Quando algum acontecimento de peso mexe com os bastidores do Vaticano ou movimenta a capital italiana, os brasileiros já sabem quem vai aparecer nas telas da TV: Ilze Scamparini, firme, elegante e com sua voz pausada, trazendo os detalhes direto dos telhados de Roma. Correspondente da TV Globo há mais de duas décadas, ela virou referência quando o assunto é jornalismo internacional, especialmente em tudo o que envolve o Papa, a Igreja Católica e o cenário político europeu.
Mas Ilze vai além das notícias. Atrás das câmeras, existe uma mulher sensível, culta e discreta, que escolheu viver longe dos holofotes quando o assunto é sua intimidade. E foi assim, mantendo a simplicidade e o foco, que ela construiu uma carreira respeitada dentro e fora do Brasil.
Da formação em Campinas ao posto de correspondente internacional
Nascida em 1958, Ilze Scamparini é formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, a PUC-Camp. De família com raízes italianas e criação católica, ela começou a carreira no Brasil e passou por diversas coberturas importantes antes de ser convidada para atuar fora do país.
Chegou a Roma com a ideia de passar apenas um ou dois anos. Mas o tempo passou e, hoje, já são mais de 25 anos vivendo na Itália, onde estabeleceu sua casa, seu ritmo e sua forma de ver o mundo. Fluente em italiano, inglês e espanhol, além do português, Ilze se destacou justamente por conseguir traduzir com clareza as complexidades do Vaticano e da política europeia para o público brasileiro.
Escritora, mulher de opinião e companheira de longa data
Além de jornalista, Ilze também é autora do romance Atirem Direto no Meu Coração, obra que revela um lado mais poético e reflexivo de sua personalidade. Mas quando o assunto é sua vida pessoal, a jornalista costuma ser bem reservada. Em uma rara entrevista ao jornal Zero Hora, em 2023, ela falou sobre o relacionamento de quase 20 anos com o roteirista e escritor italiano Domenico Saverni, com quem vive em Roma.
Os dois se conheceram num jantar na casa de uma amiga e, com o tempo, construíram uma união sólida, baseada em afinidades e respeito mútuo. Segundo Ilze, o casamento se torna mais interessante depois de tanto tempo convivendo com alguém, e por isso, pensam em oficializar a união futuramente.
Sobre filhos, Ilze optou por não ser mãe. Mas não deixou de exercer o lado afetivo com os sobrinhos. “Minha irmã teve duas filhas e ajudei a criá-las. Meu irmão também teve filhas, e eu me sinto uma segunda mãe. Mas também porque não deu tempo. Sempre viajei muito, tive uma vida agitada. Achava que não seria uma boa mãe”, revelou.
Ela também comentou sobre a mudança cultural que notou vivendo em Roma: “No Brasil, é difícil encontrar pessoas sem filhos. Aqui, a maioria dos meus amigos não tem. A Itália hoje tem uma das menores taxas de natalidade do mundo. Antigamente, famílias com muitos filhos eram comuns, como a avó do meu marido que teve 20 filhos, mas os tempos mudaram.”
Rotina intensa e paixão por contar histórias
Mesmo após tantos anos na estrada, Ilze mantém uma rotina de trabalho disciplinada. Dorme tarde, acorda cedo, lê jornais internacionais e acompanha os acontecimentos mundiais para se antecipar ao que pode virar pauta. Nas horas vagas, tenta equilibrar o tempo para cuidar de si, fazer caminhadas, levar sua cachorrinha para passear e dar uma passada nas feirinhas locais de Roma, sempre na correria.
Com uma vida dividida entre dois países, ela não descarta a possibilidade de um dia retornar ao Brasil, mas tudo depende dos projetos e da escrita. “A gente pensa em viver um pouco nos dois lugares. Gostamos do Brasil e daqui. Se desse, ficaríamos seis meses em cada. Vai depender dos livros que estiver escrevendo, dos projetos. Gostaria de viajar contando histórias, é um sonho”, afirmou.
Entre a fé, a história e a notícia
Ilze Scamparini é o exemplo vivo de como a paixão pelo jornalismo pode atravessar fronteiras e resistir ao tempo. Sua presença nos principais acontecimentos que envolvem o Vaticano fez dela uma figura quase simbólica para os brasileiros que acompanham as notícias internacionais.
Com voz serena, uma postura sempre respeitosa e uma clareza que atravessa idiomas e culturas, ela segue firme como uma das jornalistas mais admiradas do país. E mesmo depois de tantos anos fora, Ilze continua conectada com o Brasil de forma profunda, provando que o bom jornalismo não tem fronteiras.
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