O enredo envolvendo o ex-presidente da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul, Francisco Cezário de Oliveira, parece não ter fim. Após ser flagrado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) com R$ 800 mil em espécie escondidos em casa parte do montante encontrado debaixo de um colchão, o ex-dirigente agora afirma à Justiça que está financeiramente quebrado e que não tem condições de pagar sequer as custas processuais de sua defesa.
A alegação, no entanto, não veio acompanhada de provas. Em nova tentativa de levar sua causa ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), Cezário pediu a gratuidade de Justiça para isentar-se das despesas do processo. A justificativa apresentada por seu advogado particular o terceiro a assumir a defesa desde o início do escândalo — é de que o ex-presidente não possui recursos para arcar com os custos judiciais sem prejuízo do próprio sustento.
Entretanto, a ausência de qualquer documento que comprove essa situação chamou a atenção do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. O vice-presidente do TJMS, desembargador Fernando Mauro Moreira Marinho, assinou despacho exigindo que Cezário apresente, em até cinco dias, documentos capazes de demonstrar “veementemente a incapacidade de custear as despesas processuais”. Caso contrário, o pedido será indeferido sumariamente.
A exigência vem no contexto de uma série de ações judiciais iniciadas por Cezário desde que foi afastado da presidência da FFMS, em outubro de 2024. Desde então, ele vem tentando retomar o controle da entidade pela via judicial, acumulando derrotas. Mesmo assim, não se furta a manter uma equipe jurídica privada atuando em sua defesa, movimento que levanta questionamentos sobre sua real situação financeira.
A contradição é ainda mais flagrante quando se observa o histórico recente do dirigente. O Gaeco, responsável pela Operação Cartão Vermelho, já havia revelado indícios de que Cezário liderava uma organização criminosa infiltrada na cúpula da federação estadual de futebol. Segundo os investigadores, os desvios chegaram à marca de R$ 10 milhões. Desse total, pelo menos R$ 2 milhões teriam sido transferidos diretamente para contas de familiares do ex-presidente, todos com cargos ou influência na gestão da federação.
A petição mais recente da FFMS reforça essas acusações. A entidade anexou ao processo diversos trechos do inquérito criminal e reiterou que a destituição de Cezário se deu com base em “atos de gestão temerária e irregular”. Entre os exemplos apresentados estão a omissão deliberada de informações contábeis, a falsificação de carimbos de estabelecimentos comerciais e o uso indevido de recursos da federação, com beneficiamento direto de parentes.
A FFMS, em documento formal entregue à Justiça, destacou que a decisão de afastamento passou por criteriosa análise jurídica e foi comunicada a todos os filiados e diretores da entidade, inclusive ao próprio Cezário, que, como qualquer outro filiado, está sujeito ao estatuto e às normas internas da instituição. A gestão da federação classifica a postura do ex-presidente como “absolutamente incompatível com as boas práticas administrativas exigidas de quem ocupa cargo de direção”.
O ex-presidente, que passou por duas prisões em 2024 em meio às investigações, insiste em tentar reverter sua destituição nos tribunais superiores, mesmo diante das denúncias robustas e das decisões judiciais que lhe são desfavoráveis. Sua insistência tem como pano de fundo um histórico de poder consolidado à frente da FFMS, onde comandou o futebol sul-mato-grossense por décadas com mão de ferro e pouca transparência.
A tentativa de declarar-se pobre aos olhos da Justiça, no entanto, se choca com os acontecimentos registrados há menos de um ano, quando os agentes do Gaeco encontraram R$ 800 mil em cédulas cuidadosamente guardadas em sua residência, boa parte sob o colchão. A cena, que viralizou à época, permanece como um símbolo da contradição entre a ostentação privada e a pobreza alegada nos autos.
Agora, Cezário tem o prazo exíguo de cinco dias para apresentar documentos que sustentem sua versão. O cumprimento ou não dessa exigência determinará se sua pretensão de recorrer ao STJ poderá seguir em frente. Enquanto isso, as investigações sobre o desvio milionário de recursos públicos prosseguem, e o ex-dirigente segue como réu em uma série de processos criminais.
A figura que por anos foi uma das mais poderosas do futebol em Mato Grosso do Sul hoje se vê acuada por acusações graves, documentos incontestáveis e provas materiais expressivas. O pedido de gratuidade processual, diante de tamanha exposição e acervo probatório, mais parece um último drible — mas agora, contra o próprio campo da legalidade.
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