A trajetória de desaceleração da inflação no Brasil ganhou mais um capítulo em junho, com a divulgação da prévia do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que ficou em 0,26%, abaixo dos 0,36% registrados no mês anterior. O dado divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que, pela primeira vez após nove meses consecutivos de alta, o grupo Alimentação e bebidas apresentou variação negativa, com recuo de 0,02%, contribuindo diretamente para o alívio no índice geral.
O resultado reflete uma conjunção de fatores que impactam diretamente o cotidiano das famílias brasileiras. O recuo nos preços de alimentos como tomate (-7,24%), ovo de galinha (-6,95%) e arroz (-3,44%) foram decisivos para puxar o índice para baixo, especialmente no segmento de alimentação no domicílio, que registrou queda de 0,24%. Já a alimentação fora do lar, embora ainda em alta, desacelerou para 0,55%, em comparação aos 0,63% de maio.
No setor de combustíveis, houve retração significativa de 0,69% no mês, revertendo o aumento de 0,11% observado em maio. A queda foi impulsionada pelo recuo no preço do óleo diesel (-1,74%), do etanol (-1,66%), da gasolina (-0,52%) e do gás veicular (-0,33%). Esses números somaram-se à contribuição da gasolina, responsável por reduzir em 0,03 ponto percentual o IPCA-15 de junho.
Apesar do alívio vindo dos alimentos e combustíveis, outros grupos continuaram a pressionar o índice. O setor de Habitação foi o maior impacto do mês, com alta de 1,08% e contribuição de 0,16 ponto percentual. O reajuste nas tarifas de energia elétrica residencial, com aumento médio de 3,29%, influenciado pela adoção da bandeira vermelha patamar 1, contribuiu de maneira relevante para essa elevação. Outras altas foram registradas na taxa de água e esgoto (0,94%), no gás encanado (0,13%) e no item plano de saúde (0,57%).
O grupo Vestuário também apresentou alta (0,51%), puxado principalmente pelas roupas femininas (0,66%) e por calçados e acessórios (0,49%). Já o grupo Saúde e cuidados pessoais subiu 0,29%, influenciado especialmente pelos reajustes nos planos de saúde.
O grupo Transportes, por sua vez, teve leve alta de 0,06%, impactado positivamente pela gratuidade ou redução de preços no transporte público em cidades como Curitiba, Brasília e Belém. Já os serviços de táxi registraram variação de 0,21%, incorporando reajustes tarifários em capitais como Belo Horizonte.
Outros destaques incluem a variação de preços na Educação (-0,02%), único setor além da alimentação a registrar queda em junho. O acumulado trimestral do IPCA-15, chamado de IPCA-E, ficou em 1,05%, número próximo ao registrado no mesmo período de 2023 (1,04%). No acumulado de 12 meses, a inflação medida pela prévia ficou em 5,27%, abaixo dos 5,40% observados até o mês anterior.
No recorte regional, Recife liderou com a maior variação positiva (0,66%), impulsionada pelos aumentos na energia elétrica e na gasolina. Na outra ponta, Porto Alegre apresentou deflação de 0,10%, beneficiada pela queda nos preços do tomate e da gasolina.
A expectativa de analistas é que a tendência de desaceleração da inflação se mantenha nos próximos meses, sustentada principalmente pelo comportamento do grupo Alimentação e bebidas, que tem peso relevante no orçamento familiar. A redução nas pressões vindas dos combustíveis e a estabilidade no setor de serviços também devem contribuir para um cenário de maior previsibilidade nos preços.
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