Mato Grosso do Sul, 9 de maio de 2025
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Fenômeno da “Chuva Inteligente” pode ter novos capítulos em Camapuã

Agora, anos depois, Marcelo Duailibi, condenado a devolver R$ 1 milhão aos cofres públicos por irregularidades em sua gestão, volta a influenciar a política local
Marcelo Pimentel Duailibi administrou Camapuã entre 2009 e 2016 (Foto: Divulgação / arquivo)
Marcelo Pimentel Duailibi administrou Camapuã entre 2009 e 2016 (Foto: Divulgação / arquivo)

A polêmica da “chuva inteligente” em Camapuã, Mato Grosso do Sul, ganhou notoriedade nacional em 2015, quando foi destaque no programa Fantástico, da Rede Globo. Na época, o prefeito Marcelo Duailibi estava envolvido em um escândalo de corrupção que chamou a atenção pela inusitada justificativa de que uma “chuva torrencial” teria destruído documentos que estavam sob investigação. Esses documentos, curiosamente, eram os únicos afetados pela tal chuva, enquanto outros papéis importantes, como registros do IPTU, permaneceram intactos.

A investigação revelou que havia uma série de fraudes em contratos públicos, somando mais de R$ 8 milhões, e que o prefeito, junto com outros envolvidos, tentou acobertar esses desvios. A empresa responsável pelas obras no parque industrial da cidade, que recebeu pagamentos volumosos, nem sequer existia no endereço informado, sendo associada a assessores próximos do prefeito.

Agora, anos depois, Marcelo Duailibi, condenado a devolver R$ 1 milhão aos cofres públicos por irregularidades em sua gestão, volta a influenciar a política local. Ele está apoiando a candidatura de Leandro Borges, do PSD, ao cargo de prefeito de Camapuã. Esse movimento estaria sendo interpretado como uma tentativa de retorno ao poder, uma manobra que moradores estariam chamando de “voltar à cena do crime.”

A estratégia de Duailibi de apoiar um novo candidato vem sendo vista com desconfiança, pois remete ao passado turbulento de sua administração, marcada por escândalos e investigações. A população de Camapuã, que já testemunhou o desvio de recursos e a destruição fraudulenta de documentos públicos, pode estar novamente sob ameaça, caso figuras associadas a esses crimes retornem ao cenário político com o apoio de antigos gestores.

Esta matéria pretende destacar como a história parece se repetir, com antigos atores tentando, mais uma vez, ocupar posições de poder na prefeitura de Camapuã, deixando uma sensação de que a justiça ainda precisa atuar com mais rigor para evitar que a cidade seja palco de novas práticas corruptas.

Reelembre o Caso

A história da chuva virou motivo de chacota na cidade. “Os papéis que eram para prova de negociação, de compra, de assim, aquilo ela molhou. O IPTU, não”, ironiza o aposentado Sílvio da Costa.

O Gaeco foi à prefeitura investigar a chuva inteligente. De fato, ali tem uma infiltração, mas veja o que os funcionários contam ao promotor:

Homem: Era só mais ou menos isso aqui. Não era um documento importante, assim…
Fantástico: Não botaram para secar nada não, né?
Homem: Não, não. Perdeu-se algum documento aqui no teu setor, você lembra?
Mulher: No meu, não.

Na época da tempestade duvidosa, Maurício Duailibi era o procurador jurídico do município. Foi ele quem enviou um ofício ao Gaeco para comunicar a “chuva torrencial” que acabou fazendo a papelada sumir. Supostamente.

Em conversa gravada com autorização da Justiça, Maurício pede um favorzinho ao dono de uma empresa que presta serviço à prefeitura fornecendo salgados.

Maurício Duailibi: Você ainda tem aquele contrato com a prefeitura?
Dono de empresa: Qual contrato?
Maurício Duailibi: De salgados.
Dono de empresa: Tenho.  

Agora, como secretário de administração de Camapuã, Maurício quer fazer um agrado a um pessoal no estádio da cidade, o Carecão.

Maurício: Eu vou fazer um aperitivo para um pessoal que vai jogar hoje lá no Carecão e estava pensando em pegar uma carne. Você joga como salgado.

Depois que o Gaeco começou a investigar as falcatruas, Maurício ligou para um colaborador para dar um conselho de amigo da onça.

Maurício Duailibi: Que marca de cigarro você fuma?
Colaborador: Eu ainda não fumo, não.
Maurício Duailibi: Mas vai ter que aprender.
Colaborador: Que que foi?
Maurício Duailibi:Dia de visita em cadeia é quinta-feira, domingo, como é que é? O Gaeco está aqui atrás daquelas notas.

Sobre as notas dos contratos molhados na tal chuva, ele e um comparsa dizem o seguinte, em outro telefonema.

Maurício Duailibi: Vai dar mais ou menos só uns R$ 800 mil.
Colaborador: Daquelas notas? Não, pode jogar três vezes, mais esse valor.

Ou seja, R$ 2,4 milhões em notas frias.

Na sexta-feira (08), Maurício foi preso pelo Gaeco durante operação de busca e apreensão em vários locais. Ele portava uma arma sem registro e sem porte. Foi solto depois de pagar fiança.

O Fantástico procurou Maurício Duailibi e o prefeito da cidade, Marcelo Duailibi, do DEM. O prefeito é sobrinho de Maurício. Nossa equipe procurou também Carlos Nino Machado, o assessor da prefeitura que é o dono daquela casa que é sede da empresa Arbaes. Não recebemos resposta. Já o dono da 2A, José Augusto de Souza, não foi encontrado.

As investigações continuam, inclusive de empresas que supostamente prestam serviço à cidade.

*A investigação é da equipe do programa Fantástico

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