O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou uma das mais relevantes viagens diplomáticas de seu terceiro mandato com destino à França e outros países da Europa. Em meio a uma extensa e simbólica agenda, Lula se reuniu com o presidente francês Emmanuel Macron, buscou fortalecer o diálogo para destravar o acordo entre a União Europeia e o Mercosul, promoveu a nova imagem econômica do Brasil para investidores e participou de homenagens que marcam o retorno do país à centralidade das relações internacionais.
Em Paris, nesta quinta-feira, dia 5 de junho, após a reunião bilateral no Palácio do Eliseu, Lula agradeceu a calorosa hospitalidade de Macron e fez um apelo político ao seu homólogo: que abra seu coração e apoie a conclusão do acordo entre os dois blocos econômicos. O presidente brasileiro assumirá, no próximo semestre, a presidência pro tempore do Mercosul e manifestou o desejo de não deixar o cargo sem consolidar o acordo com a União Europeia, que há mais de duas décadas é objeto de negociação.
“Portanto, meu caro, abra o seu coração para a possibilidade de fazer esse acordo com o nosso querido Mercosul”, declarou Lula, destacando que este seria um gesto político importante frente ao cenário internacional, onde ressurgem posturas de unilateralismo e protecionismo tarifário.
Além da pauta comercial, os presidentes firmaram cerca de 20 atos bilaterais envolvendo áreas estratégicas, como vacinas, segurança pública, educação, ciência e tecnologia, reforçando a cooperação entre os dois países. A parceria é fundamental, especialmente em setores como o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (ProSub), que envolve tecnologia de ponta e colaboração na área de defesa.
Lula também destacou que, entre os temas debatidos com Macron, figuram questões sensíveis da política internacional, como a guerra entre Rússia e Ucrânia, o conflito entre Israel e Palestina, especialmente o massacre em Gaza, além da cooperação em defesa e segurança internacional.
Outro marco importante desta visita é o anúncio previsto de uma nova declaração climática conjunta entre Brasil e França, reafirmando o compromisso dos dois países com as metas ambientais globais e o combate às mudanças climáticas. A expectativa também é de que sejam anunciados novos investimentos franceses no Brasil, reforçando a presença econômica da França, que atualmente é o terceiro maior investidor estrangeiro no país, com estoque superior a 66 bilhões de dólares e comércio bilateral de mais de 9 bilhões de dólares anuais.
Esta é a primeira visita oficial de um presidente brasileiro à França em 13 anos, desde a viagem realizada por Dilma Rousseff em 2012. O gesto sinaliza a intenção do governo brasileiro de recompor alianças históricas e ampliar sua presença nos fóruns multilaterais.
A agenda do presidente Lula na França também tem forte carga simbólica e cultural. Na sexta-feira, dia 6 de junho, ele receberá o título de doutor honoris causa pela tradicional Universidade Paris 8, reconhecimento conferido a personalidades de destaque internacional. Na mesma data, será homenageado na histórica Academia Francesa, criada em 1635, e que, em quase quatro séculos de existência, homenageou oficialmente apenas 19 chefes de Estado, sendo Dom Pedro II, em 1872, o único brasileiro a ter recebido tal distinção até hoje.
Lula visitará ainda a exposição “O Ano do Brasil na França”, realizada no Grand Palais, o principal centro de convenções do país. A programação celebra as relações culturais entre os dois países e prevê atividades em mais de 50 cidades francesas até setembro.
No âmbito econômico, o presidente brasileiro participará do Fórum Econômico Brasil-França, encontro que reunirá autoridades e empresários dos dois países, visando fortalecer parcerias estratégicas e ampliar investimentos no Brasil. Segundo Lula, a intenção é mostrar aos empresários franceses que o Brasil vive um bom momento econômico, estimulando novos negócios e consolidando a confiança internacional.
Outro evento de relevância será a cerimônia que formaliza o reconhecimento do Brasil como país livre da febre aftosa sem vacinação, decisão aprovada pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) no último dia 29 de maio. A conquista tem impacto direto na ampliação das exportações agropecuárias brasileiras, especialmente para mercados europeus exigentes em relação à segurança sanitária.
No sábado, 7 de junho, Lula terá outro encontro com Emmanuel Macron, desta vez em Toulon, na Base da Marinha Francesa. A visita marca a continuidade da cooperação no âmbito do ProSub, em retribuição ao gesto do presidente francês, que participou de uma agenda semelhante no Brasil em março do ano passado.
A extensa jornada internacional inclui ainda participação, no dia 8 de junho, em Mônaco, de um evento sobre economia azul, com foco na conservação e uso sustentável dos oceanos. Na sequência, Lula irá a Nice, onde será um dos líderes presentes na Terceira Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos, fórum que reunirá ao menos 60 chefes de Estado para discutir ações globais de proteção marinha.
Em Lyon, o presidente brasileiro visitará a sede da Interpol, a principal organização policial internacional, atualmente sob comando do brasileiro Valdecy Urquiza, delegado da Polícia Federal, reforçando a importância da cooperação internacional em segurança e combate ao crime transnacional.
Ao retornar ao Brasil, Lula será anfitrião, no dia 13 de junho, da Cúpula Brasil-Caribe, em Brasília, que contará com a presença de 15 líderes da região, estreitando laços políticos e econômicos com países vizinhos.
Por fim, Lula avalia ainda a participação na Cúpula do G7, que ocorrerá no Canadá entre 15 e 17 de junho. A decisão dependerá da adequação de sua agenda, uma vez que a sequência de compromissos internacionais impõe desafios logísticos e diplomáticos.
Com esta viagem, o presidente Lula busca não apenas reposicionar o Brasil como ator central nas grandes questões globais, mas também projetar uma nova imagem do país: comprometido com a democracia, aberto aos investimentos, protagonista na pauta ambiental e defensor do multilateralismo.
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