Diante do acirramento das tensões no Oriente Médio, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, encontra-se mais uma vez no epicentro de uma decisão que pode redefinir os rumos da política externa americana: apoiar ou não uma ofensiva militar contra o Irã. Embora já tenha aprovado planos preliminares para atacar alvos estratégicos iranianos, segundo revelou a rede CBS, Trump ainda não comunicou uma decisão final, preferindo manter a retórica ambígua que tem caracterizado sua atuação diante de crises geopolíticas.
“Talvez eu faça isso, talvez não”, declarou Trump no dia 18 de junho, quando questionado se os EUA se juntariam a Israel nos ataques ao Irã. A resposta vaga, que muitos viram como uma tática política, expõe as divisões internas do Partido Republicano entre os defensores de uma política externa intervencionista e os que exigem o cumprimento da doutrina “America First”, defendida pelo próprio presidente em seus discursos eleitorais.
Nos bastidores, o adiamento da decisão estaria relacionado à possibilidade de que o Irã aceite desmantelar seu programa nuclear, hipótese considerada frágil por setores da inteligência americana. Ainda assim, a prudência de Trump reflete tanto os riscos de um confronto direto com Teerã quanto o receio de comprometer sua base eleitoral em um ano decisivo.
O líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, reagiu com veemência à possibilidade de intervenção americana. Em pronunciamento, alertou que os Estados Unidos sofreriam “danos irreparáveis” caso optassem pelo confronto. “A nação iraniana não se renderá”, afirmou, ao rejeitar categoricamente a exigência de rendição incondicional feita por Trump.
A postura do Irã reacendeu debates internos entre autoridades americanas. Tulsi Gabbard, diretora de Inteligência Nacional e ex-deputada democrata, declarou ao Congresso em março que, embora o nível de urânio enriquecido no Irã seja historicamente alto, não há provas concretas de que o país esteja, de fato, construindo uma arma nuclear. A declaração, vista como crítica velada à retórica de Trump, teria irritado profundamente o presidente, segundo o site Politico.
Gabbard, que também gravou um vídeo nas vésperas do início dos ataques israelenses ao Irã criticando “belicistas” e “elites políticas”, chegou a ser repreendida publicamente por Trump. No entanto, ela tentou amenizar o embate, dizendo estar “alinhada” com o presidente e que suas declarações haviam sido tiradas de contexto.
O impasse também se materializou no Congresso. O deputado republicano Thomas Massie, do Kentucky, juntou-se a democratas na apresentação de um projeto que busca impedir qualquer intervenção militar no Irã sem autorização formal do Legislativo. “Esta guerra não é nossa. Mesmo que fosse, o Congresso precisa decidir essas questões, como manda a Constituição”, afirmou Massie.
Enquanto isso, nomes influentes do campo conservador, como o ex-apresentador Tucker Carlson e o estrategista Steve Bannon, se posicionaram contra o envolvimento direto dos EUA no conflito. Carlson, crítico do que chama de “máquina de guerra” em Washington, chegou a confrontar duramente o senador Ted Cruz durante uma entrevista tensa sobre o tema, expondo a superficialidade de certos discursos pró-guerra entre os parlamentares.
Marjorie Taylor Greene, congressista e uma das mais leais aliadas de Trump, apoiou Carlson e lançou críticas aos republicanos que defendem a ofensiva. “Quem apoiar essa guerra não pode dizer que é America First”, declarou, numa rara discordância pública com o presidente.
No lado oposto, figuras como o senador Lindsey Graham pedem uma resposta militar contundente ao Irã. “É de interesse nacional impedir que o Irã desenvolva armas nucleares”, disse Graham. Já o senador Mitch McConnell minimizou as críticas isolacionistas, afirmando que “foi uma semana ruim para os que querem que os EUA virem as costas ao mundo”.
O vice-presidente J.D. Vance tentou adotar uma posição de equilíbrio, dizendo que a decisão caberá exclusivamente a Trump, mas reconhecendo as preocupações da população americana com novas guerras no exterior. “As pessoas têm razão em se preocupar com o envolvimento após 25 anos de erros na política externa”, ponderou.
As divisões no campo conservador se refletem nas redes sociais, onde apoiadores do ex-presidente expressam receio com os custos humanos e políticos de uma nova guerra no Oriente Médio. Pesquisas recentes, entretanto, mostram que uma ampla maioria dos eleitores republicanos apoiaria o envio de armas ofensivas a Israel para conter o avanço nuclear iraniano.
No entanto, o dilema persiste. Trump, que construiu sua trajetória política criticando “guerras estúpidas e sem fim”, sabe que um movimento precipitado pode custar-lhe apoio em setores-chave do eleitorado. Por outro lado, recuar diante das pressões pode ser interpretado como sinal de fraqueza por seus adversários, internos e externos.
Em setembro do ano passado, durante um comício, Trump afirmou que traria “rapidamente paz ao Oriente Médio” e restabeleceria a estabilidade internacional. Agora, essa promessa está em xeque. A pergunta que paira sobre Washington e sobre o mundo é se o presidente americano seguirá como o líder que rejeita as guerras ou se se tornará o comandante de mais um conflito devastador em solo estrangeiro.
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