Mato Grosso do Sul, 3 de julho de 2025
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Homicídio em aldeia de Paranhos expõe tragédia do álcool e das drogas entre indígenas de Mato Grosso do Sul

Polícia Civil prende autor de assassinato em Potrero Guaçu e alerta para o avanço da violência relacionada ao consumo de entorpecentes nas aldeias da fronteira sul do estado
Casa onde ocorreu o crime, na Aldeia Potreiro Guaçu (Foto: Divulgação)
Casa onde ocorreu o crime, na Aldeia Potreiro Guaçu (Foto: Divulgação)

A madrugada de terça-feira, 2 de julho, foi marcada por mais um episódio trágico de violência nas aldeias do sul de Mato Grosso do Sul. No interior da Aldeia Potrero Guaçu, localizada no município de Paranhos, o indígena Samuel Oliveira Lederme, de 36 anos, foi brutalmente assassinado com um golpe profundo de facão no pescoço, em circunstâncias que envolveram consumo de bebida alcoólica e desentendimento pessoal.

Logo nas primeiras horas da manhã seguinte, a Polícia Civil foi acionada e, juntamente com a equipe da perícia criminal, deslocou-se até a comunidade para realizar os levantamentos iniciais. De acordo com os depoimentos de testemunhas, o autor do crime foi identificado como R.L.A., indígena de 25 anos, natural do Paraguai. Ambos estavam ingerindo álcool quando, após uma discussão, o agressor atacou a vítima com o facão, fugindo em seguida pela mata próxima à linha de fronteira.

As investigações contaram com o apoio da própria comunidade indígena, que cooperou ativamente com as buscas. A força-tarefa organizada pela Polícia Civil, através da equipe do Setor de Investigações Gerais (SIG), empreendeu diligências ininterruptas durante todo o dia e a noite. Após rastreamento intensivo, o suspeito foi localizado e preso. Segundo os investigadores, ele confessou o crime e foi autuado em flagrante por homicídio qualificado, uma vez que o ataque impossibilitou qualquer defesa por parte da vítima.

A arma do crime, um facão, ainda não foi localizada, pois o acusado a teria descartado enquanto fugia pela região de mata. O autor encontra-se detido na Delegacia de Polícia de Paranhos, à disposição da Justiça.

O caso acende um alerta importante e doloroso para uma realidade que se agrava silenciosamente: o impacto devastador do álcool e das drogas nas comunidades indígenas, sobretudo nas aldeias situadas na região sul do estado, que fazem fronteira com o Paraguai.

Álcool, tráfico e vulnerabilidade nas aldeias da fronteira

Em Mato Grosso do Sul, o problema do consumo de álcool entre indígenas é antigo, complexo e de múltiplas causas. A exclusão social, a falta de políticas públicas eficazes, a ausência de alternativas produtivas e o desemprego estrutural favorecem a entrada de substâncias ilícitas e a dependência alcoólica. Nas aldeias fronteiriças, como aquelas situadas nos municípios de Paranhos, Coronel Sapucaia, Amambai e Tacuru, a situação se agrava pela proximidade com o Paraguai — rota estratégica do tráfico internacional de drogas e armas.

Diversos relatos de lideranças indígenas, ONGs e órgãos de proteção à infância apontam que o álcool tem sido uma das maiores causas de violência doméstica, homicídios, suicídios e abandono escolar entre os povos originários. Muitos jovens são aliciados por facções criminosas para atuar como “mulas” do tráfico ou como olheiros em pequenas redes de contrabando. A vulnerabilidade dos territórios, marcada por longas distâncias, falta de estrutura básica e policiamento precário, contribui para a consolidação de verdadeiros corredores do crime.

As aldeias de Paranhos, por exemplo, vêm sendo constantemente citadas em relatórios do Ministério Público Estadual e da Funai como áreas críticas, onde a presença do Estado se faz urgente e necessária. O tráfico de maconha, cocaína e bebidas alcoólicas irregulares é cotidiano. Em algumas comunidades, já há registros de uso de crack entre adolescentes, o que antes era raro nessas regiões.

A urgência de políticas públicas e apoio comunitário

O recente homicídio ocorrido em Potrero Guaçu ilustra com clareza essa crise social e humanitária. A presença das forças policiais é essencial, mas não basta. É preciso um conjunto de políticas articuladas entre União, estado e municípios para atender às necessidades reais das populações indígenas: saúde mental, educação diferenciada, segurança alimentar, geração de renda e fortalecimento da identidade cultural.

Ações pontuais, como campanhas de combate ao alcoolismo, devem ser associadas a estratégias de longo prazo, que incluam diálogo com as lideranças indígenas e apoio às escolas e agentes de saúde que atuam dentro das aldeias. Também é fundamental combater com mais rigor a atuação de organizações criminosas que se aproveitam da fragilidade das fronteiras e da pobreza para ampliar seus tentáculos.

Enquanto isso não acontece, crimes como o de Samuel Oliveira Lederme continuarão a assombrar famílias inteiras e a manchar de sangue o tecido social dos povos originários. A tragédia de Paranhos deve servir de ponto de inflexão, um chamado coletivo à responsabilidade e à ação urgente, antes que mais vidas se percam.

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