O dólar encerrou esta quinta-feira, 12 de junho, praticamente estável frente ao real, em um cenário de forças divergentes entre o ambiente internacional e a realidade fiscal doméstica. A moeda norte-americana à vista teve uma leve alta de 0,08%, cotada a R$ 5,5437. No acumulado do ano, a divisa ainda registra queda de 10,28%.
Apesar do otimismo que dominou os mercados globais com novos sinais de desaceleração inflacionária nos Estados Unidos e o consequente aumento das apostas em cortes de juros pelo Federal Reserve, o real não conseguiu acompanhar a mesma trajetória de valorização observada em outras moedas emergentes. O pano de fundo é a crescente preocupação com o quadro fiscal brasileiro, impulsionada pelas medidas anunciadas na véspera pelo governo federal.
Impacto internacional favorece o dólar mais fraco, mas Brasil freia alívio
No mercado internacional, o dólar caiu de forma significativa. O índice que mede seu desempenho frente a uma cesta de seis moedas principais recuou 0,75%, reflexo direto de dados inflacionários abaixo do esperado nos Estados Unidos. O índice de preços ao consumidor já havia surpreendido positivamente na quarta-feira, e nesta quinta o índice de preços ao produtor reforçou essa tendência, subindo apenas 0,1% em maio, contra expectativa de alta de 0,2%.
Com isso, operadores precificaram com 100% de certeza ao menos duas reduções de juros nos EUA ainda neste ano, com o primeiro corte sendo esperado já em setembro. A diminuição nas taxas dos Treasuries, os títulos da dívida americana, intensificou a busca por ativos de maior risco em países emergentes, favorecendo moedas como o peso mexicano e o rand sul-africano.
No entanto, o real destoou desse movimento de alívio, devido à turbulência fiscal em Brasília. A recente edição de uma medida provisória e de um novo decreto pelo governo federal gerou desconforto entre investidores e parlamentares. A iniciativa recalibra o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), eleva tributações sobre apostas e rendimentos isentos, e inclui medidas para conter gastos públicos. A percepção de improviso e a ausência de um plano mais amplo de ajuste estrutural ampliaram a cautela do mercado.
Incertezas internas e geopolítica mantêm pressão sobre ativos de risco
Outro fator que impediu o fortalecimento do real foi o recrudescimento das tensões geopolíticas no Oriente Médio. Informações sobre a retirada parcial de funcionários da embaixada dos Estados Unidos no Iraque e medidas de segurança reforçadas por militares norte-americanos na região elevaram o sentimento global de aversão ao risco. Bolsas de valores recuaram e ativos considerados seguros, como ouro e dólar, voltaram a ser demandados, contrariando parte do otimismo gerado pelos dados econômicos dos EUA.
Ainda no cenário externo, o acordo comercial firmado nesta semana entre Estados Unidos e China trouxe pouco alívio concreto. O compromisso de retomada da trégua tarifária foi visto com reservas por analistas e operadores, uma vez que temas sensíveis como os chips americanos e os minerais raros chineses seguem em impasse. “Existe uma percepção de que o resultado das negociações comerciais entre EUA e China em Londres foi bastante modesto”, comentou Leonel Mattos, analista da StoneX. “A fragilidade desse relacionamento continua sendo uma ameaça à estabilidade econômica global.”
Cotação atualizada e expectativa para os próximos dias
Na B3, às 17h11, o dólar para liquidação em julho — contrato mais negociado atualmente — recuava 0,03%, cotado a R$ 5,5565. Já o dólar turismo oscilava entre R$ 5,57 na compra e R$ 5,75 na venda, refletindo as margens praticadas pelo setor bancário e casas de câmbio.
Com a perspectiva de cortes de juros nos Estados Unidos cada vez mais consolidada, o ambiente externo tende a continuar favorável às moedas emergentes. No entanto, o real poderá seguir pressionado se o governo brasileiro não sinalizar um compromisso firme com o equilíbrio fiscal e com medidas estruturantes, capazes de gerar confiança no médio e longo prazo.
Analistas seguem atentos às próximas decisões do Congresso em relação à Medida Provisória publicada pelo governo e às reações do mercado financeiro nos próximos dias. Um alívio efetivo no câmbio dependerá de uma combinação de tranquilidade externa e responsabilidade interna.
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