Durante a Cúpula dos Chefes de Estado do Brics realizada neste domingo, 6 de julho, no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a levantar uma das bandeiras centrais de sua política externa: a democratização das estruturas de poder global. Em um discurso incisivo e abrangente, o chefe do Executivo brasileiro defendeu reformas profundas no sistema financeiro internacional, a ampliação do protagonismo dos países emergentes e, sobretudo, uma governança ética e plural no campo da inteligência artificial.
O encontro do Brics que em 2025 reúne 11 países, entre eles Brasil, Rússia, China, Índia, África do Sul, Arábia Saudita, Irã, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Indonésia teve como tema central “Fortalecendo a cooperação do Sul Global para uma governança mais inclusiva e sustentável”. O Brasil, que exerce a presidência do bloco neste ano, busca liderar os esforços para reequilibrar a ordem mundial em favor das nações em desenvolvimento.
Justiça tributária, inteligência artificial e multilateralismo
Em sua intervenção durante a plenária “Fortalecimento do Multilateralismo, Assuntos Econômico-Financeiros e Inteligência Artificial”, Lula argumentou que o atual modelo de governança global penaliza os países pobres e transfere recursos dos menos favorecidos para as economias mais ricas. Citando números alarmantes, ele apontou que desde 2015, aproximadamente 3 mil bilionários acumularam US$ 6,5 trilhões em riqueza, enquanto o custo da dívida nos países pobres se agravou e os fluxos de ajuda internacional diminuíram.
“Justiça tributária e combate à evasão fiscal são fundamentais para consolidar estratégias de crescimento inclusivas e sustentáveis, próprias para o século XXI”, destacou. Ele ainda criticou o papel do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), que, segundo o presidente, operam um “Plano Marshall às avessas”, onde os países em desenvolvimento acabam por financiar os mais ricos.
Reforma das instituições multilaterais e comércio internacional
Lula defendeu a revisão do sistema de cotas do FMI, com a ampliação do poder de voto dos países do Brics, que atualmente respondem por apenas 18% do total, proporção que ele considera incompatível com o peso econômico e demográfico do grupo. Para o presidente, os votos dos países do bloco deveriam atingir ao menos 25% da composição decisória da instituição.
Também criticou o estado de paralisia da Organização Mundial do Comércio (OMC) e a ascensão do protecionismo disfarçado de políticas ambientais, o que cria um ambiente hostil ao comércio justo para os países do Sul Global. Segundo ele, é necessário “estabelecer um novo pacto sobre comércio e clima que distinga políticas ambientais legítimas de barreiras protecionistas disfarçadas”.
Governança da inteligência artificial e soberania digital
Um dos destaques do discurso de Lula foi sua proposta de governança justa e multilateral para a inteligência artificial. Ele alertou que o desenvolvimento da IA não pode se transformar em um privilégio de poucos países nem em um instrumento de dominação concentrado nas mãos de bilionários. “Não é possível avançar tecnologicamente sem a participação efetiva do setor privado e das organizações da sociedade civil”, afirmou.
Entre as medidas práticas anunciadas, o presidente propôs o estudo de viabilidade para instalação de cabos submarinos interligando diretamente os países do Brics. A ideia visa aumentar a velocidade, segurança e soberania das nações do bloco no tráfego de dados, elemento essencial em uma era marcada pela digitalização e por disputas geopolíticas em torno da informação.
Fortalecimento do Sul Global e papel do Brasil na presidência do Brics
Na abertura do evento, Lula reiterou o papel estratégico da diversidade do Brics para promover a paz e intermediar conflitos, e defendeu a reforma do Conselho de Segurança da ONU como medida essencial para garantir maior representatividade às nações emergentes. A programação da cúpula prevê, ainda nesta segunda-feira (7), a realização de debates sobre meio ambiente, saúde global e os preparativos para a COP30, que será sediada pelo Brasil em 2025.
A presidência brasileira no Brics, assumida em 2025 pela quarta vez, traz como prioridades a ampliação da cooperação Sul-Sul e a construção de parcerias voltadas ao desenvolvimento social, econômico e ambiental. O Brasil tem apostado em uma diplomacia ativa e propositiva, buscando liderar agendas transformadoras com foco na equidade global.
Números expressivos e comércio bilateral
O Brics representa atualmente 48% da população mundial, cobre 36% do território do planeta e responde por 40% do Produto Interno Bruto global. O comércio entre o Brasil e os demais países do grupo movimentou, de janeiro a junho de 2025, um total de US$ 107,6 bilhões, com exportações brasileiras somando US$ 59 bilhões e importações em torno de US$ 48,5 bilhões — resultado em um superávit de US$ 10,4 bilhões.
Os principais produtos exportados pelo Brasil para o Brics incluem soja, petróleo bruto, minério de ferro, carnes, açúcar e celulose. Em contrapartida, o país importa adubos, combustíveis, embarcações e maquinários dos demais membros do bloco.
Conclusão
Com firmeza e clareza de objetivos, o presidente Lula aproveitou a cúpula do Brics para colocar sobre a mesa questões estruturais que desafiam a ordem internacional vigente. Sua defesa de uma inteligência artificial ética, do fim do protecionismo disfarçado e da reforma de instituições multilaterais ecoa a histórica luta brasileira por mais justiça no cenário global. Ao reforçar o papel do Brics como espaço de articulação política e cooperação econômica, Lula reafirma o compromisso do Brasil com um mundo mais equilibrado, inclusivo e sustentável.
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