A saúde pública de Campo Grande está prestes a sofrer mais um golpe que compromete a qualidade do atendimento à população. Em uma decisão que parece se basear apenas na redução de custos imediatos, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) pretende diminuir o horário de funcionamento das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e das Unidades de Saúde da Família (USF), passando a encerrar os atendimentos às 17h, em vez das 19h, como ocorre atualmente.
A justificativa oficial para essa mudança é a redução de gastos com recursos essenciais como água, luz e jornada de trabalho dos profissionais de saúde. No entanto, essa medida, aparentemente simples, coloca em risco o atendimento à população que depende dessas unidades para serviços de saúde de qualidade. A proposta de encurtar o horário de funcionamento das 74 unidades espalhadas pela capital pode criar um impacto profundo na rotina dos pacientes e sobrecarregar ainda mais os já saturados postos de atendimento 24h, como as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Centros Regionais de Saúde (CRSs).
A redução do horário nas UBS e USF, se concretizada, pode ser vista como uma tentativa de minimizar custos operacionais, mas à custa de um atendimento mais eficiente à população. O que parece estar sendo ignorado é o reflexo direto dessa decisão nas pessoas que dependem dessas unidades para atendimento diário, e, especialmente, nas emergências que podem surgir após o fechamento das unidades básicas.
Vale lembrar que a ampliação do horário das UBS e USF foi uma conquista significativa para a saúde pública da cidade. Em 2019, o Governo Federal lançou o Programa Saúde na Hora, que visava precisamente ampliar o atendimento nas unidades básicas, com horário estendido, permitindo que mais pacientes fossem atendidos de maneira preventiva, o que resultaria em menos sobrecarga nas UPAs e emergências hospitalares. A implementação do programa reduziu as filas nas unidades de pronto atendimento e, ao mesmo tempo, aumentou a cobertura da Saúde da Família. Porém, com a possível redução do horário de funcionamento, todo esse avanço pode ser comprometido, e as consequências podem ser devastadoras para o atendimento à saúde da população.
Além disso, a realidade da falta de medicamentos essenciais, tanto nas UBS e USF quanto nas UPAs, agrava ainda mais a situação. O desabastecimento de medicamentos controlados de uso contínuo nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e a escassez de medicamentos básicos nas unidades de saúde têm sido uma preocupação constante. Pacientes que dependem desses medicamentos para manter a estabilidade de condições crônicas, como transtornos psiquiátricos, diabetes e hipertensão, se veem forçados a procurar alternativas ou até mesmo recorrer a emergências, o que só sobrecarrega ainda mais as unidades 24h. A redução no horário das UBS e USF vai piorar ainda mais essa escassez, aumentando o número de pacientes sem a devida medicação, o que comprometerá ainda mais a saúde da população.

Pacientes alegam horas de espera para receberam atendimento no local
A secretária municipal de Saúde, Rosana Leite, já havia alertado sobre o problema de “urgencialização” do sistema de saúde, quando pacientes, por não conseguirem ser atendidos nas UBS ou USF, acabam buscando atendimento em unidades 24h, que se tornam ainda mais congestionadas. Com a mudança proposta, os pacientes que poderiam ser atendidos nas unidades básicas no fim da tarde terão que recorrer às UPAs, o que certamente fará com que esses locais se tornem ainda mais lotados, gerando mais tempo de espera e, consequentemente, insatisfação da população.
É evidente que a saúde pública precisa de ajustes, mas a forma como esses ajustes estão sendo feitos levanta questões importantes sobre as prioridades do poder público. A redução do horário de funcionamento sem uma estratégia clara para reforçar a infraestrutura das unidades 24h parece ser uma solução improvisada, sem a devida análise dos impactos que poderá gerar. A falta de um planejamento mais estratégico e de uma comunicação clara com a população não contribui para a confiança da sociedade na gestão da saúde pública.
O que é alarmante é a falta de respostas claras por parte da Sesau sobre o impacto real dessa decisão. Quando questionada pela reportagem, a Secretaria apenas mencionou que está “analisando os horários de funcionamento” e que “poderão haver alterações conforme a necessidade apresentada através da análise dos dados a serem apresentados pela equipe técnica da Sesau.” Uma resposta vaga e sem informações suficientes, que deixa no ar o verdadeiro objetivo dessa medida e se ela será realmente benéfica para a população ou apenas uma solução superficial para um problema maior.
A saúde pública de Campo Grande já enfrenta desafios sérios e essa medida parece ser mais um reflexo de uma gestão que opta por soluções paliativas, em vez de buscar alternativas que realmente atendam às necessidades da população. Reduzir o horário de atendimento nas UBS e USF é uma medida que pode resultar em mais dificuldades para quem já sofre com a sobrecarga das UPAs, além de comprometer a prevenção e o atendimento de qualidade que é a base para a melhoria da saúde pública.
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