, com preferência dos compradores internacionais por contratos mais longos, o que também eleva os valores das bonificações. Com a soja brasileira ganhando espaço no mercado chinês, os prêmios têm atuado como um verdadeiro colchão de proteção para o setor exportador.
Logística portuária e gargalos no escoamento
A eficiência da logística portuária tem sido um diferencial importante para a manutenção da competitividade brasileira. Portos como Santos, Paranaguá, Rio Grande e Itaqui vêm operando em ritmo intenso, e melhorias na infraestrutura, como a ampliação de terminais e a digitalização de processos, têm reduzido tempos de espera e ampliado a capacidade de embarque. No entanto, gargalos persistem, especialmente em momentos de pico da safra, com dificuldades no transporte rodoviário e alto custo logístico em regiões mais afastadas dos terminais. O escoamento eficiente continua sendo fator decisivo para transformar o recorde de produção em recorde de embarques.
Apesar do cenário favorável à exportação, o mercado interno de comercialização de soja esteve morno. De acordo com Vlamir Brandalizze, consultor da Brandalizze Consulting, foram negociadas aproximadamente 500 mil toneladas durante a semana — volume inferior às médias semanais de 1 a 1,5 milhão de toneladas. A calmaria foi agravada pela ocorrência de feriados no Brasil e nos Estados Unidos, reduzindo a liquidez nas praças comerciais.
O consultor também apontou que há 109,5 milhões de toneladas já negociadas da atual safra de 170 milhões, restando 60,5 milhões nas mãos dos produtores. “O volume já vendido é recorde, mas ainda há muito a ser comercializado. O produtor está esperando momentos melhores, principalmente com relação ao câmbio. O dólar caiu ao longo da sexta-feira, chegando a operar abaixo de R$ 5,50, mas se recuperou e deve encerrar a semana um pouco acima deste patamar”, afirmou Brandalizze.
O comportamento do câmbio tem sido um dos principais limitadores das cotações domésticas. Analistas destacam que a valorização do real frente ao dólar dificulta ganhos expressivos para o produtor brasileiro, especialmente no momento da conversão dos valores recebidos em moeda estrangeira.
Outro ponto de atenção nas próximas semanas será o monitoramento das lavouras nos Estados Unidos. As condições climáticas no Meio-Oeste e os relatórios semanais do USDA podem influenciar significativamente os preços em Chicago. Caso o estado das lavouras continue se deteriorando, é possível que o mercado assista a novas altas de até 10 pontos, gerando reflexos positivos para o Brasil.
Além disso, o mercado segue atento à divulgação do novo boletim do USDA sobre a área plantada para a safra 2025/26 e aos desdobramentos da crise no Oriente Médio. A ausência de perspectivas concretas de um acordo entre Irã e Israel mantém os investidores em alerta e pode continuar gerando impactos nas cotações globais.
Panorama futuro das exportações de soja brasileira
As projeções para os próximos meses indicam que o Brasil deve manter sua posição de liderança no mercado global de exportação de soja. O apetite chinês permanece elevado, e os volumes adquiridos pelo país asiático têm aumentado progressivamente, consolidando a relação comercial com o Brasil como estratégica em meio a disputas tarifárias com os Estados Unidos.
Além da demanda asiática, outros mercados começam a ampliar suas compras junto ao Brasil. Países europeus, como a Alemanha, já demonstraram interesse crescente pela soja brasileira, que se destaca tanto pela competitividade quanto pelos avanços em rastreabilidade e certificações de produção sustentável.
A tendência é de que, com o avanço do segundo semestre e a possível continuidade de adversidades climáticas na safra norte-americana, os preços na Bolsa de Chicago possam ganhar força, especialmente se os relatórios do USDA confirmarem queda nas condições das lavouras. Esse cenário favorece as cotações no Brasil e pode estimular uma nova rodada de comercializações, principalmente se o câmbio colaborar com o produtor.
Projeção da safra 2025/26 no Brasil
As expectativas para a próxima temporada são ambiciosas. A Conab projeta uma produção que pode ultrapassar os 152 milhões de toneladas, caso as condições climáticas se mantenham dentro da normalidade. A área plantada deve crescer, impulsionada pelos bons resultados econômicos recentes e pelo avanço da tecnologia no campo, sobretudo no uso de sementes mais resistentes e no manejo de precisão.
Estados como Mato Grosso, Paraná, Goiás e Rio Grande do Sul devem liderar novamente a produção nacional, mas há atenção redobrada com os efeitos de um possível La Niña, que poderia influenciar negativamente o regime de chuvas no Sul e no Centro-Oeste.
Com o mundo cada vez mais dependente da soja brasileira para abastecimento, a organização da cadeia produtiva e os investimentos em armazenamento e infraestrutura de transporte serão cruciais para que o país mantenha sua vantagem competitiva e continue como protagonista no comércio global de grãos.
#SojaBrasileiraEmAlta #MercadoAgrícolaEGeopolítica #ExportaçõesDeSojaParaChina #CâmbioEPreçoDaSoja #ChicagoEVolatilidadeDasCommodities #PrêmiosDeExportaçãoElevados #DemandaChinesaImpulsionaBrasil #SafraAmericanaEmMonitoramento #ConflitoNoOrienteMédioECommodities #BolsaDeChicagoEmQueda #ImportaçãoChinesaDeSojaDoBrasil #VolumeNegociadoAbaixoDoEsperado