Mato Grosso do Sul, 21 de junho de 2025
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Brasil recua nos negócios de soja, mas mantém protagonismo na exportação com apoio da China

Com demanda internacional firme, mercado brasileiro negocia volume abaixo do esperado, mesmo com suporte dos prêmios e cenário externo volátil
Foto: José Medeiros
Foto: José Medeiros

A semana chegou ao fim com um comportamento atípico para o mercado da soja no Brasil. Mesmo diante de uma demanda firme, principalmente por parte da China, os volumes de negociação da oleaginosa ficaram aquém das expectativas. A instabilidade dos mercados globais, impulsionada por fatores geopolíticos e climáticos, somou-se aos efeitos do câmbio e do calendário, resultando em um panorama cauteloso para produtores e exportadores brasileiros.

Durante os últimos dias, os preços da soja registraram perdas nos principais vencimentos na Bolsa de Chicago. O contrato de julho encerrou a semana cotado a US$ 10,67 por bushel, enquanto o de setembro fechou em US$ 10,53. A queda, que variou entre 5,25 e 7,75 pontos, refletiu as incertezas provocadas pelos desdobramentos do conflito entre Irã e Israel, afetando não apenas o petróleo, mas outras commodities agrícolas, como milho e trigo, pressionando também os valores da soja.

Na sexta-feira, os mercados operaram com comportamento desigual. Enquanto o petróleo WTI teve leve alta de 0,3%, o Brent recuou 2,50%. O óleo de soja, que chegou a subir mais de 1,5% ao longo do dia, inverteu a tendência e fechou com baixa superior a 0,5%. A valorização do óleo nas bolsas internacionais costuma oferecer suporte ao grão, e sua retração contribuiu para o movimento negativo registrado na soja em grão.

Outro fator de pressão foi a ausência da China nas compras diretas de soja norte-americana na última semana. Embora o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) tenha reportado vendas semanais acima das expectativas para a safra velha e dentro do esperado para a nova safra, os chineses não figuraram entre os principais compradores. A Alemanha liderou as compras da temporada 2024/25.

No entanto, os dados das alfândegas chinesas divulgados nesta sexta-feira apontam uma forte presença brasileira no fornecimento de soja para a nação asiática. A China importou 12,11 milhões de toneladas de soja do Brasil em maio, superando os 8,81 milhões registrados no mesmo mês de 2024. No total, o país asiático adquiriu 13,92 milhões de toneladas no mês, evidenciando a importância da produção brasileira, sobretudo em meio ao prolongado impasse comercial entre China e Estados Unidos.

Este protagonismo do Brasil tem mantido os prêmios de exportação em patamares elevados, servindo de suporte adicional aos preços internos. As bonificações nas negociações variam de US$ 0,80 a US$ 1,40 por bushel, com as posições mais longas registrando os valores mais altos. Nos portos, os preços encerraram a semana entre R$ 138,00 por saca para o contrato de julho em Paranaguá e R$ 143,00 para setembro em Rio Grande.

Impacto dos prêmios nos portos brasileiros

Os prêmios de exportação tornaram-se ferramenta estratégica para equilibrar o mercado diante das oscilações externas. Em momentos de queda na Bolsa de Chicago, como o observado nesta semana, os prêmios compensam as perdas e oferecem ao produtor margem de negociação mais atrativa. A diferença entre oferta e demanda nos portos tem favorecido os vendedores, especialmente nas posições futuras, com preferência dos compradores internacionais por contratos mais longos, o que também eleva os valores das bonificações. Com a soja brasileira ganhando espaço no mercado chinês, os prêmios têm atuado como um verdadeiro colchão de proteção para o setor exportador.

Logística portuária e gargalos no escoamento

A eficiência da logística portuária tem sido um diferencial importante para a manutenção da competitividade brasileira. Portos como Santos, Paranaguá, Rio Grande e Itaqui vêm operando em ritmo intenso, e melhorias na infraestrutura, como a ampliação de terminais e a digitalização de processos, têm reduzido tempos de espera e ampliado a capacidade de embarque. No entanto, gargalos persistem, especialmente em momentos de pico da safra, com dificuldades no transporte rodoviário e alto custo logístico em regiões mais afastadas dos terminais. O escoamento eficiente continua sendo fator decisivo para transformar o recorde de produção em recorde de embarques.

Apesar do cenário favorável à exportação, o mercado interno de comercialização de soja esteve morno. De acordo com Vlamir Brandalizze, consultor da Brandalizze Consulting, foram negociadas aproximadamente 500 mil toneladas durante a semana — volume inferior às médias semanais de 1 a 1,5 milhão de toneladas. A calmaria foi agravada pela ocorrência de feriados no Brasil e nos Estados Unidos, reduzindo a liquidez nas praças comerciais.

O consultor também apontou que há 109,5 milhões de toneladas já negociadas da atual safra de 170 milhões, restando 60,5 milhões nas mãos dos produtores. “O volume já vendido é recorde, mas ainda há muito a ser comercializado. O produtor está esperando momentos melhores, principalmente com relação ao câmbio. O dólar caiu ao longo da sexta-feira, chegando a operar abaixo de R$ 5,50, mas se recuperou e deve encerrar a semana um pouco acima deste patamar”, afirmou Brandalizze.

O comportamento do câmbio tem sido um dos principais limitadores das cotações domésticas. Analistas destacam que a valorização do real frente ao dólar dificulta ganhos expressivos para o produtor brasileiro, especialmente no momento da conversão dos valores recebidos em moeda estrangeira.

Outro ponto de atenção nas próximas semanas será o monitoramento das lavouras nos Estados Unidos. As condições climáticas no Meio-Oeste e os relatórios semanais do USDA podem influenciar significativamente os preços em Chicago. Caso o estado das lavouras continue se deteriorando, é possível que o mercado assista a novas altas de até 10 pontos, gerando reflexos positivos para o Brasil.

Além disso, o mercado segue atento à divulgação do novo boletim do USDA sobre a área plantada para a safra 2025/26 e aos desdobramentos da crise no Oriente Médio. A ausência de perspectivas concretas de um acordo entre Irã e Israel mantém os investidores em alerta e pode continuar gerando impactos nas cotações globais.

Panorama futuro das exportações de soja brasileira

As projeções para os próximos meses indicam que o Brasil deve manter sua posição de liderança no mercado global de exportação de soja. O apetite chinês permanece elevado, e os volumes adquiridos pelo país asiático têm aumentado progressivamente, consolidando a relação comercial com o Brasil como estratégica em meio a disputas tarifárias com os Estados Unidos.

Além da demanda asiática, outros mercados começam a ampliar suas compras junto ao Brasil. Países europeus, como a Alemanha, já demonstraram interesse crescente pela soja brasileira, que se destaca tanto pela competitividade quanto pelos avanços em rastreabilidade e certificações de produção sustentável.

A tendência é de que, com o avanço do segundo semestre e a possível continuidade de adversidades climáticas na safra norte-americana, os preços na Bolsa de Chicago possam ganhar força, especialmente se os relatórios do USDA confirmarem queda nas condições das lavouras. Esse cenário favorece as cotações no Brasil e pode estimular uma nova rodada de comercializações, principalmente se o câmbio colaborar com o produtor.

Projeção da safra 2025/26 no Brasil

As expectativas para a próxima temporada são ambiciosas. A Conab projeta uma produção que pode ultrapassar os 152 milhões de toneladas, caso as condições climáticas se mantenham dentro da normalidade. A área plantada deve crescer, impulsionada pelos bons resultados econômicos recentes e pelo avanço da tecnologia no campo, sobretudo no uso de sementes mais resistentes e no manejo de precisão.

Estados como Mato Grosso, Paraná, Goiás e Rio Grande do Sul devem liderar novamente a produção nacional, mas há atenção redobrada com os efeitos de um possível La Niña, que poderia influenciar negativamente o regime de chuvas no Sul e no Centro-Oeste.

Com o mundo cada vez mais dependente da soja brasileira para abastecimento, a organização da cadeia produtiva e os investimentos em armazenamento e infraestrutura de transporte serão cruciais para que o país mantenha sua vantagem competitiva e continue como protagonista no comércio global de grãos.

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