O depoimento de uma testemunha sobre o assassinato do advogado Carlos Daniel Ferrreira Dias, em maio de 2022, não deixa dúvida de que o principal motivo do crime foi a rivalidade entre os bicheiros Bernardo Bello e Rogério de Andrade.
Segundo o depoimento, que consta ano relatório final da Polícia Civil sobre o caso, o advogado trabalhava para o presidente da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel, Flávio da Silva Santos, conhecido como Flávio Pepé. O patrono da agremiação é justamente o contraventor Rogério de Andrade, sobrinho do bicheiro Castor de Andrade, já morto.
Carlos Daniel defendia Marcelo de Magalhães, sócio da Z do Churrasco Indústria e Comércio de Alimentos LTDA , mais conhecida como “Zé Churrasco”, localizada na Penha, Zona Norte do Rio. Segundo investigação do Departamento-Geral de Combate à Corrupção ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD), da Subsecretaria de Inteligência (SSinte) da Secretaria de Estado de Polícia Civil e do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio (MPRJ), o estabelecimento era usado pelo grupo de Bello em seu esquema de lavagem de dinheiro da contravenção.
Outro sócio da “Zé Churrasco” era Allan Diego Magalhães Aguiar, ex-cunhado de Bello e braço financeiro de sua organização criminosa formada por, pelo menos, mais seis empresas, segundo os investigadores. Os valores das movimentações da empresa saltam os olhos, na análise feita pelos agentes da DGCOR-LD e Gaeco. Em apenas um ano, houve transações na ordem de R$ 22 milhões, um valor considerado acima para um estabelecimento desse porte.
As análises dos relatórios da Coaf, baseados nas movimentações bancárias da “Zé Churrasco” permitiram que a polícia e a promotoria percebessem que o real objetivo do grupo era ocultar a origem de dinheiro proveniente de atividades ilícitas oriundas da contravenção.
Motivação da morte do advogado
Com o relato da testemunha de que Carlos Daniel trabalhava para o presidente da Mocidade, cujo patrono é Rogério Andrade, a polícia fechou o ciclo da investigação sobre a execução do advogado. Carlos Daniel, por defender Marcelo de Magalhães, o aconselhou a fazer um registro na Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE), contra o sócio Allan Diego, que tinha expulsado Marcelo da sociedade da “Zé Churrasco”, com a ajuda de um bando armado. Marcello ainda entrou na Justiça contra Allan Diego. Por trás da manobra, havia o suposto interesse de Rogério de Andrade, na opinião dos investigadores, de prejudicar os negócios de Bello.
Após uma divergência, Allan Diego expulsou o sócio do negócio, com a ajuda de um bando armado. Marcello, então, decidiu entrar na Justiça e procurou apoio de Carlos Daniel como advogado. Após tentativas de conciliação frustradas, o advogado aconselhou o cliente a registrar uma ocorrência na Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE) para explicar o golpe sofrido por parte do sócio. Isso provocou irritação em Allan Diego, que relatou a Bello a exposição causada pelo ex-sócio aos negócios ilícitos do bando.
Segundo as investigações, inicialmente, a ordem do contraventor era para executar Magalhães. Ao tomar conhecimento que a orientação foi dada por Carlos Daniel, Allan Diego e Magalhães voltaram a se entender e, segundo a polícia, o contraventor decidiu que a vítima seria o advogado. Após ser monitorados por oito dias, o carro blindado de Carlos Daniel foi atacado numa emboscada, quando estava parado num sinal.
O atirador aproveitou uma pequena brecha do vidro do carona aberto para atirar, executando a vítima. A polícia e o Gaeco apontaram Rodrigo Palomé da Silva como autor dos disparos e Isaquiel Geovani Fraga, responsável por pilotar a moto usada na abordagem. Marcelo Sarmento Mendes, vulgo Repolhão, foi acusado de coordenar a execução. Como Bello, este último também está foragido.