Mato Grosso do Sul, 20 de maio de 2025
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França enfrenta revolta na Guiana Francesa ao anunciar prisão de segurança máxima na Amazônia

Unidade será construída em Saint-Laurent-du-Maroni e isolará criminosos perigosos, mas provoca forte reação de autoridades locais, que denunciam desrespeito e imposição colonial
Esboço 3D da prisão de segurança máxima que deve ser construída na Guiana Francesa.  
Esboço 3D da prisão de segurança máxima que deve ser construída na Guiana Francesa.  

A França despertou indignação em seu território ultramarino da Guiana Francesa ao anunciar a construção de uma prisão de segurança máxima na selva amazônica, destinada a isolar traficantes de drogas e condenados por radicalismo islâmico. A nova unidade será inaugurada em 2028 no município de Saint-Laurent-du-Maroni, em meio a uma das regiões mais remotas do país, às margens do Rio Maroni, fronteira natural com o Suriname. O projeto foi revelado pelo ministro da Justiça francês, Gérald Darmanin, ao periódico Journal du Dimanche, provocando uma onda de protestos na coletividade territorial.

A instalação será um anexo de segurança máxima dentro de um presídio de grande porte orçado em 450 milhões de dólares, o equivalente a 2,5 bilhões de reais. A nova unidade terá capacidade para 500 detentos, dos quais 60 ficarão em regime severo de isolamento, sendo 15 dessas vagas reservadas a condenados por terrorismo islâmico. O objetivo, segundo o governo francês, é neutralizar figuras de alto comando do narcotráfico e impedir que mantenham contato com redes criminosas.

“A localização isolada permitirá cortar qualquer vínculo com o exterior. Estamos falando de líderes de organizações que hoje ainda coordenam crimes de dentro das prisões. Isso será encerrado”, declarou Darmanin durante visita à região. “Minha estratégia é simples: atingir o crime organizado em todos os níveis.”

Contudo, o anúncio caiu como um raio entre a população local. A Coletividade Territorial da Guiana Francesa, órgão legislativo que representa o território, declarou-se surpreendida e ultrajada com o projeto. O presidente interino do órgão, Jean-Paul Fereira, emitiu nota oficial afirmando que a decisão jamais foi debatida com as autoridades guianenses. Para ele, o ato representa uma afronta institucional e um profundo desrespeito.

“É com espanto e indignação que tomamos conhecimento deste plano. A Guiana não pode ser tratada como um depósito de radicais da França continental”, afirmou Fereira. Ele recordou que o acordo original, firmado em 2017, previa a construção de um presídio com a finalidade de aliviar a superlotação das atuais instalações penitenciárias no território, e não de se tornar o destino de criminosos de alta periculosidade da metrópole.

A comoção também alcançou o Parlamento francês. O deputado Jean-Victor Castor, representante eleito da Guiana Francesa, classificou o projeto como uma “provocação política” e “um insulto à história da região”. Segundo ele, a proposta remete a um passado colonial em que a Guiana foi usada como colônia penal, destacando que Saint-Laurent-du-Maroni sediou um dos complexos mais infames da história penal francesa.

De fato, a escolha do local carrega um peso histórico. O novo presídio será erguido nas proximidades do antigo Campo Penal de Saint-Laurent-du-Maroni, ativo entre meados do século XIX e XX, onde milhares de presos políticos e comuns foram enviados muitos deles para a temida Ilha do Diabo. O local foi retratado na obra autobiográfica “Papillon”, mais tarde adaptada para o cinema, o que ajudou a eternizar o estigma da região como palco de sofrimento e abandono.

Além do simbolismo histórico, Saint-Laurent-du-Maroni é hoje uma das áreas mais afetadas pela violência e tráfico de drogas na Guiana Francesa. A cidade, situada na rota do tráfico internacional, enfrenta desafios severos com o contrabando de cocaína, frequentemente transportada por “mulas” para aeroportos como o de Orly, em Paris. Em 2023, o território registrou 20,6 homicídios por 100 mil habitantes, quase 14 vezes a média nacional francesa.

Apesar da gravidade do problema, líderes locais sustentam que medidas efetivas de combate à criminalidade não podem ser implementadas sem diálogo. A crítica mais recorrente ao projeto é a ausência de consulta pública e de cooperação institucional, o que reacende tensões entre o governo central e os territórios ultramarinos.

Até o momento, o Ministério da Justiça francês mantém a decisão e reafirma a inauguração da prisão para 2028. No entanto, diante da crescente oposição interna e do clamor popular, a proposta pode ainda enfrentar obstáculos legais e políticos nos próximos anos. A polêmica reforça antigos questionamentos sobre o papel que a metrópole reserva a seus territórios distantes e sobre a forma como políticas penais e de segurança pública devem ser construídas em sociedades plurais e descolonizadas.

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