Nos últimos meses, a polêmica sobre a proibição do uso de celulares em escolas brasileiras reacendeu debates sobre disciplina, aprendizado e segurança. Por outro lado, uma realidade alarmante persiste nos presídios do país: o celular é a principal ferramenta de comunicação entre facções criminosas, permitindo que ordens de assassinatos, assaltos e julgamentos do chamado “tribunal do crime” sejam ditadas de dentro das celas. Essa questão expõe uma contradição evidente e um desafio urgente para as políticas públicas brasileiras: enquanto estudantes têm seu acesso ao celular cerceado para melhorar a qualidade do ensino, criminosos fazem do aparelho um instrumento poderoso para ampliar seu domínio sobre o crime organizado.
A proibição nas escolas e o impacto na educação
O governo federal e alguns estados já adotaram medidas restritivas para o uso de celulares nas escolas. O argumento principal é que o aparelho prejudica o rendimento escolar, reduz a concentração e expõe crianças e adolescentes a cyberbullying e outros riscos digitais. Estudos indicam que a distração causada pelo celular pode impactar diretamente no aprendizado e na assimilação de conteúdos, dificultando o desenvolvimento intelectual dos alunos.
“Os celulares criam um ambiente de distração constante. A proibição vem para garantir que os estudantes prestem atenção ao conteúdo e melhorem seu desempenho”, explica o pedagogo e especialista em educação digital, Ricardo Almeida. Ele acrescenta que muitos professores relatam dificuldades em manter a atenção da turma devido à presença dos aparelhos.
Mas há divergências. Pais e alunos questionam se a proibição não seria um retrocesso. “Tem muito professor que usa o celular para passar conteúdos complementares, aplicativos educativos, ou até para comunicação com os responsáveis. O problema não é o celular em si, mas o mau uso”, argumenta Adriana Martins, mãe de um estudante do ensino médio.
Além disso, algumas pesquisas indicam que o uso moderado de celulares em atividades pedagógicas pode contribuir para o aprendizado, tornando as aulas mais dinâmicas e atraentes. Países como a Finlândia e a Coreia do Sul investem em modelos educacionais que incorporam a tecnologia de maneira estruturada, garantindo que os dispositivos sejam utilizados como ferramentas de ensino, e não como distrações.
Nos presídios, celulares são armas do crime
Enquanto isso, nas cadeias brasileiras, os celulares são o elo principal entre criminosos e o mundo externo. Comandantes de facções criminosas usam os aparelhos para ditar ordens de execução, organizar roubos milionários e até julgar e condenar pessoas sem que o Estado consiga intervir.
“Os celulares entram nos presídios de várias formas: corrupção de agentes penitenciários, drones, visitas que passam pelos bloqueios. A falta de bloqueadores eficazes também agrava o problema”, denuncia um diretor de Presídio.
O impacto do crime organizado orquestrado de dentro dos presídios é imenso. Em diversos estados, investigações revelaram que grandes assaltos a bancos, ataques a agentes de segurança e até massacres entre facções rivais foram ordenados diretamente de dentro das cadeias. Isso reforça a ineficácia das políticas de contenção da criminalidade no sistema prisional brasileiro.
A população se revolta com a diferença de tratamento. “Proíbem o celular na escola, mas deixam bandido mandar matar gente de dentro da cadeia? Isso é uma piada!”, desabafa o comerciante João Batista. Para muitos cidadãos, há um claro descompasso entre as prioridades do governo: enquanto estudantes perdem acesso à tecnologia na escola, criminosos a utilizam livremente para manter sua rede de poder.

A opinião dos especialistas em segurança
Para especialistas em segurança pública, o problema não está apenas na entrada dos celulares, mas na falta de um sistema eficiente para bloqueá-los. “O Brasil investiu pouco em tecnologia para impedir a comunicação de dentro dos presídios. Muitos países já usam bloqueadores potentes que tornam impossível qualquer sinal dentro das cadeias, mas aqui, por falta de vontade política e corrupção, isso ainda não é realidade”, explica a criminóloga Letícia Soares.
Além disso, há desafios operacionais e legais. Muitos bloqueadores de sinal acabam interferindo na comunicação da população que vive no entorno dos presídios, o que gera resistência à sua implementação. Algumas operadoras de telefonia também alegam que a instalação de bloqueadores eficazes pode comprometer o funcionamento das redes.
Governos estaduais prometem reforçar as revistas e ampliar o uso de tecnologia para impedir o uso de celulares nos presídios, mas a eficácia dessas medidas ainda é incerta. Em alguns estados, foram criadas unidades de segurança máxima, onde a vigilância é reforçada e os bloqueios de sinal são mais eficazes, mas essas iniciativas ainda são poucas diante do tamanho do problema.
O que fazer?
O Brasil se encontra diante de uma ironia evidente: alunos sem celulares para estudar e presos comandando o crime com smartphones de última geração. A sociedade cobra ações mais firmes para combater essa desigualdade de prioridades.
Enquanto as salas de aula tentam recuperar a atenção dos estudantes sem o apelo digital, o crime organizado continua avançando com um simples toque na tela. Será que estamos focando no problema errado?
A solução exige uma abordagem equilibrada e coerente. No âmbito educacional, talvez o caminho não seja simplesmente proibir, mas ensinar o uso consciente da tecnologia. Já no campo da segurança pública, a resposta deve ser rigorosa e definitiva: bloqueios eficientes, punição severa para quem facilita a entrada dos aparelhos e um combate implacável ao crime organizado.
Afinal, não é aceitável que alunos sejam tratados com mais rigidez do que criminosos. O que está em jogo não é apenas a segurança pública, mas a própria credibilidade das políticas públicas brasileiras
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