Foi em um instante de exposição virtual que a dançarina e backing vocal Bianca Alencar, integrante da equipe da renomada dupla sertaneja Zezé Di Camargo & Luciano, viu-se no centro de uma intensa polêmica nacional. Durante passagem pela cidade de Floresta, no sertão de Pernambuco, a artista publicou em suas redes sociais um vídeo que rapidamente reverberou negativamente pelo país: ao comentar o almoço típico servido no local, Bianca afirmou que o prato “parecia lavagem”, em referência ao arroz mexido, iguaria tradicional da culinária nordestina.
A publicação, feita nos stories do Instagram, parecia tratar de um momento informal da rotina de estrada de Bianca, mas acabou gerando uma onda de indignação nas redes sociais. A fala foi amplamente entendida como ofensiva, carregada de desprezo e desinformação sobre uma das manifestações mais marcantes da cultura alimentar do Brasil. O arroz mexido, base de inúmeras receitas do sertão, reúne ingredientes simples e saborosos, muitas vezes preparados com criatividade diante da escassez de recursos uma verdadeira representação da resistência e da identidade nordestina.
Internautas, ativistas, influenciadores e até artistas se posicionaram de forma contundente contra o que chamaram de “xenofobia disfarçada de opinião pessoal”. O termo “xenofobia” normalmente associado ao preconceito contra estrangeiros vem sendo usado com frequência crescente para denunciar discriminações internas no Brasil, especialmente dirigidas às populações do Norte e Nordeste, cujas tradições, sotaques e hábitos ainda são alvos de estigmas e ridicularizações.
Diante da avalanche de críticas, Bianca Alencar tentou se retratar com um novo vídeo. Nele, afirmou que não teve a intenção de desmerecer a cultura local e que seu comentário referia-se apenas a “perrengues de estrada”. Disse também ser descendente de nordestinos, tentando se aproximar do público afetado pela sua fala. A tentativa de reparação, no entanto, não surtiu o efeito esperado. Muitos viram no pedido de desculpas uma justificativa superficial e um desvio de responsabilidade.
O episódio reacende uma discussão urgente e incômoda: o preconceito regional que se infiltra nas atitudes cotidianas e, muitas vezes, se manifesta em comentários considerados banais. Em tempos de exposição constante, como o proporcionado pelas redes sociais, tais manifestações ganham repercussão imediata e escancaram questões históricas de exclusão cultural.
A cidade de Floresta, onde o fato ocorreu, é um símbolo da culinária sertaneja. Entre suas tradições estão pratos como a galinha guisada, o baião-de-dois e o próprio arroz mexido todos preparados com ingredientes típicos, como carne de sol, queijo coalho e farinha de mandioca. Longe de serem “lavagem”, essas receitas representam séculos de herança culinária e saber popular.
O silêncio da equipe de Zezé Di Camargo & Luciano, que até o momento não emitiu posicionamento oficial, também tem sido criticado. Muitos fãs da dupla, especialmente do Nordeste, aguardam uma manifestação clara em defesa da diversidade cultural e do respeito à pluralidade de públicos que acompanham o trabalho artístico.
Além do caso específico, o episódio de Bianca Alencar insere-se em um contexto mais amplo de crescimento dos discursos de ódio e intolerância no país. Segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, os casos de xenofobia interna registrados nas redes sociais cresceram mais de 250% no último ano. A maior parte das denúncias parte de pessoas nordestinas que se sentem discriminadas por seu modo de falar, seus costumes ou sua comida.
O debate sobre respeito cultural não é novo, mas permanece urgente. Em uma nação de dimensões continentais como o Brasil, reconhecer e valorizar as múltiplas identidades regionais é um passo fundamental para a construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e orgulhosa de suas raízes.
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