Na madrugada desta sexta-feira, 23 de maio, a Aldeia Indígena Taquapery, localizada no município de Coronel Sapucaia, em Mato Grosso do Sul, foi palco de mais um episódio trágico que evidencia a face mais cruel da violência doméstica. Olizandra Vera Cano, uma jovem de 26 anos, foi brutalmente assassinada a golpes de faca dentro da própria residência, onde vivia com o marido, Celso Irineu, de 32 anos, acusado de ser o autor do crime. A barbárie, motivada por uma discussão banal acerca do preparo do jantar, marca o 11º caso de feminicídio registrado no estado somente neste ano de 2025.
A Polícia Militar foi acionada pelo capitão da aldeia e, ao chegar ao local, deparou-se com uma cena desoladora. O corpo de Olizandra estava caído no quintal da casa, já sem vida, apresentando um corte profundo no pescoço. Próxima à vítima, uma faca ensanguentada foi localizada, sendo, segundo as autoridades, a provável arma utilizada no homicídio. Celso Irineu, que permanecia no local, apresentava sinais claros de embriaguez, com manchas de sangue na roupa e um ferimento no braço, cujas circunstâncias ainda são apuradas.
Em seu depoimento preliminar, Celso relatou que ambos haviam discutido devido ao preparo do jantar. Ele alegou que Olizandra teria se armado com uma faca durante a discussão, mas negou ter cometido o crime. Contudo, suas versões foram consideradas contraditórias pelas autoridades, que o detiveram em flagrante, encaminhando-o à delegacia local. A perícia técnica foi acionada para realizar a análise minuciosa do cenário do crime, recolhendo provas fundamentais para a elucidação do caso. O corpo da jovem foi levado para exames necroscópicos no Instituto de Medicina Legal.
O casal deixa um filho de apenas um ano e nove meses, agora órfão de mãe e com o pai sob custódia da Justiça. Testemunhas relataram que o casal passou o dia anterior consumindo bebidas alcoólicas em um bar da comunidade, comportamento que, segundo os relatos, era frequente e marcado por episódios de desentendimentos.
O crime cometido em Coronel Sapucaia é mais um capítulo da alarmante escalada de feminicídios em Mato Grosso do Sul em 2025. De acordo com dados atualizados da Secretaria de Justiça e Segurança Pública, até o presente momento, já são 11 mulheres assassinadas em decorrência de violência de gênero, com casos registrados em diversos municípios, como Campo Grande, Dourados, Três Lagoas, Ponta Porã e Corumbá. Esse cenário coloca o estado entre os mais violentos do país no tocante aos crimes contra mulheres, especialmente em contextos domésticos e familiares.
Especialistas em segurança pública e direitos humanos apontam para a necessidade urgente de fortalecimento das políticas públicas de prevenção e proteção às mulheres. A ampliação de delegacias especializadas no atendimento à mulher, a oferta de abrigos seguros para vítimas em situação de risco e campanhas educativas são consideradas medidas imprescindíveis para frear a violência que se alastra em todas as regiões do estado.
Além disso, autoridades orientam que mulheres vítimas de ameaças ou violência doméstica devem buscar ajuda imediatamente. É fundamental acionar a Polícia Militar pelo telefone 190 ou o Ligue 180, da Central de Atendimento à Mulher, que oferece orientação e encaminhamento a serviços especializados. Em Mato Grosso do Sul, a atuação das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs) tem sido reforçada, mas muitas vítimas ainda esbarram em obstáculos como o medo, a dependência econômica e a ausência de redes de apoio.
Casos como o de Olizandra Vera Cano reiteram a importância da denúncia precoce, do acolhimento e da proteção eficaz. Para entidades de defesa dos direitos das mulheres, o feminicídio não é um crime isolado, mas o desfecho trágico de uma sequência de agressões e violações que poderiam ser interrompidas com a intervenção adequada e tempestiva.
A tragédia ocorrida na Aldeia Taquapery também lança luz sobre a vulnerabilidade das mulheres indígenas, que, além da violência doméstica, enfrentam o preconceito, a pobreza e a dificuldade de acesso a políticas públicas de proteção e justiça. Organizações que atuam na defesa dos povos originários têm reiterado a necessidade de políticas interseccionais que considerem as especificidades culturais e sociais dessas comunidades.
Enquanto a investigação prossegue para esclarecer todos os detalhes do crime e responsabilizar o autor, Mato Grosso do Sul segue contabilizando mais uma vítima da violência que se perpetua nos lares e desafia a sociedade e o poder público a responder com a firmeza e a urgência que a situação exige.
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