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Mato Grosso do Sul, 10 de dezembro de 2024
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Ernesto acusa Kátia Abreu de pressão em 5G chinês; senadora rebate: ‘marginal’

Essa turma mais radical do bolsonarismo vive do confronto, falando sempre para a própria base
Essa turma mais radical do bolsonarismo vive do confronto, falando sempre para a própria base

Dois dos protagonistas políticos da diplomacia brasileira entraram em conflito aberto neste domingo (28). Em publicação nas redes sociais, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, criticou a presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Kátia Abreu (PP-TO), que respondeu, em um saldo que eleva a tensão entre o chefe do Itamaraty e os senadores.

No início da tarde, Araújo escreveu no Twitter: “Em 4/3, recebi a senadora Kátia Abreu para almoçar no MRE. Conversa cortês. Pouco ou nada falou de vacinas. No final, à mesa, disse: ‘Ministro, se o senhor fizer um gesto em relação ao 5G, será o rei do Senado’. Não fiz gesto algum”.

“Desconsiderei a sugestão inclusive porque o tema 5G depende do Ministério das Comunicações e do próprio Presidente da República, a quem compete a decisão última na matéria”, prosseguiu o ministro.

Em nota, a senadora Kátia Abreu reagiu. A parlamentar classificou o ministro como “a face de um marginal”, que viveria “à margem da boa diplomacia, à margem da verdade dos fatos, à margem do equilíbrio e à margem do respeito às instituições”.

A presidente da comissão ainda disse que a mensagem de Ernesto “falta com a verdade” e resume de forma errada um encontro, que segundo ela, teve testemunhas e durou três horas, no qual diversos outros assuntos foram tratados, como o desmatamento na Amazônia.

O presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), saiu em defesa da parlamentar. Pelas redes sociais, Pacheco afirmou que a fala do ministro Ernesto Araújo atinge todos os senadores.

“A tentativa do ministro Ernesto Araújo de desqualificar a competente senadora Kátia Abreu atinge todo o Senado Federal. E justamente em um momento que estamos buscando unir, somar, pacificar as relações entre os Poderes. Essa constante desagregação é um grande desserviço ao País”, escreveu o senador em sua conta no Twitter.

A China e o 5G

De acordo com apuração do colunista  Igor Gadelha, o objetivo da mensagem de Ernesto Araújo é emplacar a tese de que a intensa pressão política das últimas semanas para uma mudança no comando do Itamaraty seria fruto de um “lobby chinês” pelo 5G, enquanto parlamentares influentes apontam a gestão do ministro das Relações Exteriores como uma das causas pela dificuldade diplomática do Brasil em obter insumos e vacinas contra a Covid-19.

A discussão sobre a tecnologia 5G se arrasta desde o ano passado. Aliados do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) seguem uma vertente na política mundial, que vinha sendo personificada pelo ex-presidente americano Donald Trump, de que haveria risco para a segurança da informação com a participação de empresas chinesas na operação do sistema.

Ainda de acordo com o colunista Igor Gadelha, que ouviu nomes próximos ao ministro, a segunda mensagem publicada, citando o Ministério das Comunicações, é uma tentativa de transferir a pressão para o ministro Fábio Faria.

Na nota enviada à imprensa, a senadora Kátia Abreu afirma que seria prejudicial para os produtores agrícolas brasileiros um possível veto às empresas chinesas no leilão do 5G.

“Ainda alertei esse senhor dos prejuízos que um veto à China na questão 5G poderia dar às nossas exportações, especialmente do Agro, que vem salvando o país há décadas”, disse a senadora.

Na quarta-feira (24), após coordenar uma sabatina com o ministro Ernesto Araújo na Câmara, o deputado Aécio Neves (PSDB-MG), que preside o grupo dos deputados para a política externa, também culpou o ministro pela degradação da parceria comercial com a China.

“Nos alinhamos ao trumpismo, o que nos afastou de certos concertos internacionais e hoje sofremos as consequências disso, como com a nossa relação com a China. Empresários que têm negócios com a China demonstram preocupação com o nível beligerante de nossa política externa”, disse Aécio.

Pressão por demissão

O colunista Caio Junqueira antecipou no último dia 23 que, após a saída de Eduardo Pazuello do Ministério da Saúde, a prioridade de parlamentares influentes do Congresso era a substituição de Ernesto Araújo.

O ministro das Relações Exteriores participou de audiências no Congresso Nacional na quarta-feira (24) e foi bastante confrontado pelos deputados e senadores.

A publicação nas redes sociais neste domingo deve intensificar as cobranças.

“Essa turma mais radical do bolsonarismo vive do confronto, falando sempre para a própria base. A manifestação do ministro é lamentável e, segundo a senadora Kátia Abreu, mentirosa”, disse o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).

O presidente do Progressistas, senador Ciro Nogueira (PI), lamentou a criação da celeuma.

“No momento em que há um grande esforço para a pacificação e o entendimento, lamento muito que justamente o responsável por nossa diplomacia venha a criar mais um contencioso político para as instituições. O Brasil e o povo brasileiro não merecem isso”, escreveu Nogueira no Twitter.

O senador Weverton Dias (PDT-MA) disse que “já passou da hora de Ernesto Araújo ser demitido do Itamaraty” e que ele, para se manter no cargo, abre uma guerra de fake news contra senadores.

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