A rede pública de saúde de Campo Grande enfrenta uma das mais severas crises de abastecimento dos últimos anos. A escassez de medicamentos nas unidades básicas e especializadas não decorre da falta de insumos nas indústrias farmacêuticas, como tenta justificar a administração municipal, mas sim de uma política reiterada de calote adotada pela gestão da prefeita Adriane Lopes (PP), que acumula dívidas com fornecedores desde o ano passado. O problema se agravou nas últimas semanas, atingindo não apenas os estoques de remédios, mas também a oferta de oxigênio medicinal, essencial à sobrevivência de pacientes em estado crítico ou com doenças crônicas.
Ao menos três fornecedores relataram atrasos superiores a seis meses nos pagamentos por parte da prefeitura. Um deles acumula crédito de R$ 800 mil, segundo apurado, e apenas conseguiu receber parte do valor após intensas cobranças. A entrega de medicamentos, até então retida, pode ser retomada caso a prefeitura cumpra a promessa de quitação até o início de julho. Enquanto isso, os pacientes enfrentam prateleiras vazias, filas crescentes e a necessidade de arcar com tratamentos do próprio bolso.
Desabastecimento se espalha por toda a rede
Durante audiência pública na Câmara Municipal em 23 de junho, a superintendente da Rede de Atenção à Saúde da Sesau, Ana Paula Rezende, apresentou um relatório detalhado que expôs a situação de calamidade nos estoques de fármacos. Dos 23 medicamentos destinados aos pacientes da Rede de Atendimento Psicossocial, nove estão em falta quase 40% do total. Além da ausência de remédios psiquiátricos e neurológicos essenciais, como o ácido valproico, diazepam e amitriptilina, a prefeitura enfrenta processos licitatórios desertos e fornecedores que se recusam a participar de novos pregões, temendo novos calotes.
Apesar de alguns medicamentos constarem como disponíveis no sistema eletrônico da Sesau, a realidade é oposta: nas prateleiras, faltam comprimidos e xaropes de uso contínuo. Pacientes diagnosticados com epilepsia, depressão ou transtornos de ansiedade são forçados a interromper seus tratamentos ou a custeá-los em farmácias, onde os preços são elevados. Um frasco de ácido valproico, por exemplo, custa cerca de R$ 60, valor inacessível para muitas famílias.
Confira a grade atualizada de medicamentos em falta na rede:
Medicamento | Dosagem / Forma | Situação Atual |
---|---|---|
Ácido Valproico (Valproato de sódio) | 250 mg/ml xarope | Aguarda entrega do fornecedor |
Ácido Valproico (Valproato de sódio) | 250 mg/ml xarope (2ª remessa) | Situação não informada |
Amitriptilina | 25 mg / comprimido | Aguarda entrega do fornecedor |
Biperideno | 2 mg / comprimido | Pregão realizado em 24/05/2025 |
Carbonato de Lítio | 300 mg / comprimido | Aguarda entrega do fornecedor |
Diazepam | 5 mg / comprimido | Situação não informada |
Fenobarbital | 100 mg / comprimido | Situação não informada |
Nitrazepam | 5 mg / comprimido | Pregão realizado em 25/04/2025 |
Zuclopentixol | 200 mg/ml injetável | Pedido de compra emergencial |
Falta de oxigênio põe vidas em risco
Como se a escassez de remédios não bastasse, agora a falta de pagamento também compromete a oferta de oxigênio medicinal na cidade. Pelo menos duas empresas responsáveis pela distribuição do insumo, inclusive para pacientes em domicílio, confirmaram à reportagem que acumulam prejuízos superiores a R$ 1 milhão por inadimplência da prefeitura. A continuidade do serviço está ameaçada, o que pode comprometer diretamente a vida de oxigenodependentes.
O fornecimento de oxigênio é fundamental tanto nas unidades de saúde quanto em residências, para pacientes com doenças pulmonares crônicas, sequelas neurológicas, insuficiência respiratória ou em pós-operatório. A interrupção do serviço pode gerar consequências irreversíveis, como agravamento clínico e até morte.
Falta de gestão e transparência agrava desconfiança
A gravidade da situação é agravada pela desconexão entre os dados apresentados pela Secretaria de Saúde e a realidade enfrentada pela população. O portal da Sesau indica, por exemplo, que o Biperideno está disponível em estoque, embora a própria Ana Paula Rezende tenha informado em audiência pública que o medicamento depende de entrega do fornecedor após pregão realizado em maio.
O caso se repete com o Carbonato de Lítio, Diazepam e Fenobarbital, todos listados como indisponíveis por fornecedores e profissionais de saúde, mas supostamente em estoque nos sistemas oficiais. A falta de transparência e de controle interno expõe uma administração desconectada das reais necessidades da população.
Conclusão: uma crise que exige ação imediata
O colapso no sistema de saúde de Campo Grande ultrapassa os limites da negligência e configura um cenário de grave violação do direito à saúde pública. A inadimplência da gestão municipal, que prejudica desde grandes distribuidoras até pequenos fornecedores, acarreta desabastecimento, insegurança sanitária e risco de morte.
Se a prefeitura não reorganizar com urgência suas prioridades orçamentárias e não honrar os compromissos financeiros com os prestadores de serviço, a cidade poderá assistir a um agravamento ainda maior da crise. A população mais pobre, que depende do SUS, continuará sendo a mais afetada por um sistema paralisado pela má gestão.
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