Mato Grosso do Sul, 5 de junho de 2025
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Campo Grande: a cidade das promessas não cumpridas e o avanço das favelas

Campo Grande precisa de uma resposta urgente e eficaz para a crise habitacional. Construir as 42 mil casas necessárias para zerar a defasagem habitacional e atender as famílias que hoje vivem em situação de vulnerabilidade deve ser a prioridade
Imagem - Gerson Oliveira
Imagem - Gerson Oliveira

A realidade de Campo Grande, que já foi palco de discursos otimistas sobre a erradicação das favelas, hoje é marcada por um retrocesso social evidente. Em 2012, o então prefeito Nelson Trad (PSD) prometia que a cidade não teria mais moradias irregulares. No entanto, uma década depois, o número de favelas na capital sul-mato-grossense mais do que dobrou, chegando a 38 ocupações, segundo dados da Central Única das Favelas (Cufa). O cenário atual mostra não só o fracasso das políticas habitacionais, mas também o descaso do poder público com uma crise que afeta milhares de famílias.

O preço do esquecimento

A falta de novos programas habitacionais, combinada com o aumento do desemprego e a crise econômica agravada pela pandemia da Covid-19, transformou terrenos vazios em comunidades improvisadas, onde famílias inteiras lutam para sobreviver. A situação é agravada por uma defasagem habitacional de 42 mil moradias, número que reflete a fila de espera do programa da Amhasf (Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários).

Além disso, para conter o crescimento das favelas e oferecer condições dignas às famílias que vivem em ocupações irregulares, seria necessário construir pelo menos 5 mil casas de forma imediata, considerando as 38 favelas já existentes. Esse esforço seria um passo inicial para diminuir a pressão sobre comunidades precarizadas, mas ainda está longe de resolver o problema estrutural.

Paula Correa da Silva, de 29 anos, é um dos rostos dessa crise. Líder comunitária, ela mora há dois anos em um barraco de lona e madeira com o marido e três filhos. “Pagava aluguel, mas não dava mais. Era todo mês aquele aperto. Hoje estamos aqui, mas é humilhante. Com o desemprego, comida cara e aluguel subindo, isso só cresce”, desabafa Paula.

Enquanto isso, o preço dos aluguéis dispara. O Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M), que reajusta os contratos de aluguel, subiu 24,86% nos últimos 12 meses. Para as famílias de baixa renda, isso significa escolhas brutais: ou pagam o aluguel ou colocam comida na mesa.

Milhares de barracos espalham-se em Campo Grande (Imagem – Midiamax)

Esforços recentes e insuficientes

Em meio a esse cenário, o governo federal tem anunciado iniciativas para amenizar a crise habitacional em Campo Grande. Em junho de 2022, foram entregues 300 unidades habitacionais no Residencial Jardim Canguru, beneficiando cerca de 1,2 mil pessoas. O investimento totalizou R$ 24 milhões, com recursos do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR) e contrapartida do governo estadual.

Além disso, a Prefeitura de Campo Grande, por meio da Amhasf, obteve a aprovação de quatro novos projetos habitacionais junto ao Ministério do Desenvolvimento Regional. Esses projetos preveem a construção de 504 novas moradias na capital.

Mais recentemente, em outubro de 2024, o governo federal autorizou novas moradias pelo programa Minha Casa, Minha Vida, com um investimento de R$ 612,6 milhões para a construção de unidades em 21 municípios de oito estados. No entanto, não há informações específicas sobre quantas dessas unidades serão destinadas a Campo Grande.

A polêmica da Favela do Mandela

A Favela do Mandela tornou-se um símbolo da crise habitacional em Campo Grande. Em novembro de 2023, um incêndio de grandes proporções destruiu cerca de 60% dos barracos da comunidade, deixando dezenas de famílias desabrigadas. Os moradores foram encaminhados para abrigos improvisados pela prefeitura, incluindo Centros de Referência de Assistência Social (Cras) e escolas.

Em resposta à tragédia, a prefeita Adriane Lopes anunciou a construção de moradias definitivas para as 187 famílias afetadas. O projeto, orçado em R$ 15 milhões, como início das obras em dezembro de 2023, e previsão de sua conclusão em até 12 meses. As primeiras unidades serão destinadas às 38 famílias que perderam tudo no incêndio.

No entanto, a gestão de Adriane Lopes enfrenta críticas em outras áreas relacionadas à habitação. Em 2024, moradores do Residencial Terra Morena denunciaram um aumento de até 130% no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). A prefeita alegou que se tratava de um “erro pontual” e prometeu corrigir os valores.

A crítica que o poder público precisa ouvir

Embora essas iniciativas representem avanços, elas ainda são insuficientes diante da magnitude da crise habitacional em Campo Grande. A construção de algumas centenas de moradias não supre a defasagem de 42 mil unidades necessárias para atender às famílias em situação de vulnerabilidade.

O avanço da favelização em Campo Grande é um reflexo direto de políticas públicas ineficazes e da ausência de planejamento a longo prazo. Promessas como a de erradicar as favelas até 2012 foram feitas sem um compromisso real com a população mais pobre. Não basta levantar estudos e relatórios; é preciso ação concreta e imediata.

Campo Grande precisa de uma resposta urgente e eficaz para a crise habitacional. Construir as 42 mil casas necessárias para zerar a defasagem habitacional e atender as famílias que hoje vivem em situação de vulnerabilidade deve ser a prioridade. Além disso, seriam necessárias pelo menos 5 mil novas moradias de forma emergencial para atender as famílias das 38 favelas já existentes.

O poder público precisa sair do discurso e entrar na ação. Regularizar áreas invadidas, construir casas, subsidiar aluguéis para famílias em situação de extrema pobreza e criar programas de geração de renda são medidas urgentes para mitigar o problema.

A população de Campo Grande já não pode esperar por soluções que nunca chegam. A cidade precisa de um compromisso real com a dignidade humana e a garantia de moradia como um direito essencial. O tempo das promessas vazias acabou. É hora de agir.

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