Mato Grosso do Sul, 23 de junho de 2025
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Cade avalia barrar Moratória da soja e acirra disputa entre produtores e grandes exportadoras

Inquérito antitruste pode resultar em medida preventiva contra acordo que limita comercialização da soja em áreas legalmente desmatadas após 2008 na Amazônia Legal

Um novo capítulo se desenha na longa controvérsia em torno da chamada Moratória da soja. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) passou a considerar a possibilidade de adotar uma medida preventiva contra o acordo que, desde 2006, proíbe a compra da oleaginosa produzida em áreas desmatadas na Amazônia Legal após 2008, mesmo quando o desmatamento é legal, com autorização ambiental. O debate, que mobiliza representantes do agronegócio, associações setoriais, ministros do governo federal e membros do Judiciário, ganha novos contornos com o avanço da investigação pelo órgão antitruste.

O inquérito, atualmente sob sigilo na Superintendência-Geral do Cade, foi motivado por representações da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, com apoio da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A principal suspeita levantada pelos produtores é de que o pacto entre grandes tradings, representadas pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e pela Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), configure uma ação coordenada para restringir a concorrência no mercado.

O Cade já solicitou acesso a provas produzidas pela Justiça de São Paulo e estuda a possibilidade de transformar o inquérito em processo administrativo. Em caso de entendimento pela ilegalidade da Moratória, o órgão poderá aplicar medidas punitivas contra as empresas signatárias e determinar o fim do acordo, decisão que teria implicações diretas na política ambiental e econômica do Brasil.

Tensões internas no governo federal e pressão do setor produtivo

A possível intervenção do Cade ocorre em meio a divisões dentro do próprio governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De um lado, o Ministério da Agricultura já expressou oposição ao acordo, sob a justificativa de que ele fere a liberdade de mercado e prejudica o produtor que cumpre a legislação ambiental. Do outro, os ministérios do Meio Ambiente e da Fazenda apontam para os benefícios da Moratória, sobretudo no campo diplomático, alertando para os riscos de deterioração da imagem internacional do Brasil como exportador sustentável.

A pressão política também vem crescendo no Congresso Nacional. Senadores da chamada bancada ruralista têm feito articulações com conselheiros do Cade, solicitando urgência na análise do caso e defendendo o fim imediato da Moratória. Do lado oposto, as tradings reiteram os ganhos ambientais do pacto e alertam para as consequências negativas de sua interrupção.

O embate entre desenvolvimento regional e reputação ambiental

No centro do embate está a Amazônia Legal e os municípios produtores de soja em Mato Grosso, onde se concentra boa parte da produção afetada pelo acordo. Segundo Lucas Costa Beber, presidente da Aprosoja-MT, 127 câmaras de vereadores no estado já aprovaram moções de apoio ao fim da Moratória. Para ele, a iniciativa representa uma barreira comercial disfarçada, que limita a expansão da produção brasileira e favorece mercados concorrentes, como os Estados Unidos e países europeus.

“As empresas da Moratória compõem um cartel responsável por 95% do mercado comprador de soja. Isso desequilibra o mercado e pune quem segue as regras do Código Florestal. Não vamos medir esforços para desfazer essa injustiça que fere a livre iniciativa dos produtores”, afirmou Beber em um evento no município de Sorriso.

Em nota, a Abiove rebateu as acusações, afirmando que qualquer decisão do Cade que suspenda a Moratória compromete a credibilidade do Brasil como parceiro comercial e líder em práticas sustentáveis. Para a entidade, o acordo é um compromisso voluntário que fortalece o posicionamento internacional do agronegócio brasileiro, em linha com exigências de mercados compradores como a União Europeia.

Impactos jurídicos e econômicos da decisão

Recentemente, o Supremo Tribunal Federal também foi provocado a se manifestar sobre o tema. O ministro Flávio Dino validou uma lei estadual de Mato Grosso que veta benefícios fiscais a empresas vinculadas à Moratória. No entanto, ao justificar sua decisão, reconheceu os efeitos positivos do pacto ambiental, classificando-o como iniciativa legítima do setor privado.

A eventual derrubada da Moratória pelo Cade pode reconfigurar completamente o cenário das exportações brasileiras. A Aprosoja-MT estima que, apenas em Mato Grosso, os prejuízos diretos aos produtores somem R$ 20 bilhões anuais, com efeito multiplicador sobre a economia regional ultrapassando os R$ 60 bilhões por ano. A entidade sustenta que o acordo viola princípios da livre concorrência e cria uma norma privada que se sobrepõe ao ordenamento jurídico nacional.

Enquanto isso, a Abiove insiste que o pacto é benéfico ao país e reconhecido como referência internacional em sustentabilidade. Seu presidente-executivo, André Nassar, argumenta que a decisão liminar do STF deve ser levada em conta pelo Cade, assegurando a legalidade da Moratória e a validade dos atos já praticados sob sua vigência.

Próximos passos e expectativa do setor

Nos bastidores do Cade, há expectativa de que a Superintendência-Geral emita um parecer nos próximos meses. A depender da avaliação, o órgão poderá decidir por uma medida preventiva que suspenda temporariamente o acordo, ou seguir com o inquérito até transformá-lo em processo administrativo completo. Independentemente do desfecho, o julgamento deve estabelecer um marco regulatório sobre a influência de acordos privados no livre funcionamento do mercado, principalmente quando envolvem questões ambientais de alcance global.

A tensão entre preservação ambiental e desenvolvimento produtivo se acirra. O Brasil, ao mesmo tempo em que tenta se consolidar como líder no agronegócio mundial, vê-se no centro de um debate que confronta interesses econômicos, segurança jurídica e compromissos climáticos internacionais. O resultado da análise do Cade poderá não apenas definir o futuro da Moratória da soja, mas também influenciar a forma como o país será percebido no cenário global quanto à produção sustentável.

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