A Medida Provisória anunciada pelo governo federal para destravar financiamentos do Plano Safra 2024/25 pode não ser suficiente para amenizar a crescente tensão entre o setor agropecuário, a bancada ruralista e o Executivo. O problema veio à tona quando o Tesouro Nacional determinou a suspensão de novos financiamentos com subvenção federal, citando aumento de gastos com equalização de juros e incertezas no Orçamento de 2025.
O crédito extraordinário de R$ 4,1 bilhões, anunciado na última sexta-feira (21), era esperado como solução para o impasse, mas a crise continua. Parlamentares da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) exigem explicações dos ministros responsáveis e já articulam convocações para que prestem esclarecimentos ao Congresso. Nos últimos dias, redes sociais foram tomadas por vídeos de deputados e senadores criticando duramente a gestão federal, o que intensificou o mal-estar entre o Palácio do Planalto e o setor produtivo.
Atribuição de Culpa e Reações Acirradas
As declarações do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, responsabilizando a própria bancada ruralista pela suspensão dos financiamentos só pioraram a situação. Segundo Fávaro, o entrave foi causado pelo Congresso, que não teria aprovado o Orçamento a tempo. As falas foram vistas como uma afronta por membros da FPA, que argumentam que a equipe econômica do governo não forneceu os cálculos atualizados da necessidade orçamentária para 2025 ao relator do PLOA, senador Ângelo Coronel (PSD-BA), que também integra a bancada ruralista.
Líderes do setor agropecuário avaliam que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, agiu para conter os danos com a edição da MP, mas criticam Carlos Fávaro por não ter defendido a agropecuária dentro do governo. Um parlamentar chegou a afirmar que Fávaro “apontou o dedo” ao invés de buscar soluções.
O Que Está em Jogo
A suspensão das linhas de crédito afetou diretamente produtores de todos os portes. O corte atinge não apenas grandes empresários do agro, mas também médios e pequenos produtores, que dependem de linhas subsidiadas para custeio e investimentos. Apenas uma linha do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) foi mantida, enquanto outras foram paralisadas, incluindo o Moderfrota (aquisição de máquinas), PCA (armazenagem) e programas de financiamento para práticas sustentáveis.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) criticou duramente o governo, afirmando que o planejamento orçamentário ignorou o impacto da alta da taxa Selic. Segundo a entidade, seriam necessários pelo menos R$ 22 bilhões para cobrir a subvenção do crédito rural ao longo do ano. Mesmo com a MP liberando R$ 4,1 bilhões, o montante total para equalização ficaria em R$ 18 bilhões, ainda abaixo do necessário.
Expectativas e Incógnitas
A bancada ruralista teme que o valor liberado pela MP não seja suplementar ao orçamento original, mas apenas uma antecipação dos recursos previstos, o que agravaria a situação no segundo semestre. Além disso, produtores seguem apreensivos quanto ao impacto da crise no preço dos alimentos e na compra de insumos e equipamentos nas feiras agropecuárias programadas até junho.
O clima de desconfiança segue alto. Enquanto o governo tenta equilibrar as contas, o setor agropecuário pressiona por mais recursos e mudanças na política econômica. O embate está longe de acabar e promete novos desdobramentos nas próximas semanas.
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