O Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado neste 5 de junho, deveria ser uma ocasião de comemoração pelos avanços na proteção da natureza e pelo equilíbrio entre o homem e os ecossistemas. No entanto, o cenário atual é de profunda preocupação, um verdadeiro chamado de socorro emitido pela própria Terra, cuja voz ecoa em cada queimadura da floresta, em cada enchente devastadora, em cada centímetro de gelo que se derrete, em cada animal que desaparece silenciosamente.
No Brasil, a Amazônia arde com queimadas incontroláveis, provocadas pela expansão desenfreada de atividades econômicas que ignoram os limites naturais. O bioma, essencial para o equilíbrio climático global e para a regulação das chuvas, agoniza diante da leniência das autoridades e da impunidade que impera nos rincões onde a floresta vira pasto e a biodiversidade dá lugar ao monocultivo.
No Sul do país, o cenário é igualmente trágico, com enchentes históricas que arrastam cidades inteiras, desabrigam milhares de famílias e provocam perdas humanas e materiais incalculáveis. O Brasil Central enfrenta a antítese desse drama: uma seca prolongada, que assola lavouras, esvazia reservatórios e compromete o abastecimento de água, resultado direto do desequilíbrio climático e da degradação dos ecossistemas naturais.
Além-fronteiras, a Europa também sofre com eventos extremos. Chuvas torrenciais provocam enchentes em países antes pouco habituados a esse tipo de desastre, enquanto ondas de calor elevam as temperaturas a patamares perigosos, com consequências diretas para a saúde humana, a segurança alimentar e a economia global.
As geleiras dos polos derretem a uma velocidade inédita, elevando o nível dos oceanos e ameaçando a existência de cidades costeiras e ilhas inteiras. O Pantanal sul-mato-grossense, que outrora ostentava a exuberância de uma das maiores áreas alagadas do mundo, vive seus dias contados, sucumbindo à seca, às queimadas e ao avanço implacável do agronegócio.
Exemplo pungente desse avanço desmedido é a degradação da Mata Atlântica, um dos biomas mais ricos em biodiversidade, mas que hoje resiste fragmentado e pressionado pelo desmatamento que não cessa. Nem mesmo os paraísos cristalinos escapam: a água outrora translúcida do Rio da Prata, no Mato Grosso do Sul, hoje se apresenta turva, assinalando o impacto direto das práticas agrícolas inadequadas, da erosão e do desmatamento das margens.
Todos esses sinais não são fenômenos isolados ou inevitáveis. São, antes, sintomas de um modelo de desenvolvimento que despreza os limites do planeta e trata a natureza como recurso infinito. A cada decisão omissa ou conivente, a humanidade cava um pouco mais o próprio abismo climático, empurrando as próximas gerações para um mundo cada vez mais hostil, desigual e insustentável.
Este editorial, neste Dia Mundial do Meio Ambiente, é um apelo claro e inegociável: é preciso que as autoridades, em todas as esferas de poder, despertem para a urgência do momento e compreendam que não há mais espaço para discursos vazios, compromissos protocolares ou promessas adiadas. É imprescindível a implantação imediata de leis rigorosas e eficazes que limitem o desmatamento, protejam os biomas remanescentes, incentivem práticas agrícolas sustentáveis e promovam a recuperação de áreas degradadas.
Os mecanismos de fiscalização e punição devem ser fortalecidos, garantindo que aqueles que atentam contra o meio ambiente sejam responsabilizados de forma exemplar. Além disso, políticas públicas que promovam a educação ambiental, a inovação em energias limpas e o consumo consciente precisam sair do papel e transformar-se em ações concretas e permanentes.
O planeta não pode mais esperar. A cada dia perdido, a crise se agrava, tornando mais difícil e custosa qualquer tentativa de reversão. Só será possível, de fato, comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente quando houver um compromisso global e inegociável com a preservação dos ecossistemas, a redução das emissões de gases de efeito estufa e a construção de uma economia verdadeiramente verde.
Que este 5 de junho não seja mais um dia marcado apenas por discursos simbólicos e celebrações superficiais, mas sim um marco de virada, um chamado à responsabilidade e à ação efetiva. O futuro da humanidade depende da escolha que fazemos hoje: ignorar os alertas ou mudar o rumo para salvar a única casa que temos.