Brasília foi palco, nesta segunda-feira (23/6), de uma declaração que ecoou pelos corredores do Palácio Itamaraty como um chamado à ação: “Não há justiça climática sem justiça urbana e social.” A frase, dita com firmeza pelo ministro das Cidades do Brasil, Jader Barbalho Filho, marcou a abertura do Fórum de Urbanização do Brics e definiu o tom de um encontro centrado na urgência de repensar o desenvolvimento das cidades frente à crise climática e às desigualdades que desafiam as sociedades contemporâneas.
A solenidade de abertura do fórum reuniu representantes dos países-membros e parceiros do Brics, agora ampliado com a entrada da Indonésia em 2025, e contou com discursos que apontaram para uma mudança de paradigma: as cidades não são apenas vítimas das transformações climáticas — elas também são protagonistas na construção de soluções sustentáveis e inclusivas.
“Estamos diante de uma emergência dupla: o agravamento das mudanças climáticas e o avanço das desigualdades urbanas. E essas duas frentes se encontram nos mesmos territórios: nas cidades, especialmente nas periferias”, afirmou Barbalho Filho. Com ênfase na realidade da Amazônia, ele ilustrou os impactos diretos da crise climática sobre a população urbana mais vulnerável, defendendo que as políticas de moradia, saneamento e infraestrutura precisam estar no centro da resposta global.
Um Fórum com Propósito: Três Eixos para Transformar as Cidades
O encontro foi estruturado em três eixos temáticos, que guiaram os debates ao longo do dia e propuseram caminhos concretos para transformar os centros urbanos em ambientes mais justos e preparados para os desafios ambientais.
O primeiro painel destacou a habitação como prioridade estratégica, discutindo não apenas a construção de moradias, mas formas mais equitativas de financiamento, parcerias e planejamento urbano. A necessidade de soluções acessíveis e sustentáveis ficou evidente diante do crescimento desordenado das cidades.
Em seguida, o segundo eixo mergulhou na complexa tarefa de mensurar o impacto dos investimentos públicos. Avaliar a sustentabilidade com base em indicadores alinhados aos compromissos globais — como o Acordo de Paris e a Agenda 2030 — foi apontado como essencial para garantir que os recursos destinados ao desenvolvimento urbano realmente sirvam às populações mais necessitadas e à proteção do meio ambiente.
Por fim, o painel sobre financiamento da resiliência climática urbana buscou responder a uma pergunta fundamental: como garantir que a infraestrutura das cidades resista aos efeitos das mudanças climáticas? Soluções híbridas, combinando investimentos públicos e privados, surgiram como alternativas viáveis para promover justiça climática sem excluir os mais pobres.
A Força da Cooperação Sul-Sul
A diversidade de vozes presentes no fórum mostrou que, embora os desafios sejam compartilhados, as soluções podem ser construídas de forma colaborativa. A fala de Raul Omar Acosta Gregorich, presidente do Instituto Nacional de Ordenamento Territorial e Urbano de Cuba, sintetizou esse espírito de cooperação.
Com experiência em mais de 30 países, Gregorich reconheceu que Cuba enfrenta um déficit habitacional considerável, mas reforçou a capacidade de compartilhar conhecimento com os parceiros do Brics. “Temos necessidades, mas também temos soluções. Queremos aprender e contribuir. A força dos países do Sul está na experiência acumulada”, destacou.
Essa perspectiva de aprendizado mútuo, onde nenhum país assume apenas o papel de receptor de ajuda, mas de parceiro ativo, moldou o tom de um evento que vai além de discursos. O Fórum de Urbanização do Brics reforçou um entendimento comum: para que a justiça climática seja possível, é preciso enfrentar a desigualdade onde ela se expressa de forma mais visível — nas cidades.
Com o Brasil na presidência do Brics em 2025, a escolha de colocar a agenda urbana no centro dos debates internacionais revela um compromisso estratégico. Afinal, é nas ruas, nos bairros e nas periferias que as consequências das políticas globais são sentidas — e é nesses mesmos espaços que se pode construir um futuro mais resiliente, equitativo e sustentável.