Mato Grosso do Sul, 3 de maio de 2025
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Carlos Lupi deixa ministério após escândalo do INSS e Lula tenta conter crise no governo

Esquema bilionário de descontos indevidos em aposentadorias derruba ministro da Previdência e expõe racha político em Brasília
Carlos Lupi, ministro da Previdência Social e presidente licenciado do PDT
Carlos Lupi, ministro da Previdência Social e presidente licenciado do PDT

A sexta-feira começou com uma bomba em Brasília. Carlos Lupi, ministro da Previdência Social e presidente licenciado do PDT, pediu demissão do cargo em meio ao escândalo bilionário de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A saída dele marca a 11ª troca ministerial no governo de Luiz Inácio Lula da Silva desde o início do mandato, em janeiro de 2023.

A crise estourou com força total depois da revelação de um esquema que, segundo a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Polícia Federal (PF), causou descontos indevidos nos benefícios de milhões de aposentados e pensionistas. O rombo pode chegar a R$ 6,3 bilhões, num sistema de cobranças sem autorização que vinha ocorrendo desde 2019, mas que explodiu em volume e visibilidade a partir de 2023.

Apesar de não haver menção direta a Lupi nas investigações, o ministro ficou politicamente isolado. Dentro do Palácio do Planalto, o clima era de descontentamento com a postura adotada por ele diante da crise. Pressionado, Lupi publicou nas redes sociais que sai de “cabeça erguida” e que sempre apoiou as investigações.

Poucas horas depois, o Planalto anunciou oficialmente a exoneração de Carlos Lupi e a nomeação de Wolney Queiroz, secretário-executivo da pasta, para o comando do ministério. A decisão foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União.

Aposentados viraram alvo de esquema silencioso que agia nas sombras

De acordo com as investigações, aposentados do INSS foram cadastrados em associações e sindicatos sem saber. A partir disso, passaram a sofrer descontos mensais nos seus benefícios. Em muitos casos, nunca haviam assinado ou autorizado nada.

Em tese, esse tipo de desconto pode ser feito legalmente quando o aposentado se associa voluntariamente em troca de serviços. Mas o que a PF e a CGU encontraram foi uma verdadeira indústria de golpes, com entidades de fachada e até associações conhecidas agindo à margem da lei.

Os números assustam. Entre 2016 e 2021, os valores anuais descontados ficavam, em média, em R$ 523 milhões. Em 2022, já sob o governo de Jair Bolsonaro, o número saltou para R$ 706 milhões. Mas o estouro veio em 2023, com R$ 1,3 bilhão. Para 2024, a previsão da CGU era de R$ 2,6 bilhões.

O relatório acusa o INSS de não ter tomado medidas eficazes para coibir a prática, mesmo diante de inúmeras reclamações. As críticas recaem sobre toda a cúpula da Previdência, inclusive sobre a gestão de Carlos Lupi.

Disputa política transforma escândalo em campo de batalha

Assim que o escândalo veio à tona, começou também uma guerra de versões. Governistas argumentam que o esquema teve origem em gestões anteriores e que só agora foi investigado de fato. Parlamentares aliados de Lula ressaltam que entidades envolvidas surgiram durante os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro.

Do outro lado, a oposição acusa o governo atual de ter deixado o problema crescer. Deputados bolsonaristas já protocolaram um pedido de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o caso. A proposta ainda precisa ser avaliada pelo presidente da Câmara, Hugo Motta.

A crise se agravou com a revelação de que o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), uma das entidades investigadas, tem como vice-presidente José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, irmão do presidente Lula. Apesar disso, Frei Chico não é alvo da operação e o sindicato afirma que denunciou as irregularidades ainda em 2023, numa reunião do Conselho Nacional da Previdência.

Lupi sai de cena, mas estrago político já está feito

Carlos Lupi deixa o cargo com um currículo extenso na política nacional. Já foi ministro do Trabalho, deputado federal, secretário de Transportes no Rio de Janeiro, presidiu conselhos do FGTS e FAT, e atualmente faz parte do Conselho de Administração da Tupy S.A. Sua ligação histórica com o PDT, partido fundado por Leonel Brizola, sempre lhe garantiu espaço de destaque.

Mas, diante de uma crise que mexe com milhões de brasileiros, nem o peso político nem os anos de experiência foram suficientes para segurar a pressão. A pesquisa AtlasIntel mostrava que mais de 85% dos brasileiros defendiam sua saída. O governo entendeu que precisava agir rápido para não perder ainda mais apoio popular.

Agora, cabe a Wolney Queiroz, novo ministro, reorganizar a casa e tentar dar uma resposta efetiva à população. A missão não será fácil. A oposição está mobilizada, o Congresso de olho, e os aposentados, indignados.

O escândalo do INSS não é só mais um episódio de corrupção. É um alerta sobre como o sistema pode ser usado para prejudicar justamente quem mais precisa dele. E é mais um teste para um governo que, a cada nova crise, vê sua base política e sua popularidade colocadas à prova.

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