O governo da República Islâmica do Irã reconheceu oficialmente que as instalações nucleares do país sofreram danos significativos após uma série de ataques aéreos realizados pelos Estados Unidos no último fim de semana. A confirmação veio por meio do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Esmail Baghaei, durante declaração pública nesta quarta-feira, 25 de junho. O representante diplomático admitiu que o impacto da ofensiva foi substancial, embora não tenha divulgado detalhes técnicos sob alegação de sigilo de Estado.
As declarações do governo iraniano coincidem com a decisão do Parlamento Nacional de suspender, por tempo indeterminado, a cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), braço de monitoramento nuclear das Nações Unidas. A medida foi aprovada por ampla maioria 221 votos favoráveis entre os 290 assentos — e reflete a escalada de tensões entre Teerã e Washington após o bombardeio direto a complexos nucleares, incluindo Fordow, Natanz e Isfahan.
A resposta do parlamento iraniano, endossada pelo Conselho Presidencial, prevê a interrupção imediata de todas as formas de fiscalização e compartilhamento de dados com a AIEA. A decisão é vista por analistas como um retrocesso crítico nos esforços internacionais de controle da proliferação nuclear, estabelecidos pelo Tratado de Não Proliferação (TNP), ao qual o Irã é signatário.
A justificativa apresentada pelas autoridades iranianas para a suspensão da cooperação recai sobre o que chamaram de “omissão deliberada” da AIEA em condenar os ataques contra as instalações nucleares. Segundo o presidente do parlamento, Mohammad Bagher Ghalibaf, a agência teria falhado em cumprir seu papel institucional ao não se manifestar diante do que classificou como “violação flagrante da soberania nacional e dos princípios do direito internacional”.
Do ponto de vista estratégico, a ruptura com a AIEA representa uma guinada crítica na postura iraniana diante do cenário geopolítico global, abrindo espaço para questionamentos sobre o nível de transparência futura do programa nuclear. O Conselho Supremo de Segurança Nacional será o órgão responsável por revisar periodicamente a suspensão e decidir eventuais condições para retomada da cooperação.
O impacto militar da ação americana permanece sob avaliações divergentes. Enquanto fontes de inteligência dos Estados Unidos indicam que os danos causados atrasariam o programa nuclear iraniano por poucos meses, o presidente Donald Trump declarou em Haia que os bombardeios equivaleriam, em escala, à ofensiva de Hiroshima, afirmando que o ataque a Fordow “encerrou a guerra”.
A comparação feita pelo líder americano gerou fortes reações internacionais. Segundo ele, o bombardeio implodiu os túneis subterrâneos e destruiu completamente as instalações, impossibilitando inspeções internas. O Departamento de Defesa dos EUA reafirmou que todas as bombas lançadas atingiram alvos estratégicos com precisão, utilizando armamento de alta penetração contra estruturas enterradas.
Entretanto, relatórios preliminares de inteligência indicam que os danos, embora extensos, não destruíram completamente a capacidade operacional das instalações nucleares. O grau real de comprometimento do programa permanece incerto, especialmente diante da suspensão da colaboração iraniana com os inspetores internacionais.
No campo diplomático, o Kremlin, por meio de seu porta-voz Dmitry Peskov, classificou os ataques como “ações injustificadas que desestabilizam a região e comprometem décadas de esforço diplomático”. A Rússia, tradicional aliada do Irã no cenário geopolítico, expressou preocupação com as consequências da ofensiva para o equilíbrio de forças no Oriente Médio.
No Irã, o clima é de resistência. Mesmo diante dos prejuízos técnicos e institucionais, o governo de Teerã reafirmou que o programa nuclear seguirá seu curso, reiterando o compromisso com fins pacíficos. O porta-voz do Conselho Presidencial, Abbas Goudarzi, citou o artigo 4 do TNP para sustentar o direito do país à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico nuclear.
Ainda que o Irã continue a negar qualquer intenção de produzir armamentos atômicos, a recente elevação nos níveis de enriquecimento de urânio, que chegaram a 83,7%, mantêm acesas as preocupações das potências ocidentais. O limiar para uso militar é de 90%, e os recentes avanços aproximam o país de um ponto tecnicamente crítico.
Enquanto o governo iraniano mobiliza apoio interno e endurece a retórica contra os Estados Unidos, cresce o temor de uma nova espiral de confrontos. A comunidade internacional acompanha com cautela o desenrolar dos acontecimentos, diante da possibilidade de que os ataques possam deflagrar uma nova fase do conflito regional.
O episódio sinaliza não apenas o colapso de um dos últimos canais diplomáticos abertos entre o Irã e o Ocidente, mas também a fragilidade de acordos multilaterais que visam à contenção nuclear global. A suspensão da colaboração com a AIEA marca, de forma simbólica e prática, um novo capítulo de incertezas no cenário estratégico internacional.
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