Mato Grosso do Sul, 14 de junho de 2025
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Mais de 488 mil aposentados recorrem aos Correios para contestar descontos suspeitos na Previdência

Número crescente de contestações presenciais revela desconfiança e exclusão digital entre idosos; INSS estima possível fraude bilionária e já bloqueou R$ 2,8 bilhões de entidades suspeitas
Correios (Foto:Divulgação)
Correios (Foto:Divulgação)

Em um país onde a confiança nas instituições é abalada dia após dia por escândalos de corrupção e fraudes, a descoberta de descontos indevidos em benefícios de aposentados e pensionistas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) mobilizou uma multidão silenciosa, muitas vezes invisível: os idosos. Desde o dia 30 de maio, mais de 488 mil segurados procuraram presencialmente uma agência dos Correios para contestar cobranças não autorizadas, somando-se a um total de mais de 3,1 milhões de contestações em todo o país

A medida, lançada para facilitar o acesso de quem tem dificuldades com tecnologia, oferece atendimento humanizado e direto, como destaca o presidente do INSS, Gilberto Waller. “É um atendimento olho no olho, presencial, em que a pessoa se sente segura. Em apenas duas semanas, já recebemos mais de 10% dos requerimentos por esse canal”, afirmou ele durante visita à agência central dos Correios, em São Paulo.

Maria Alves de Oliveira, de 83 anos, foi uma das idosas que aproveitou a celebração do dia de Santo Antônio para passar nos Correios. Sem acesso à internet e com apenas um telefone fixo, ela buscava apenas tranquilidade. “Não percebi desconto, mas vim por desencargo de consciência. Isso tudo é muito desumano. O ladrão roubando da gente que ganha um salário mínimo. Isso é duro”, desabafou.

A partir de segunda-feira, dia 16 de junho, quem já fez a contestação há mais de 15 dias úteis poderá retornar aos Correios para consultar a resposta das entidades envolvidas. Até o momento, 512 mil contestações foram respondidas com documentação apresentada por associações, supostamente autorizando os débitos. Outras 100 mil estão sendo tratadas na Justiça. O restante segue em análise.

De acordo com Waller, os dados reforçam que parte significativa da fraude foi cometida por entidades fantasmas, muitas delas fundadas em 2020 e 2021. “Elas operaram por dois anos e aplicavam valores baixos, abaixo da média de R$ 48, talvez para não chamar atenção. O que se previa inicialmente como prejuízo de até R$ 9 bilhões, pode na verdade ser em torno de R$ 1,8 bilhão, podendo chegar a R$ 2,12 bilhões com correção”, explicou.

O INSS ainda não estipulou prazo para o ressarcimento das vítimas, mas o governo já iniciou o bloqueio de bens de entidades envolvidas, somando R$ 2,8 bilhões. “Desde o início, o objetivo é que o dinheiro saia do bolso de quem lesou nossos aposentados e pensionistas”, enfatizou Waller.

No estado de São Paulo, 634 agências dos Correios estão habilitadas para esse tipo de atendimento. Em nível nacional, são mais de 5 mil unidades. O serviço é gratuito e requer apenas documento oficial com foto. Em caso de impossibilidade de comparecimento, o beneficiário pode nomear representante com procuração válida.

A operação que revelou a fraude foi deflagrada em abril deste ano pela Polícia Federal, batizada de Operação Sem Desconto. As investigações apontam que entre 2019 e 2024, cerca de R$ 6,3 bilhões foram descontados de maneira irregular, por meio de associações e sindicatos que atuavam à margem da legalidade.

Para muitos, como Luiz Alberto Ribeiro de Sena, de 70 anos, que compareceu aos Correios com dificuldades de locomoção após um AVC, a indignação é acompanhada pela esperança de justiça. “Não autorizei nenhum desconto. Isso é um roubo. Quero meu dinheiro de volta, seja quanto for”, afirmou com firmeza.

Já o aposentado Edson Conceição Santos, de 74 anos, saiu aliviado ao saber que não havia descontos em sua aposentadoria. “Conversei com o presidente do INSS e disse que meu negócio é olho no olho. Não tenho aplicativo e não quero cair em golpe”, contou.

Vinícius Moreno, superintendente dos Correios na região metropolitana de São Paulo, reforça a importância da ação. “Com um simples documento com foto, o segurado já sai da agência com o protocolo de contestação, e depois de 15 dias úteis, pode retornar para consultar a resposta”, explicou. Somente na agência central da capital paulista, quase mil atendimentos foram registrados. No estado, já são cerca de 50 mil.

A orientação final dos Correios é clara: nenhum funcionário está autorizado a ir à casa dos segurados para realizar esse atendimento. O serviço ocorre exclusivamente por meio dos canais oficiais – aplicativo Meu INSS, site do INSS, Central 135 ou agências dos Correios.

Ao mesmo tempo em que escancara uma ferida social, o caso mostra o poder da mobilização silenciosa dos aposentados brasileiros, que mesmo com limitações físicas e digitais, resistem e exigem justiça. A dignidade de quem trabalhou a vida toda não pode ser reduzida a um número de protocolo.

Como contestar descontos indevidos no benefício do INSS

  1. Verifique o extrato de pagamento
    Acesse o aplicativo Meu INSS, o site meu.inss.gov.br ou ligue para a Central 135. Consulte o extrato de pagamento e verifique se há algum desconto não reconhecido.
  2. Escolha a forma de contestação
    Você pode contestar de três maneiras:
    • Pelo aplicativo Meu INSS (opção “Solicitações” > “Novo pedido” > “Contestação de desconto indevido”);
    • Pela Central 135;
    • Presencialmente em qualquer agência dos Correios habilitada, levando documento com foto.
  3. Receba o protocolo de atendimento
    Após a contestação, o sistema gera um número de protocolo. Guarde este número para acompanhamento posterior.
  4. Aguarde 15 dias úteis
    Após esse prazo, retorne aos canais utilizados para verificar se houve resposta da associação ou entidade sobre o desconto.
  5. Se necessário, nomeie um procurador
    Caso o segurado não possa comparecer presencialmente, é possível nomear um representante legal com procuração válida (autenticada e específica para o caso).

Linha do tempo da Operação Sem Desconto

  • Abril de 2024
    Polícia Federal deflagra a Operação Sem Desconto após denúncias de descontos não autorizados nos benefícios do INSS.
  • Maio de 2024
    INSS abre canal de contestação digital e identifica mais de 2 milhões de registros suspeitos.
  • 30 de maio de 2024
    Início do atendimento presencial nas agências dos Correios em todo o Brasil, voltado principalmente a idosos e pessoas com acesso limitado à internet.
  • 13 de junho de 2025
    Presidente do INSS, Gilberto Waller, visita a agência central dos Correios em São Paulo e revela que 488 mil pessoas já buscaram atendimento presencial.
  • 16 de junho de 2025
    Data a partir da qual os aposentados que contestaram há mais de 15 dias úteis poderão consultar presencialmente as respostas das entidades.

Perfil das entidades suspeitas de aplicar descontos fraudulentos

  • Origem recente e atuação digital
    A maioria foi criada entre 2020 e 2021, muitas sem sede física ou atuação real. Eram entidades fantasmas com aparência de legalidade.
  • Valores baixos para não chamar atenção
    Descontos médios inferiores a R$ 48 por mês eram aplicados para não despertar suspeitas nos beneficiários.
  • Operação silenciosa e disseminada
    Com atuação em diversas regiões, essas entidades se passavam por associações de classe ou sindicatos que ofereciam “benefícios” genéricos.
  • Desdobramentos judiciais
    Parte das entidades já respondeu judicialmente, e R$ 2,8 bilhões foram bloqueados em seus bens. Investigações seguem em curso.
  • Apuração em andamento
    Mais de 3,1 milhões de contestações foram registradas. INSS e CGU acreditam que o total de lesados pode se aproximar de 4,1 milhões de pessoas.

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