Mato Grosso do Sul, 27 de maio de 2025
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Fracasso do maior drone agrícola do mundo leva startup à crise e demissão de 130 funcionários

Sem recursos para seguir com o Harpia P-71, Psyche Aerospace encerra divisão de drones e aposta agora em inteligência artificial para o agronegócio
Imagem - Compre Rural
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A história que prometia transformar radicalmente o setor do agronegócio brasileiro terminou em uma crise empresarial profunda. A startup brasileira Psyche Aerospace, criada e liderada pelo jovem engenheiro Gabriel Leal, de apenas 24 anos, ganhou projeção nacional e internacional ao anunciar, com entusiasmo, o desenvolvimento do Harpia P-71: o maior drone agrícola do mundo. A aeronave não tripulada, híbrida, movida a etanol e eletricidade, tinha como diferencial a impressionante capacidade de transportar até 400 quilos de defensivos agrícolas em uma única operação de pulverização, o que permitiria atender uma área de até 500 mil hectares de lavouras em todo o território nacional.

O Harpia P-71 foi exibido com destaque em eventos e feiras do agronegócio, como a consagrada Agrishow, considerada uma das maiores do mundo. Nessas ocasiões, a startup conseguiu atrair olhares atentos de grandes players do setor e firmou diversas cartas de intenção com empresas agrícolas de grande porte, sinalizando uma demanda potencial expressiva pelo produto. A proposta do drone parecia resolver alguns dos principais desafios da pulverização tradicional: custos elevados, riscos operacionais para pilotos de aeronaves tripuladas e impactos ambientais decorrentes do desperdício de insumos.

Contudo, a promessa ficou apenas no plano das intenções. A Psyche Aerospace, mesmo após captar R$ 19 milhões de investidores e acelerar o desenvolvimento do Harpia, não conseguiu superar obstáculos técnicos e financeiros fundamentais. Os protótipos do drone não chegaram à fase de testes práticos em campo, condição necessária para converter as cartas de intenção em contratos comerciais efetivos.

Segundo Gabriel Leal, o projeto consumia cifras milionárias mensalmente, inviabilizando a manutenção da estrutura sem uma nova rodada de investimentos robusta. Em meados de 2024, a startup lançou uma nova campanha de captação, desta vez buscando cerca de R$ 50 milhões para dar continuidade ao desenvolvimento, realizar os testes necessários e iniciar a produção em escala industrial. No entanto, o mercado financeiro demonstrou-se reticente, e a tentativa fracassou.

A falta de recursos e a ausência de um produto validado resultaram, em maio de 2025, na decisão mais difícil da breve trajetória da empresa: a desativação completa da divisão de drones e a demissão de 130 funcionários, a maior parte deles engenheiros e técnicos especializados, que atuavam na sede da companhia, em São José dos Campos, no interior de São Paulo, um dos principais polos aeroespaciais do país.

Hoje, a Psyche Aerospace opera de forma enxuta, com uma equipe reduzida, estimada entre 25 e 30 colaboradores, em Campinas (SP). A empresa direcionou seus esforços para um novo nicho: o desenvolvimento de soluções baseadas em inteligência artificial para o agronegócio. A aposta é na plataforma Turing, lançada oficialmente em janeiro deste ano, que combina algoritmos de IA com imagens de satélite, permitindo aos produtores rurais avaliar a saúde de suas lavouras de maneira precisa e eficiente.

Apelidada pela própria empresa como o “ChatGPT do Agro”, a plataforma Turing oferece funcionalidades inovadoras, como a detecção automática de doenças nas plantações por meio da análise de imagens, além de relatórios preditivos sobre a produtividade das culturas. O serviço busca suprir a crescente demanda por ferramentas digitais que promovam a eficiência, sustentabilidade e competitividade no campo.

Segundo a direção da Psyche Aerospace, uma nova versão da Turing será disponibilizada nos próximos 30 dias, inicialmente com acesso gratuito. A expectativa é implementar, futuramente, um modelo de monetização baseado em assinaturas mensais, com valor estimado em US$ 19. Esta estratégia busca garantir a sobrevivência financeira da startup no curto prazo, enquanto tenta consolidar sua posição no mercado de agrotecnologia digital, um segmento em expansão acelerada no Brasil e no mundo.

Embora tenha encerrado oficialmente sua divisão de drones, a Psyche não descarta retomar, no futuro, o desenvolvimento do Harpia P-71. Gabriel Leal insiste que o projeto não foi abandonado, apenas temporariamente suspenso, à espera de condições mais favoráveis de mercado e de novos investidores dispostos a aportar entre US$ 30 milhões e US$ 50 milhões. A ideia é, assim que possível, realizar voos experimentais e apresentar os resultados a possíveis financiadores, retomando o sonho de ver o maior drone agrícola do mundo voando sobre as plantações brasileiras.

O caso da Psyche Aerospace evidencia, de maneira clara, os desafios enfrentados por startups que apostam em tecnologias altamente disruptivas no agronegócio. Apesar do potencial de inovação e da proposta revolucionária, a trajetória da empresa ilustra que não basta apenas ter uma ideia inovadora: é preciso estruturar a operação de forma sólida, garantir a robustez financeira e realizar validações práticas antes de escalar a produção.

O agronegócio, especialmente em relação a tecnologias como veículos autônomos para pulverização, é um setor que exige alta confiabilidade, segurança operacional e capacidade de resposta imediata a desafios de grande escala. A falta dessas garantias pode comprometer a viabilidade do negócio, como aconteceu com a Psyche.

Ainda assim, imagens e vídeos do Harpia P-71, captados durante os eventos promocionais em que foi apresentado, continuam circulando pelas redes sociais e em publicações especializadas, alimentando o imaginário do setor e lembrando o potencial que a aeronave representava.

Por ora, o maior drone agrícola do mundo permanece no solo, como um símbolo de um sonho grandioso, adiado, mas não necessariamente enterrado. O futuro da Psyche Aerospace dependerá, agora, de sua capacidade de se reinventar no competitivo mercado de agrotecnologia e de demonstrar que, mesmo diante das adversidades, ainda pode ser uma protagonista na transformação digital do campo brasileiro.

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