Mato Grosso do Sul, 20 de junho de 2025
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Campo Grande à beira do colapso na saúde: fim da regulação municipal pode paralisar atendimentos e escancara fracassos da gestão Adriane Lopes

Com mais de 17 mil pacientes em fila, mudança imposta pelo Estado gera revolta de conselhos, investigação do Ministério Público e revela três anos de desorganização, plantões fantasmas, falta de medicamentos e abandono da atenção básica

Campo Grande está diante de uma das mais graves encruzilhadas administrativas na área da saúde de sua história recente. O que já era um sistema sobrecarregado, com filas intermináveis, escassez de medicamentos e unidades lotadas, pode agora entrar em colapso total com a retirada da competência de regulação municipal e a imposição da centralização dos leitos hospitalares pelo Governo do Estado. O estopim dessa nova crise é a Resolução CIB/SES nº 670, que institui a Central Única de Regulação de Urgência e Emergência em Mato Grosso do Sul e retira da Prefeitura da Capital o controle da regulação dos pacientes da rede SUS.

A medida, amplamente repudiada por entidades de controle social, motivou a abertura de um procedimento investigatório pelo Ministério Público do Estado. O promotor Marcos Roberto Dietz, da 76ª Promotoria de Justiça, acolheu a denúncia formalizada pelo Conselho Municipal de Saúde (CMS), que acusa a resolução de representar um “retrocesso sanitário” e de violar o princípio da descentralização, pilar da gestão tripartite do SUS.

Segundo o conselho, a mudança foi imposta sem diálogo prévio com a sociedade civil e ignora completamente as especificidades da realidade campo-grandense. Na prática, a estadualização da regulação pode interromper o atendimento de mais de 17 mil pacientes que hoje aguardam internações, cirurgias ou transferências nos sistemas locais.

Silêncio e omissão do município abriram caminho para intervenção estadual

A criação da Central Única ocorre em um cenário de omissão prolongada por parte da gestão da prefeita Adriane Lopes (PP), que, há três anos à frente da administração, não conseguiu estruturar um sistema eficaz de regulação municipal. Internamente, técnicos da saúde relatam desinteresse sistemático da Secretaria Municipal de Saúde (SESAU) em manter uma estrutura funcional e transparente, o que acabou abrindo espaço para a ingerência estadual.

A regulação — mecanismo que organiza e direciona o acesso aos leitos hospitalares, obedecendo a critérios clínicos, urgência e prioridade — tornou-se, nos últimos anos, um símbolo do caos. Pacientes com diagnósticos graves, como câncer ou insuficiência renal, esperam meses por encaminhamentos. Crianças, idosos e gestantes vivem a angústia de ficar dias em unidades de pronto atendimento (UPAs) esperando uma vaga em hospital. A ausência de uma gestão efetiva, de protocolos claros e de supervisão rigorosa por parte da Prefeitura levou o sistema ao limite da desumanidade.

Falta de medicamentos, plantões fantasmas e denúncias acumuladas marcam a gestão Adriane Lopes

Desde que assumiu a Prefeitura de Campo Grande em 2022, após a saída de Marquinhos Trad, a prefeita Adriane Lopes acumulou denúncias e falhas gravíssimas na condução da saúde municipal. Algumas das principais marcas de sua gestão incluem:

  1. Plantões fantasmas em UPAs e CRSs: investigações da imprensa e do Ministério Público apontaram escalas médicas com profissionais ausentes, médicos registrados em horário integral sem sequer comparecer às unidades e manipulação de folhas de ponto.
  2. Falta crônica de medicamentos essenciais: analgésicos, antibióticos, insulina e até soro fisiológico desapareceram das farmácias municipais por longos períodos. Pacientes em tratamento oncológico e crônicos ficaram desassistidos, comprometendo o curso terapêutico de centenas de pessoas.
  3. Desmonte da atenção básica: unidades de saúde da família operam sem médicos, sem insumos e em condições precárias. Agentes comunitários relatam falta de combustível para visitar pacientes acamados e ausência de supervisão técnica.
  4. Demissões e exonerações técnicas: durante seu mandato, Adriane Lopes afastou dezenas de gestores técnicos da saúde, substituindo-os por indicações políticas sem preparo técnico, agravando a desarticulação administrativa e o descrédito da categoria médica.
  5. Falta de diálogo com conselhos e sociedade civil: a criação da Central Única de Regulação escancarou uma das maiores falhas de sua gestão — a falta de escuta. O Conselho Municipal de Saúde, que representa usuários, trabalhadores e gestores, não foi ouvido. Nenhum chamamento público foi feito para debater o tema antes da perda da regulação municipal.

Consequências imediatas e o risco de apagão no sistema

Especialistas ouvidos por órgãos de fiscalização alertam que a nova configuração da regulação poderá provocar um apagão assistencial em Campo Grande. Ao centralizar em um órgão estadual a triagem e destinação de pacientes, o fluxo de encaminhamento entre as unidades pode ser paralisado, uma vez que o novo sistema ainda não tem estrutura consolidada para atender à realidade da Capital.

Além disso, o distanciamento entre a decisão reguladora e o conhecimento local das urgências compromete a equidade no acesso aos serviços. A possibilidade de pacientes esperarem ainda mais por internações, ou de serem transferidos para hospitais inadequados, é real.

A situação também compromete o controle social, ou seja, a capacidade da população e dos conselhos de acompanhar, fiscalizar e garantir transparência no processo de regulação. O medo de que filas ocultas, favorecimentos e desvio de prioridades se intensifiquem não é infundado.

MP cobra respostas da SESAU

Diante da denúncia do CMS, o Ministério Público expediu ofício no dia 12 de junho exigindo explicações formais da Secretaria Municipal de Saúde. O órgão tem 15 dias para responder quais foram os impactos da resolução estadual sobre a gestão local e se houve manifestação oficial da prefeita ou da SESAU contra a medida. O silêncio administrativo, até agora predominante, pode se transformar em nova evidência de omissão.

O CMS, em nota assinada por seu coordenador, Jader Vasconcelos, foi categórico: “ao transferir a competência da regulação hospitalar para um ente distante da realidade cotidiana das unidades e dos usuários, corre-se o risco de agravar os gargalos já existentes, ampliar o tempo de espera por internações e dificultar o fluxo assistencial”.

Campo Grande vive hoje as consequências de uma gestão que, diante da fragilidade e do sofrimento da população, falhou em todos os aspectos: organização, transparência, prioridade e sensibilidade.

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