A especulação sobre a possibilidade de o ex-presidente Donald Trump anunciar, ainda durante a campanha presidencial, o nome de seu indicado para assumir o comando do Federal Reserve vem provocando fortes reações nos mercados globais. O dólar, que já sofria pressões diante da expectativa de afrouxamento monetário nos Estados Unidos, despencou após a notícia veiculada pelo jornal Wall Street Journal, segundo a qual Trump pode indicar o sucessor de Jerome Powell entre os meses de setembro e outubro, meses antes do fim oficial do mandato atual, previsto para maio de 2026.
A reação dos mercados não tardou. O índice da Bloomberg, que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de moedas internacionais, registrou queda de 0,2%, alcançando o nível mais baixo desde abril de 2022. Com isso, acumula desvalorização superior a 8% em 2025. A crescente percepção de que o próximo presidente do Fed poderá adotar uma linha mais branda na política monetária em sintonia com as pressões de Trump por cortes de juros — alimenta o cenário de fragilidade da moeda americana no curto prazo.
As apostas sobre cortes nas taxas de juros já vinham se fortalecendo nas últimas semanas, mas agora ganham novo fôlego. Dados de swaps indexados à taxa overnight indicam que operadores do mercado financeiro já precificam 66 pontos-base de afrouxamento monetário até o final do ano, contra os 51 pontos registrados até a sexta-feira anterior ao rumor. A expectativa majoritária é de que o primeiro corte possa ocorrer em setembro, mas há quem projete um cenário mais agressivo, com a possibilidade de uma redução ainda em julho.
Rodrigo Catril, estrategista do National Australia Bank, foi direto ao afirmar que a influência do atual presidente do Fed, Jerome Powell, pode começar a enfraquecer antes mesmo de sua saída formal. “A nomeação por Trump pode criar um presidente sombra do Fed, gerando ainda mais pressão para cortes”, avaliou. Segundo ele, essa antecipação aumenta a desconfiança sobre a autonomia do Federal Reserve, minando a previsibilidade que os mercados tanto valorizam.
A tensão política em torno da sucessão no banco central se soma a outras preocupações estruturais. A elevação do déficit fiscal dos Estados Unidos, os efeitos de novas tarifas comerciais e os riscos inflacionários persistem como pano de fundo. Diante disso, a perspectiva de uma transição no Fed potencialmente mais suscetível à influência do Executivo amplia as incertezas.
Ignatius Pang, chefe de vendas e execução de câmbio para a Ásia do Union Bancaire Privée, destaca que o dólar fraco pode ser visto como uma oportunidade por diversos países e instituições financeiras. “Muitos enxergam neste momento uma chance de diversificar reservas em moedas mais estáveis”, comentou.
A lista de possíveis nomes para assumir o comando do Fed inclui figuras que gozam de forte alinhamento com a visão econômica de Trump. Entre os cotados estão Kevin Warsh, ex-diretor do próprio Fed, e Kevin Hassett, atual conselheiro econômico de Trump. Ambos defendem políticas monetárias mais acomodatícias e são críticos do que consideram uma atuação excessivamente rígida de Powell no combate à inflação.
O cenário também foi analisado por Mark Cranfield, estrategista do Markets Live da Bloomberg, que resumiu o sentimento geral do mercado: “Se Trump de fato adiantar a nomeação, o entendimento será claro de que cortes antecipados estão no horizonte. A precificação de setembro como ponto de partida pode ser revista para julho.”
As críticas públicas de Trump ao atual presidente do Fed também ajudam a moldar esse novo ambiente de incerteza. O ex-presidente chegou a dizer que a manutenção dos juros altos vem encarecendo o custo de financiamento da dívida americana, o que dificultaria a execução de políticas públicas mais expansivas e comprometeria o crescimento da economia.
A perspectiva de uma mudança precoce no comando do Fed, ainda que informal, remete a episódios anteriores em que a politização das decisões monetárias provocou volatilidade global. Em um momento em que o mundo acompanha os desdobramentos da disputa eleitoral nos Estados Unidos com extrema atenção, o dólar volta a ocupar o centro das atenções desta vez como reflexo das incertezas que cercam o futuro da política monetária do país.
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