A Polícia Civil de Mato Grosso do Sul investiga um crescente número de golpes envolvendo golpistas que se passam por médicos e funcionários de hospitais, realizando cobranças indevidas de familiares de pacientes internados. A prática criminosa, que tem se tornado mais comum, pode estar relacionada ao vazamento de dados sensíveis dos pacientes, com a suspeita de que funcionários ou prestadores de serviços dos hospitais de Campo Grande tenham repassado informações pessoais e médicas.
A Santa Casa de Campo Grande, o Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap-UFMS) e o Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS) têm alertado nos últimos meses sobre este tipo de fraude. Os golpistas entram em contato com os familiares de pacientes internados, alegando a necessidade urgente de transferências bancárias para a realização de procedimentos médicos que, na realidade, são cobertos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Em entrevista, o delegado Rodrigo Camapum, titular da Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (Depac) Centro, explicou como funciona o golpe. Segundo ele, os criminosos contatam os parentes dos pacientes informando sobre procedimentos cirúrgicos ou medicamentos especiais que não seriam cobertos pelo SUS. Sob a pressão emocional da situação, as famílias acabam enviando o dinheiro exigido pelos golpistas.
“O criminoso entra em contato com os parentes, informando que o paciente precisa de um procedimento médico urgente ou uma medicação especial que não é coberta pelo SUS. Sob a justificativa de ser uma emergência, eles exigem que a família faça depósitos ou transferências bancárias com urgência”, afirmou Camapum.
A estratégia dos golpistas envolve o uso de informações reais sobre os pacientes e suas internações, o que torna o golpe ainda mais convincente. Para o delegado, uma das linhas investigativas é o vazamento de dados hospitalares, possivelmente originados de prontuários médicos ou de alguma falha na proteção dos dados sensíveis dos pacientes. “A polícia considera a possibilidade de vazamentos de dados quando investiga esse tipo de golpe. É possível que existam indícios de conluio entre criminosos e funcionários ou prestadores de serviços que têm acesso aos sistemas internos dos hospitais”, disse Camapum.
A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) é uma das ferramentas que visa proteger essas informações, mas o delegado alertou que em muitos casos os dados podem ser obtidos de outras formas, como pelas redes sociais, onde os familiares frequentemente divulgam informações sobre as internações.
A Polícia Civil orienta a população a ficar alerta a qualquer solicitação de pagamento urgente por telefone ou mensagem. “Se receber um telefonema informando sobre a necessidade de um pagamento imediato para um tratamento ou um procedimento médico, mantenha a calma e desconfie. Nenhum hospital ou clínica solicita esse tipo de transação diretamente com familiares”, orientou Camapum. Ele reforçou que, ao perceber qualquer tipo de solicitação suspeita, o melhor é ir pessoalmente ao hospital para verificar a situação.
Nos últimos meses, a Polícia Civil registrou pelo menos dois casos em que as vítimas foram abordadas pelos golpistas. No primeiro caso, em janeiro, os criminosos informaram que o paciente havia adquirido uma bactéria e que o tratamento não seria coberto pelo SUS, exigindo o pagamento de R$ 4.930,00 para o procedimento. No segundo caso, também em janeiro, o golpista informou que o esposo da vítima precisava de um exame urgente e que o valor de R$ 7.100,00 deveria ser pago para que o procedimento fosse realizado.
Em ambos os casos, as vítimas só perceberam que haviam sido enganadas após efetuarem o pagamento. As autoridades continuam investigando os envolvidos e recomendam que qualquer tentativa de golpe seja denunciada imediatamente.
A Santa Casa de Campo Grande, por meio de nota, alertou à população que “não entra em contato com acompanhantes ou pacientes para solicitar nenhum tipo de complementação financeira para o tratamento. Todas as vagas relacionadas a atendimento no município são reguladas e custeadas completamente pelo SUS”. A instituição também informou que, em caso de doações voluntárias, o paciente ou acompanhante deve procurar um setor específico dentro da Santa Casa.
O Humap-UFMS também reforçou que todos os seus serviços são gratuitos e oferecidos exclusivamente pelo SUS. O hospital pediu que qualquer solicitação de pagamento em nome da unidade seja denunciada imediatamente à Ouvidoria.
Para os hospitais, a orientação continua a mesma: nunca solicitar pagamentos diretamente aos familiares dos pacientes e sempre manter os procedimentos médicos regulados pelo SUS, sem cobrança extra.
O golpe do falso médico expõe falhas no sistema de proteção de dados dos hospitais e coloca em risco as famílias vulneráveis, que, em momentos de desespero, podem ser facilmente enganadas. O caso também reforça a necessidade de maior controle e fiscalização nos processos internos dos hospitais, para evitar que informações sensíveis de pacientes sejam utilizadas para fins criminosos.
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