A trajetória política da deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP) entrou em uma nova e dramática fase nesta semana, com a inclusão de seu nome na lista de difusão vermelha da Interpol e o reconhecimento oficial de que a parlamentar deixou o território brasileiro para escapar da execução de uma ordem de prisão preventiva expedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O caso, que há meses se desenhava em meio a investigações e controvérsias políticas, agora assume contornos internacionais e promete ampliar o debate sobre responsabilidade política, uso indevido de sistemas públicos e os limites da imunidade parlamentar.
A decisão de incluir Zambelli na lista da Interpol, mecanismo que autoriza a prisão de procurados em qualquer país signatário, foi tomada após a Primeira Turma do STF manter a condenação da deputada a 10 anos e 8 meses de prisão em regime fechado, além da perda de seu mandato na Câmara dos Deputados. A pena, aplicada por unanimidade, é resultado das investigações que comprovaram a participação direta da parlamentar na invasão do sistema eletrônico do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em um episódio que marcou negativamente a atuação de membros bolsonaristas no ambiente digital de instituições do Judiciário.
A operação, realizada em parceria com aliados políticos e com apoio de um hacker identificado como Walter Delgatti Neto, comprometeu a segurança de dados do CNJ e violou normas fundamentais de sigilo, confiabilidade e integridade dos sistemas da Justiça brasileira. O ataque cibernético foi classificado pelo STF como um atentado institucional, o que contribuiu para a gravidade da pena aplicada.
Em entrevista concedida por meio de um canal do YouTube, Zambelli confirmou que havia deixado o Brasil dias antes da oficialização da ordem de prisão. Alegou que a viagem visava a realização de um tratamento de saúde, que já vinha sendo conduzido em outro país. Não informou publicamente qual cidade ou clínica seria o destino, mas, segundo apurações da Polícia Federal, ela se deslocou para a Itália, país com o qual o Brasil mantém acordo de extradição.
“Já faz alguns dias. A princípio, buscando um tratamento médico, é um tratamento que eu já fazia aqui”, declarou, evitando maiores detalhes. Pouco depois, anunciou que pediria formalmente o afastamento de suas funções legislativas. A licença foi oficializada no último dia 5 de junho, com validade de 120 dias, aprovada pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.
A evasão da deputada provocou reações imediatas no meio político e jurídico. Com a inclusão de seu nome na lista da Interpol, Zambelli agora é considerada foragida da Justiça brasileira. A difusão vermelha é o grau mais elevado de alerta da organização internacional de polícia, permitindo a prisão imediata da pessoa listada, mesmo sem que haja mandado de captura local, desde que o país onde ela se encontra reconheça os termos do tratado de cooperação.
Frente à repercussão do caso, a própria parlamentar divulgou nota em que afirmou estar disposta a se apresentar às autoridades italianas. Justificou a decisão como forma de demonstrar “boa-fé” e “respeito às leis”, embora tenha reafirmado que considera injusta a decisão proferida por Alexandre de Moraes. “Eu respeito as leis brasileiras, mas não aceito ser vítima de uma perseguição política travestida de legalidade”, afirmou.
A declaração de Zambelli, no entanto, não convenceu representantes do Ministério Público e tampouco analistas jurídicos. Segundo procuradores, sua saída do país antes da formalização da ordem de prisão demonstra premeditação e fuga, o que poderá pesar contra ela no processo de extradição.
A decisão sobre seu retorno compulsório ao Brasil dependerá agora das autoridades italianas, que devem analisar o pedido de extradição apresentado pelo governo brasileiro. O processo envolve diversos fatores, incluindo o reconhecimento da legitimidade da condenação, o cumprimento das normas processuais internacionais e o exame sobre eventual concessão de asilo, hipótese já aventada nos bastidores por aliados da deputada.
No cenário político, a condenação de Zambelli é simbólica por envolver uma das mais combativas representantes do bolsonarismo no Congresso Nacional. Desde seu ingresso na vida pública, após a eleição de 2018, a deputada ganhou notoriedade por sua atuação nas redes sociais, apoio fervoroso ao ex-presidente Jair Bolsonaro e discurso agressivo contra instituições como o Supremo Tribunal Federal e o Ministério Público. A proximidade com grupos ideologicamente radicais e o uso recorrente de desinformação também foram marcas de sua trajetória.
Agora, com a fuga confirmada e seu nome em uma lista internacional de procurados, Carla Zambelli se transforma no centro de uma crise político-jurídica sem precedentes. O caso deve gerar repercussões também na Câmara dos Deputados, que poderá ser convocada a decidir sobre a cassação de seu mandato, enquanto aguarda os desdobramentos do processo de extradição e o eventual cumprimento da pena.
O episódio também reacende o debate sobre os limites da liberdade de expressão, o uso das redes sociais para fins políticos e a crescente atuação de parlamentares em ações que extrapolam a atividade legislativa, ameaçando instituições democráticas. Para muitos analistas, o caso Zambelli é um divisor de águas na relação entre o Poder Legislativo e o Judiciário e na responsabilização de figuras públicas por crimes cometidos sob o manto da imunidade parlamentar.
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