Mato Grosso do Sul, 19 de maio de 2025
Campo Grande/MS
Fuente de datos meteorológicos: clima en Campo Grande a 30 días

Condenação de Zambelli expõe bastidores sombrios da política digital e reascende temores sobre ameaças à democracia

STF sentencia parlamentar a dez anos de prisão por crimes digitais, e caso se entrelaça com episódios de intimidação armada que marcaram a tensão eleitoral no país

Na trajetória política de Carla Zambelli, o que antes parecia ser apenas mais um discurso inflamado nas redes sociais tornou-se, com o passar do tempo, uma série de episódios que desaguaram em crimes graves contra as instituições democráticas brasileiras. A condenação da deputada federal a dez anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal, por envolvimento direto na invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça, não apenas consagra juridicamente sua responsabilidade penal, mas também lança luz sobre o perigoso caminho de radicalização e desestabilização institucional que ela trilhou nos últimos anos, especialmente às vésperas das eleições de 2022.

A decisão da 1ª Turma do STF revelou um enredo digno de thriller político. Com base em provas técnicas e depoimentos contundentes, a Corte entendeu que a deputada não só contratou o hacker Walter Delgatti Neto, como orientou diretamente as ações criminosas, entre elas, a emissão de um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes e um alvará fraudulento de soltura para um líder do Comando Vermelho. Os documentos foram inseridos no Banco Nacional de Mandados de Prisão com o objetivo explícito de atacar simbolicamente a autoridade do Judiciário, corroer sua credibilidade e lançar a dúvida sobre a lisura das instituições no exato momento em que o país se preparava para decidir seu futuro político nas urnas.

A operação, revelada em janeiro de 2023, teve raízes plantadas ainda em 2022, período em que a polarização eleitoral atingiu níveis críticos. Naquele cenário, Carla Zambelli já figurava como uma das figuras mais vocalmente alinhadas ao então presidente Jair Bolsonaro e, nos bastidores, alimentava teorias conspiratórias sobre fraude eleitoral, urnas manipuladas e interferência judicial. Foi nesse clima de tensão que se desenhou o episódio mais simbólico do seu radicalismo político: no dia anterior ao segundo turno das eleições, armada, a deputada perseguiu e rendeu um homem negro no bairro Jardins, em São Paulo, alegando ter sido ameaçada verbalmente. A cena, gravada por testemunhas, correu o mundo, gerando indignação e temor quanto ao uso da violência como arma política em pleno processo democrático.

O episódio da arma nas mãos de uma parlamentar, em plena véspera da eleição presidencial, não pode ser dissociado da atual condenação. Ambos os acontecimentos apontam para uma mesma lógica de conduta: a instrumentalização do cargo público para alimentar confrontos políticos, agir à margem da legalidade e fragilizar os pilares democráticos. O julgamento da tentativa de intimidação armada, que corre em paralelo no STF, já tem maioria formada para mais uma condenação, desta vez por porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal.

Ao proferir o voto que conduziu à condenação da deputada e do hacker, o ministro Alexandre de Moraes foi categórico ao afirmar que os atos praticados por Zambelli integravam uma “estratégia mais ampla de desestabilização institucional”, que culminou nos ataques do dia 8 de janeiro de 2023 às sedes dos Três Poderes em Brasília. Segundo o relator, a invasão aos sistemas do CNJ, com a emissão de documentos falsos, teve papel determinante na construção de um cenário de caos e descrédito, alimentando o discurso golpista que fervilhava nas redes e nas ruas.

O envolvimento de Walter Delgatti Neto, notório por ter invadido dispositivos da operação Lava Jato, trouxe ainda mais complexidade ao caso. Ao aceitar a missão encomendada por Zambelli, ele deu forma digital a um plano criminoso com alto potencial simbólico. A invasão ao sistema judicial não era apenas um ataque técnico: era um gesto de guerra contra a credibilidade institucional, com efeitos profundos na confiança do cidadão no aparato legal do país.

As consequências foram imediatas. A sentença de dez anos de prisão imposta à parlamentar, além da perda automática do mandato, sinaliza um marco na história recente do Supremo Tribunal Federal: trata-se de uma resposta clara, severa e inédita a uma representante do Legislativo que violou conscientemente as fronteiras da legalidade. A Corte ainda determinou o pagamento de multa milionária e a responsabilização solidária entre os dois condenados pelos danos causados ao erário e à coletividade.

No plano político, a queda de Zambelli representa o colapso de uma estratégia construída sobre os escombros da moderação. Seu estilo agressivo, sua adesão incondicional à retórica de desconfiança institucional e sua participação ativa na fabricação de mentiras digitais fizeram dela uma espécie de símbolo do bolsonarismo radical. Agora, diante das grades simbólicas e literais de sua condenação, sua figura serve também como alerta: há um limite legal e ético que, quando ultrapassado, exige resposta firme do Estado.

A democracia brasileira, ainda marcada pelas feridas do 8 de janeiro e pelos fantasmas do autoritarismo, assiste a este desfecho com uma lição clara. Quando o extremismo ganha espaço, os riscos à estabilidade institucional se tornam reais e imediatos. E quando esses riscos são concretizados por aqueles que juraram defender a Constituição, o Judiciário deve ser firme em restaurar o equilíbrio perdido.

#CarlaZambelli #STF #WalterDelgatti #ConselhoNacionalDeJustiça #Eleições2022 #DemocraciaEmRisco #AlexandreDeMoraes #InvasãoDigital #CrimesPolíticos #RadicalismoPolítico #8DeJaneiro #FakeNews

Suas preferências de cookies

Usamos cookies para otimizar nosso site e coletar estatísticas de uso.