Na contramão da realidade vivida pela maioria da população de Campo Grande, a prefeita Adriane Lopes (PP) e vereadores aliados conseguiram aprovar um projeto polêmico: o reajuste escalonado do próprio salário, que vai chegar a R$ 35.462,22 em 2027. O projeto ainda beneficia secretários, a vice-prefeita e servidores do alto escalão, elevando o impacto total para R$ 95 milhões por ano aos cofres da Prefeitura.
Tudo isso foi decidido em sessão única, com regime de urgência e validade retroativa a fevereiro, o que na prática já garante um primeiro aumento de R$ 5 mil no salário da prefeita, que passa de R$ 21 mil para quase R$ 27 mil ainda em 2024.
Para quem vive nos bairros, o aumento caiu como um tapa na cara.
“Lá no bairro Tiradentes, tem rua que vira lama quando chove e poeira quando seca. O posto de saúde vive sem médico e sem remédio. E aí vem essa história de aumento de salário? É revoltante”, desabafa Dona Zuleide, moradora da periferia.
Seu João, aposentado e morador do bairro Nova Lima, também não esconde a indignação. “Eles acham que a gente é burro. O povo mal consegue pagar a conta de luz e o gás, e a prefeita se dá esse presente. Campo Grande tá largada, mas o salário deles tá em dia.”
O aumento também gerou revolta entre os próprios servidores municipais, que apesar de serem citados como beneficiários, não receberam com entusiasmo a medida.
“Nos colocaram como escudo. Dizem que estão aumentando para nós, mas a verdade é que o teto da prefeita é só uma desculpa para engordar o bolso do alto escalão. Professor de escola pública tá com sala superlotada e salário defasado há anos. Ninguém consulta a base, só usam nosso nome”, afirma Luciana, professora da rede municipal.
Segundo o projeto aprovado, o salário da prefeita será reajustado de forma escalonada: em 2024 sobe para R$ 26.943,05; em 2026 vai para R$ 31.912,56 e atinge o valor final de R$ 35.462,22 em 2027. A vice-prefeita, Camila Nascimento, também terá aumento progressivo até chegar a R$ 31.915,80. Secretários e dirigentes de autarquias terão vencimentos de até R$ 30.142,70.
O impacto disso? Para este ano, serão R$ 32,8 milhões. Em 2026, salta para R$ 73 milhões. E em 2027, atinge os R$ 95 milhões. Tudo isso em nome de um “acordo arrojado”, como classificou o presidente da Câmara, vereador Epaminondas Vicente, o Papy (PSDB), durante coletiva ao lado da prefeita.
“É um problema difícil de resolver, mas a gente amadureceu esse acordo junto com o Judiciário e com as categorias. O povo não entende muito bem, mas é necessário”, disse o vereador.
Mas a maioria da população parece entender perfeitamente.
Com o transporte público sucateado, bairros com infraestrutura precária, salários baixos entre servidores da base e promessas não cumpridas, o projeto chega como mais um exemplo de prioridades invertidas por parte da administração municipal.
A secretária Márcia Helena Hokama, garantiu que o orçamento será ajustado para comportar os gastos e que a arrecadação também crescerá nos próximos anos. A justificativa técnica, porém, não convenceu quem enfrenta fila no posto, buraco nas ruas ou falta de vagas em creches.
Além disso, enquanto garante aumentos para o alto escalão, a prefeita vetou recentemente um projeto que previa R$ 8,7 milhões em emendas parlamentares para atender comunidades carentes. Segundo a justificativa, os repasses do Estado mudaram e agora são feitos via convênios.
A revolta entre os servidores da saúde também ecoa forte.
“Estamos há anos cobrando melhores condições de trabalho e salários justos. Agora vem essa manobra com discurso bonito, mas que só favorece quem já ganha muito. O servidor da linha de frente continua na espera”, relata um enfermeiro do Pronto Atendimento da região central, que preferiu não se identificar.
A cidade, mais uma vez, assiste de longe o poder se proteger e se premiar, enquanto falta verba para os serviços básicos. E o que poderia ser um passo para valorizar de verdade os servidores virou um jogo político que escancara o abismo entre quem governa e quem é governado.
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