Em um gesto que reacendeu as tensões econômicas no cenário internacional, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lançou neste domingo, 6 de julho, uma advertência contundente aos países que optarem por se alinhar ao Brics, bloco formado por onze nações que representam uma nova força emergente no equilíbrio geopolítico global. Através de sua conta na rede social Truth Social, o líder norte-americano anunciou que implementará uma tarifa adicional de 10% sobre produtos provenientes de qualquer país que adote, em suas palavras, “políticas antiamericanas em consonância com o Brics”.
A ameaça foi direta: “Qualquer país que se alinhe às políticas antiamericanas do Brics será taxado com tarifa extra de 10%. Não haverá exceções a essa política. Obrigado pela atenção em relação a essa questão”, escreveu Trump. A publicação foi feita justamente no mesmo dia em que os líderes do Brics divulgaram sua declaração oficial, em meio à cúpula realizada no Rio de Janeiro, reforçando sua oposição às práticas protecionistas e defendendo uma nova arquitetura econômica internacional mais inclusiva, equitativa e multilateral.
Uma nova ordem internacional em jogo
A cúpula do Brics, realizada sob o lema “Fortalecendo a cooperação do Sul Global para uma governança mais inclusiva e sustentável”, teve início com forte discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que destacou a necessidade de se reestruturar instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC). Lula criticou a concentração de poder nas mãos dos países ricos e defendeu o papel estratégico das nações em desenvolvimento na condução de uma nova ordem internacional baseada no diálogo, na justiça tributária e na inteligência artificial como bem público global.
A resposta de Trump veio como um contra-ataque direto às pretensões do bloco. A taxação de 10% visa não apenas dissuadir futuras adesões ao Brics, mas também sinalizar ao mercado que os Estados Unidos pretendem reestabelecer o unilateralismo comercial como regra. O movimento é encarado como um esforço para reverter o crescimento da influência geopolítica do Brics, que atualmente reúne Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Indonésia, Egito e Etiópia. Além dos membros permanentes, o bloco conta com dez países parceiros: Bielorrússia, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.
Impacto direto nas relações comerciais e diplomáticas
A ameaça de tarifa extra coloca em xeque as relações comerciais entre os Estados Unidos e países com forte participação no comércio global, como o Brasil e a Índia. Em 2024, o intercâmbio entre o Brasil e o Brics totalizou mais de 210 bilhões de dólares, sendo que o grupo respondeu por 36% de todas as exportações brasileiras. A eventual aplicação de tarifas adicionais por parte dos Estados Unidos, principal parceiro comercial das Américas, poderia forçar o Brasil a adotar estratégias de diversificação de mercados e buscar acordos bilaterais mais sólidos com outros países do bloco.
Especialistas em comércio internacional apontam que a medida poderá gerar uma reação em cadeia, com retaliações comerciais, adoção de políticas de substituição de importações e ampliação de acordos multilaterais fora da influência americana. “Essa postura de confronto tende a isolar os Estados Unidos num momento em que o mundo clama por cooperação, sobretudo frente a desafios globais como as mudanças climáticas, a desigualdade social e as novas tecnologias”, avaliou o analista econômico Fernando Amarante.
Brics reafirma compromisso com o multilateralismo
Na declaração oficial divulgada ao final da plenária, os líderes do Brics reiteraram seu compromisso com a reforma das instituições de governança global e com a promoção de um comércio internacional justo e transparente. O texto enfatiza o apoio ao sistema multilateral de comércio, com a OMC em seu núcleo, e destaca a importância de se respeitar o tratamento especial e diferenciado para países em desenvolvimento.
Além da pauta econômica, a cúpula também tratou de temas como paz e segurança, reforma da governança global, meio ambiente, inteligência artificial, saúde pública e conectividade digital. Lula propôs a criação de cabos submarinos ligando diretamente os países do bloco, para garantir soberania digital, segurança de dados e independência tecnológica.
A sombra do unilateralismo e os reflexos políticos
Esta não é a primeira vez que Donald Trump recorre à tática das tarifas para pressionar parceiros comerciais. Em seu primeiro mandato, entre 2017 e 2021, ele impôs sobretaxas sobre o aço e o alumínio e provocou uma guerra comercial com a China, que levou a consequências globais para o setor agrícola, industrial e de tecnologia. Agora, no retorno à presidência em janeiro deste ano, Trump retoma a estratégia de contenção econômica como forma de reafirmar o papel dominante dos Estados Unidos no comércio global.
A retórica agressiva adotada por Trump também é interpretada como uma tentativa de desviar o foco de questões internas e reforçar sua base eleitoral com discursos nacionalistas e protecionistas. Entretanto, analistas alertam que essa postura pode ter efeitos diplomáticos adversos, prejudicando negociações multilaterais e isolando os Estados Unidos em um mundo cada vez mais multipolar.
Desafio lançado e resistência em construção
Diante do ultimato de Trump, resta saber como cada país do Brics e seus parceiros irão reagir. A tendência, segundo diplomatas e observadores internacionais, é que o bloco fortaleça ainda mais seus laços internos, buscando autonomia comercial, energética, tecnológica e política. O futuro do comércio global, neste contexto, dependerá da capacidade das nações de equilibrar soberania, cooperação e estratégia.
Em um mundo onde os blocos regionais e alianças estratégicas ganham cada vez mais relevância, a ameaça tarifária americana pode acelerar a construção de uma nova arquitetura econômica. Uma em que o poder não esteja concentrado em uma única potência, mas compartilhado entre aqueles dispostos a dialogar, integrar e inovar.
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