A tensão entre China e Estados Unidos ganhou mais um capítulo de peso nesta semana, e quem entrou no meio do fogo cruzado foi ninguém menos que a gigante americana Boeing. O governo chinês decidiu proibir que suas companhias aéreas façam novas compras de aviões da fabricante dos Estados Unidos, numa resposta direta ao aumento de tarifas comerciais anunciado recentemente pelo ex-presidente Donald Trump.
A decisão não para por aí. Além da suspensão das encomendas de novas aeronaves, Pequim também ordenou que sejam interrompidas as aquisições de equipamentos e peças ligadas à aviação, provenientes de empresas americanas. A medida, segundo fontes ligadas ao governo chinês e que conversaram com a agência Bloomberg, foi tomada logo após a China anunciar uma tarifa de retaliação de 125% sobre produtos dos EUA, uma resposta ao novo pacote tarifário de Trump, que elevou a taxação de produtos chineses para impressionantes 145%.
Boeing sente o baque e ações desabam
A reação do mercado financeiro foi rápida. As ações da Boeing caíram até 4,6% no pré-mercado, refletindo o temor dos investidores diante da escalada da crise. A empresa já acumulava uma queda de 10% no valor de suas ações neste ano e agora vê um de seus maiores mercados se fechar de forma abrupta, agravando ainda mais a situação.
A China, que responde por cerca de 20% da demanda global por aeronaves, é vista como essencial para o futuro da Boeing. Em 2018, cerca de um quarto de toda a produção da empresa foi destinada ao mercado chinês. Porém, desde então, as encomendas chinesas praticamente sumiram, pressionadas por disputas políticas, comerciais e recentes problemas de qualidade enfrentados pela fabricante americana.
Aviões parados e entregas congeladas
Cerca de dez jatos Boeing 737 Max estão praticamente prontos para entrar nas frotas de companhias aéreas chinesas como China Southern Airlines, Air China e Xiamen Airlines. Parte desses aviões está armazenada nos Estados Unidos, perto da fábrica da Boeing em Seattle. Outros já se encontram na China, no centro de finalização de Zhoushan.
Porém, com as novas tarifas e restrições, a entrada dessas aeronaves em operação ainda é uma incerteza. Algumas entregas podem até ocorrer, caso os trâmites burocráticos e os pagamentos tenham sido concluídos antes do dia 11 de abril, quando as tarifas entraram em vigor. Mesmo assim, cada caso será analisado individualmente.
Além disso, há relatos de companhias como a Juneyao Airlines adiando a entrega de modelos como o Boeing 787-9 Dreamliner, o que reforça o impacto das decisões políticas sobre os negócios da fabricante americana.
Conflito afeta manutenção e peças de reposição
Outro ponto delicado é a manutenção das centenas de aeronaves da Boeing que já operam nas companhias aéreas chinesas. Embora a Airbus e o novo avião chinês Comac C919 venham ganhando espaço, a frota atual da Boeing na China ainda é grande. Com a proibição de compra de peças e componentes, as operações dessas aeronaves podem enfrentar dificuldades sérias nos próximos meses.
O governo chinês estuda formas de apoiar financeiramente as companhias aéreas que arrendam jatos da Boeing, já que o custo para manter esses aviões pode subir bastante devido às novas tarifas. Isso inclui desde substituição de peças até serviços de manutenção e logística.
Conflito político e comercial sem previsão de trégua
Essa nova rodada de medidas mostra que a guerra comercial entre China e Estados Unidos está longe de chegar ao fim. A tentativa de Trump em reduzir o déficit comercial americano, com tarifas pesadas sobre produtos chineses, vem recebendo respostas duras do lado asiático. Agora, a aviação civil, um dos setores mais estratégicos e sensíveis da economia global, também entra na mira.
O cenário se agrava ainda mais porque a Boeing já vinha de um período turbulento. Desde os acidentes envolvendo o modelo 737 Max em 2019, a confiança no produto foi abalada. Em 2024, a empresa enfrentou novo desgaste após um tampão de porta se soltar durante um voo. Tudo isso fez com que a China, que foi o primeiro país a suspender o uso do 737 Max, olhasse com mais atenção para alternativas como a Airbus e o projeto nacional da Comac.
Caminhos incertos para a aviação mundial
O impacto dessas medidas vai muito além das fronteiras chinesas ou americanas. O setor de aviação, que ainda está se recuperando das dificuldades impostas pela pandemia, agora enfrenta um novo desafio. A escalada comercial pode afetar não só as entregas de novas aeronaves, mas também toda a cadeia global de suprimentos, que já opera com fragilidade desde 2020.
Para a Boeing, o momento exige cautela e estratégias inteligentes para não perder espaço em um mercado essencial. Já para a China, a medida reforça seu desejo de reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros e fortalecer sua indústria aeroespacial.
Enquanto isso, as companhias aéreas e os passageiros assistem de camarote a uma disputa de gigantes, torcendo para que a turbulência geopolítica não afete ainda mais os céus por onde todos precisamos voar.
#CriseNaAviação #Boeing #ChinaVsEUA #GuerraComercial #DonaldTrump #AviaçãoMundial #MercadoAéreo #AirlinesNews #GeopolíticaGlobal #AviaçãoComercial #TarifasDeImportação #ComércioInternacional