O clima no Corinthians virou do vinho para a água em menos de um mês. Após comemorar o título do Campeonato Paulista em cima do arquirrival Palmeiras, o técnico Ramón Díaz foi demitido do cargo nesta quinta-feira, 17 de abril, em decisão conjunta entre o presidente Augusto Melo e o diretor de futebol Fabinho Soldado. A queda do argentino escancara a turbulência que toma conta do Parque São Jorge e dá início a uma nova fase de incertezas dentro e fora de campo.
A gota d’água foi a sequência de maus resultados logo após a conquista estadual. Desde o título, o Corinthians disputou seis partidas e venceu apenas uma. Foram tropeços na Copa Sul-Americana e uma campanha irregular nas primeiras rodadas do Brasileirão, onde o clube ocupa a modesta 13ª colocação. Além disso, cresceu a pressão por um futebol mais convincente, que não apareceu nem mesmo nos bons momentos do time no campeonato paulista.
A demissão também veio após um episódio que pegou mal internamente: o atacante holandês Memphis Depay, principal reforço do clube na temporada, fez críticas públicas ao esquema tático de Ramón Díaz e à falta de organização da equipe dentro de campo. O desabafo do astro caiu como uma bomba entre os dirigentes, que já discutiam nos bastidores se o treinador argentino ainda tinha o grupo nas mãos.
Ramón Díaz deixa o Corinthians após 59 partidas, com um aproveitamento de 59,8%. Foram 30 vitórias, 16 empates e 13 derrotas. Apesar dos bons números, a eliminação precoce na fase preliminar da Libertadores pesou muito, especialmente porque a diretoria considerava o torneio a prioridade do ano. A queda nas semifinais da Copa do Brasil e da Sul-Americana em 2024 também deixaram cicatrizes.
O clube soltou uma nota oficial agradecendo Ramón e sua comissão, que também incluía Emiliano Díaz (seu filho e auxiliar), Bruno Urribarri, Osmar Ferreyra e o preparador físico Diego Pereira. Eles chegaram ao clube em julho do ano passado e foram os responsáveis pela arrancada histórica no Brasileirão de 2024, com nove vitórias consecutivas, que salvaram o Timão do rebaixamento.
Com a saída, a diretoria corre contra o tempo para definir um novo comandante. O nome mais forte é o de Dorival Júnior, que está livre no mercado desde que deixou o comando da Seleção Brasileira em março. Ele já foi procurado e é o favorito da cúpula alvinegra, principalmente por seu histórico vencedor e por ter bom relacionamento com o elenco e imprensa.
Outro nome que circula nos bastidores é o de Tite. Atualmente no Flamengo, o treinador tem uma relação histórica com o Corinthians, onde foi campeão da Libertadores e do Mundial de Clubes em 2012, além de conquistas nacionais. No entanto, a situação de Tite é mais complicada, já que ele está empregado e com respaldo na Gávea. Mesmo assim, parte da torcida sonha com um retorno do técnico que é tratado como ídolo.
Enquanto o novo técnico não é anunciado, o time será comandado interinamente por Orlando Ribeiro, técnico do sub-20, que já tem histórico recente de apagar incêndios no clube. Ele assume os treinos nesta sexta-feira e pode até ficar à frente da equipe nos próximos compromissos, caso a definição do novo comandante demore mais alguns dias.
A crise no Corinthians vai além das quatro linhas. Internamente, há desconfiança em relação à gestão de Augusto Melo, que enfrenta dificuldades para manter o ambiente sob controle. A pressão da torcida aumenta a cada revés, e os protestos devem crescer se o desempenho do time continuar em queda.
No meio desse turbilhão, o torcedor do Timão vê um cenário conhecido se repetir: promessas de reconstrução, expectativas elevadas, e mais uma vez, uma troca de comando que traz mais dúvidas do que certezas. O que parecia ser um ano promissor, com reforços e título estadual, agora se transforma em mais uma temporada de incertezas no Parque São Jorge.
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