Campo Grande – Criada com a promessa de investigar a fundo o funcionamento do Consórcio Guaicurus e apontar soluções concretas para os crônicos problemas do transporte público em Campo Grande, a CPI instaurada na Câmara Municipal parece estar se esvaziando antes mesmo de apresentar qualquer resultado concreto à população. Após semanas de atividades, a Comissão já acumula mais de R$ 100 mil em despesas com contratações de escritórios de advocacia e contabilidade, mas até agora entregou pouco além de discursos vagos e adiamentos.
O mais recente capítulo da CPI foi a decisão de não convocar, ao menos por ora, o empresário Paulo Constantino, sócio majoritário do Consórcio Guaicurus e figura central para a elucidação dos principais questionamentos sobre a gestão do transporte coletivo da capital. Embora já tenha sido formalmente convocado para prestar depoimento, Constantino entregou um atestado oftalmológico e não compareceu à oitiva marcada para o dia 18 de junho. Mesmo assim, a Comissão optou por não insistir em sua convocação, alegando, segundo o presidente Lívio Leite (União), que “não vê nesse momento a importância dessa oitiva”.
Esforço técnico ou maquiagem política?
Enquanto minimiza a ausência de uma das figuras mais relevantes da investigação, a CPI avança em processos de contratação de apoio técnico. Foram firmados contratos com escritórios jurídico e contábil para auxiliar na análise documental e elaboração do relatório final. O valor dos contratos, segundo o vereador Epaminondas Neto, o Papy (PSDB), ultrapassa R$ 100 mil. “É um pagamento só, um único trabalho”, afirmou o parlamentar, tentando justificar os gastos expressivos.
O presidente Lívio Leite também afirmou que a relatora Ana Portela (PL) terá suporte técnico para lidar com os “milhares de páginas” que compõem os autos da comissão. No entanto, o discurso contrasta com a ausência de medidas práticas visíveis que impactem diretamente a vida dos usuários do sistema de transporte, que há anos enfrentam ônibus lotados, frota sucateada e falta de climatização.
Relatório robusto, resultados escassos
A CPI ainda não apresentou nenhum relatório parcial, tampouco revelou informações novas que não fossem de domínio público. Questionado sobre os resultados práticos das investigações até o momento, Lívio Leite foi taxativo: “Talvez a população não sinta nesse momento o resultado prático dessa CPI”. Em outra declaração, o vereador se disse satisfeito pelo fato de a fiscalização sobre o Consórcio ter aumentado desde o início da CPI. “As multas aumentaram. Isso já é um ganho prático”, afirmou, sem, no entanto, indicar qualquer mudança perceptível nos serviços oferecidos à população.
A declaração soa insuficiente diante do volume de denúncias, reclamações e a notória precariedade do sistema de transporte urbano em Campo Grande. Além disso, o vereador justificou a não convocação de Paulo Constantino afirmando que “quanto maior é o cargo do profissional, menos ele entende dos detalhes mais específicos que muitas vezes nos interessa”, o que sugere um certo desinteresse da Comissão em escutar diretamente quem ocupa o topo da cadeia decisória do Consórcio Guaicurus.
O silêncio que custa caro
A relutância da Comissão em confrontar diretamente o empresariado, aliada ao discurso de que as melhorias virão “no futuro”, reforça a impressão de que a CPI nasceu do nada e caminha para lugar nenhum. A alegação de que a população “só vai entender esse resultado de maneira efetiva quando a gente apresentar um relatório robusto” parece uma forma de adiar o que deveria ser uma prestação de contas constante com a sociedade.
Enquanto isso, a realidade do transporte público continua a castigar os trabalhadores da cidade. As promessas de renovação da frota, instalação de ar-condicionado e melhoria no atendimento seguem sem sair do papel. A falta de resultados concretos e a postura complacente frente ao Consórcio colocam em xeque a própria legitimidade da CPI, que pode terminar sem cumprir sua missão principal: esclarecer os gargalos do sistema e cobrar providências urgentes.
A situação revela não apenas o fracasso de uma Comissão Parlamentar, mas a crise de representatividade que atinge o poder legislativo municipal. Ao investir recursos públicos e não oferecer respostas efetivas, a CPI do Consórcio Guaicurus se transforma em mais um símbolo da distância entre os gabinetes do poder e a realidade da população que depende do transporte coletivo para trabalhar, estudar e viver.
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