A saída da deputada federal Carla Zambelli, do Partido Liberal de São Paulo (PL-SP), do território brasileiro repercutiu fortemente nos cenários político e jurídico nacionais. A parlamentar, condenada no último mês de maio a uma pena de 10 anos de reclusão, anunciou publicamente nesta terça-feira, dia 3, que se encontra na Europa, justificando a viagem pela necessidade de um tratamento médico e sinalizando que solicitará licença do mandato parlamentar.
O anúncio ocorreu pouco mais de duas semanas após a condenação imposta pela 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que, de forma unânime, julgou Zambelli culpada pelos crimes de invasão a sistemas informáticos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e falsidade ideológica. Segundo a denúncia acolhida pelos ministros da Corte, a deputada foi responsável por articular, orientar e incitar o hacker Walter Delgatti Neto a promover invasões nos sistemas eletrônicos do CNJ, com o objetivo de inserir documentos forjados, entre eles um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes, um dos principais alvos da atuação política da parlamentar.
Em pronunciamento transmitido por seu canal no YouTube, Zambelli declarou: “Queria anunciar que estou fora do Brasil já faz alguns dias. Eu vim, a princípio, buscando tratamento médico que eu já fazia aqui e, agora, eu vou pedir para que eu possa me afastar do cargo”. A deputada também fez referência ao colega de partido e correligionário, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que, recentemente, também deixou o país e se licenciou do cargo parlamentar. “Tem essa possibilidade da Constituição. Acho que as pessoas conhecem um pouco mais essa possibilidade hoje em dia porque foi o que o Eduardo fez também”, pontuou Zambelli, evocando um precedente para justificar sua decisão.
A defesa de Zambelli, no entanto, declarou publicamente que desconhece o destino da deputada, limitando-se a informar que ela se encontra em algum país europeu. Em sua declaração, Zambelli enfatizou que sua saída do Brasil não representa um abandono de sua trajetória política e ideológica: “Não é desistir da minha luta, pelo contrário, é resistir para poder continuar falando o que eu quero falar”, afirmou, sinalizando que pretende manter atuação pública, ainda que fora do país.
A condenação de Carla Zambelli se deu com base em provas consideradas robustas pela Suprema Corte, que demonstraram seu envolvimento direto na orientação das ações criminosas de Walter Delgatti Neto, mais conhecido nacionalmente pela sua participação no episódio conhecido como “Vaza Jato”. De acordo com a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), Zambelli teria fornecido, inclusive, indicações de quais documentos deveriam ser inseridos no sistema do CNJ, visando fabricar provas falsas que sustentariam narrativas políticas de sua corrente ideológica.
Em seu voto, o relator do caso, ministro Gilmar Mendes, destacou a gravidade dos crimes, ressaltando que a ação de Zambelli representou “atentado grave contra a administração da Justiça e tentativa de manipular a opinião pública mediante a fabricação de provas fraudulentas”. A decisão da 1ª Turma do STF incluiu, ainda, a decretação automática da perda do mandato parlamentar da deputada, decisão que, conforme prevê o regimento da Câmara dos Deputados, deve ser chancelada pela Mesa Diretora da Casa. Contudo, há divergências no meio jurídico e político acerca da competência para declarar a perda do mandato, com parte dos parlamentares sustentando que tal deliberação cabe, exclusivamente, ao plenário da Câmara.
A trajetória de Carla Zambelli, marcada por posicionamentos polêmicos e combativos nas redes sociais e no parlamento, atinge, com este episódio, um dos pontos mais críticos. Figura de destaque do bolsonarismo, a deputada vinha ampliando sua atuação política com discursos contra instituições do sistema de Justiça, especialmente contra o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral, instâncias que, reiteradamente, foram alvo de seus questionamentos e críticas.
O caso, que passa a figurar como um dos mais emblemáticos da história recente do país envolvendo crimes cibernéticos praticados por agentes políticos, reacende o debate sobre os limites da imunidade parlamentar, os riscos da instrumentalização das redes sociais para fins de desinformação e o papel das instituições republicanas na contenção de abusos de poder.
Enquanto isso, Zambelli permanece fora do país, afirmando que buscará tratamento médico e indicando que pretende solicitar licença do mandato. Resta, agora, à Câmara dos Deputados deliberar sobre o futuro do seu mandato, num ambiente político já tensionado e polarizado, em que o caso serve como mais um capítulo do confronto entre setores da extrema-direita e as instituições democráticas brasileiras.
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