O Festival de Parintins, tradicional celebração cultural da ilha de Parintins, no Amazonas, é conhecido pela grandiosidade de suas apresentações, pela rivalidade histórica entre o Boi Garantido, vermelho, e o Boi Caprichoso, azul, e pela riqueza das manifestações artísticas que exaltam a cultura regional. Neste ano, no entanto, a festividade assume um papel ainda mais significativo: as duas torcidas se unem para impulsionar o Projeto de Lei de Iniciativa Popular Amazônia de Pé (Plip), que visa garantir a proteção das áreas públicas da Amazônia Legal, assegurando seu uso sustentável e bloqueando registros irregulares de terras.
A ponte entre tradição e mobilização social é representada pelo empenho das torcidas do boi-bumbá em coletar assinaturas para o Plip, uma proposta apresentada pelo movimento Amazônia de Pé. A intenção é tornar obrigatória a destinação das terras públicas da Amazônia para fins de conservação ambiental e justiça social, protegendo territórios que atualmente somam 50,2 milhões de hectares, conforme dados do Observatório das Florestas Públicas. A maior parte dessas áreas está sobreposta a registros no Cadastro Ambiental Rural, o que dificulta sua proteção efetiva.
Kaianaku Kamaiurá, coordenadora de Incidência do movimento Amazônia de Pé, destaca a importância da iniciativa. “Essas áreas são fundamentais para a conservação ambiental e para garantir o modo de vida de comunidades tradicionais, povos indígenas e ribeirinhos”, explica. Ela enfatiza que a proteção desses territórios é vital para o estoque de carbono da região, contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas em escala global. Segundo Kaianaku, a ausência de uma destinação legal clara deixa a Amazônia vulnerável, colocando em risco não apenas a floresta, mas toda a população mundial.
O Desafio dos Bumbás, iniciativa conjunta do Festival de Parintins, das torcidas e do movimento Amazônia de Pé, envolve moradores, turistas e artistas na coleta de assinaturas, com um objetivo ambicioso: superar 1,5 milhão de apoios, representando 1% do eleitorado nacional distribuído em pelo menos cinco estados brasileiros. Até o dia 14 de julho, as equipes buscam mobilizar a população local e visitantes, impulsionando a cidadania e o engajamento político por meio da iniciativa popular.
Patrícia Patrocínio, articuladora Política e Cultural do Amazônia de Pé e natural de Parintins, ressalta o poder simbólico do festival. “O Festival de Parintins é muito mais do que uma festa. Ele é uma manifestação profunda da identidade amazônica e tem o potencial de mobilizar a defesa do nosso território”, afirma. Para os presidentes das agremiações, o festival representa uma ferramenta histórica de resistência cultural que se traduz agora também em luta pela preservação ambiental.
Erick Nakanome, presidente do Conselho de Arte do Caprichoso, entende que o boi-bumbá transcende a expressão artística para se tornar um símbolo de resistência e revolução. “Nossa arte carrega a força dos povos da Amazônia e agora também se manifesta na defesa da floresta”, comenta. De maneira similar, Alvatir da Silva, da Comissão de Artes do Garantido, acrescenta que o desafio reforça o conhecimento ancestral das comunidades tradicionais na manutenção da floresta em pé.
A iniciativa popular regulamentada pela Constituição Federal permite que o Plip, após coletar as assinaturas necessárias, seja apresentado na Câmara dos Deputados para tramitação como uma proposta legislativa ordinária. Experiências anteriores indicam que a mobilização popular é crucial para a aprovação de leis importantes, como a Lei da Ficha Limpa e a Lei Daniela Perez, ressaltando o poder da participação cidadã nas mudanças legislativas do país.
Além do impacto social e ambiental, o projeto conta com incentivos financeiros para estimular a mobilização durante o festival. A agremiação que angariar o maior número de assinaturas receberá uma premiação de R$ 40 mil, enquanto o torcedor que mais coletar apoios será premiado com ingressos VIP para o Festival de Parintins de 2026 e um auxílio de R$ 6 mil para viagem.
Ao conjugar cultura, tradição e cidadania, o Festival de Parintins reafirma seu papel na construção de um futuro sustentável para a Amazônia e o Brasil, demonstrando que a defesa do meio ambiente pode ser também uma expressão da identidade e da força popular.
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