O Programa Mulher Segura (Promuse), da Polícia Militar, que deveria ser um exemplo de acolhimento e proteção para mulheres em situação de violência doméstica, foi abalado por um desabafo que expôs as falhas críticas no sistema de proteção. O estopim para a crise foi uma publicação de uma policial em suas redes sociais, relatando sua própria experiência de vulnerabilidade dentro da corporação, após ser vítima de violência por seu ex-marido, também policial. Esse desabafo desencadeou não apenas uma reflexão nacional sobre as falhas no atendimento a mulheres em risco, mas também represálias que culminaram na remoção de metade da equipe do Promuse, incluindo a policial que teve coragem de expor a dura realidade.
A policial, cuja identidade foi preservada por motivos de segurança, compartilhou em uma rede social o sofrimento pessoal e a falta de apoio que enfrentou dentro da própria instituição enquanto trabalhava para proteger outras mulheres. Em seu relato, a policial destacou que, além de ser vítima de violência doméstica e contar com uma medida protetiva contra seu ex-marido, também policial, ela precisou de um apoio financeiro para continuar a trabalhar sem voltar ao ciclo de violência. Porém, em vez de apoio, ela foi retirada de sua escala e deixada sem recursos financeiros. A publicação, que gerou grande repercussão nas redes sociais, foi uma crítica direta ao sistema de acolhimento dentro da própria PM, que deveria ser modelo de proteção, mas falha gravemente em muitas situações.
Faltam Recursos, Falta Apoio
A policial relatou que, dentro da PM, ela nunca foi devidamente acolhida e, por mais que trabalhasse com excelência, não havia suporte para o trabalho que realizava no acompanhamento e resgate de vítimas de violência doméstica. Durante a sua trajetória no Promuse, ela salvou vidas, como a de uma mulher em cárcere privado que, graças à ação rápida da equipe, foi resgatada antes de sofrer algo ainda pior. No entanto, a falta de recursos, a precariedade das viaturas e a sobrecarga de trabalho se somam às falhas do sistema.
Em Mato Grosso do Sul, o estado tem mais de 1,4 mil medidas protetivas ativas, e apenas duas policiais, incluindo a que fez o desabafo, eram responsáveis pelo acompanhamento dessas vítimas. A ausência de uma estrutura mais robusta para lidar com a violência doméstica e a falta de planejamento estratégico da PM em relação a essa questão são apontadas pelas próprias policiais como responsáveis pelo desgaste e pela falta de eficiência no sistema de proteção.
A Representatividade do Sistema de Proteção à Mulher em Perigo
O Promuse, que tinha um papel crucial na proteção das mulheres, foi impactado negativamente pelas remoções. A equipe do programa já enfrentava dificuldades por conta do baixo efetivo, e a mudança repentina e a remoção de quase metade da equipe, incluindo a policial que fez a denúncia, só intensificaram a sensação de impotência e frustração. A situação se agravou quando o caso da jornalista Vanessa Ricarte foi divulgado. A jornalista, que foi assassinada pelo ex-noivo, após sair da Casa da Mulher Brasileira com uma medida protetiva, tornou-se o símbolo de uma falha ainda maior no sistema de atendimento às mulheres vítimas de violência.
As policiais envolvidas no Promuse afirmam que faziam o trabalho com dedicação e que evitavam muitas tragédias. “As mulheres passaram a ligar diretamente para o Promuse, muitas não procuravam mais a Casa da Mulher Brasileira, pois se sentiam mais seguras com a nossa abordagem direta”, contou uma das policiais, ressaltando o impacto positivo do programa, mesmo diante de todas as dificuldades.
O Preço da Verdade: Representações e Repressões
O desabafo que expôs a realidade do sistema de proteção à mulher foi a gota d’água para a PM. A remoção da policial, junto a outros três colegas, foi justificada como uma reestruturação interna, mas muitos enxergam essa mudança como uma forma de retaliação por ela ter exposto falhas e feito críticas ao sistema de acolhimento. A situação foi ainda mais delicada por conta das doenças autoimunes de uma das policiais, que alegou precisar de tratamento, e o fato de que, mesmo com todo o esforço, elas não conseguiram números concretos para apresentar ao comando, algo exigido pela corporação.
Em uma tentativa de justificar a ação, a PM apontou que a equipe não estava alcançando os resultados esperados. Mas as próprias policiais se defendem, afirmando que o baixo efetivo e a sobrecarga de trabalho foram as causas principais para que o sistema não fosse mais eficiente. Elas também criticam a estrutura da Casa da Mulher Brasileira e a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), onde frequentemente as vítimas não encontram a atenção necessária.
Conclusão: O Sistema de Proteção à Mulher Sob Risco de Colapso
O caso de Vanessa Ricarte e os desabafos das policiais do Promuse revelam a fragilidade do sistema de proteção à mulher no Brasil. Falhas de comunicação, falta de recursos e a sobrecarga de trabalho são apenas alguns dos problemas enfrentados por quem está na linha de frente. A falta de apoio e o desmonte das equipes especializadas não são apenas uma falha administrativa, mas uma falha social, que coloca em risco a vida de milhares de mulheres vítimas de violência doméstica.
A sociedade precisa refletir sobre a situação. As mulheres vítimas de violência não podem ser tratadas como casos isolados ou números em planilhas. Elas precisam de apoio, acolhimento e, acima de tudo, respeito. O desabafo da policial, longe de ser uma simples crítica, deveria ser um chamado à ação. Precisamos de mais estrutura, mais proteção e mais verdade.
#MulherSegura #ViolênciaDoméstica #PolíciaMilitar #ProteçãoÀMulher #ProgramaMulherSegura #ViolênciaContraMulher #JustiçaSocial #DireitosDasMulheres #ApoioÀMulher #CasaDaMulherBrasileira #SistemaDeProteção #DenúnciaEJustiça