O ex-policial militar Ronnie Lessa, acusado de executar Marielle Franco e Anderson Gomes, delatou Domingos Brazão como um dos mandantes do crime. A informação é do site de notícias The Intercept Brasil, veiculada nesta terça-feira (23/1). Fontes ligadas à Polícia Federal confirmaram que o nome foi citado no inquérito.
De acordo com Lessa, o crime foi encomendado em março de 2018, mesmo mês da morte da vereadora e do motorista. O ex-PM, acusado de executar os dois, está preso desde março de 2019.
Brazão, atualmente, é conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro o que confirma que o mandante teria foro privilegiado. O acusado também foi deputado estadual por cinco mandatos consecutivos, em que acumulou polêmicas suspeitas de corrupção até ser afastado.
A reportagem conversou com fontes da Polícia Federal em Brasília e no Rio de Janeiro, ligadas à investigação. Uma das autoridades informou que o caso está próximo da conclusão e que Domingos Brazão realmente foi citado, mas não soube dizer se foi apontado como mandante.
Uma outra fonte destacou que ainda não houve a homologação do acordo perante o STJ, portanto, ainda não é possível verificar a veracidade dos elementos apontados.
Procurado pela reportagem, o advogado Palma, que defende Brazão, não se manifestou, até o momento. Em caso de resposta, o texto será atualizado.
Quem é Domingos Brazão
Político de carreira e atual conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, Domingos Brazão teria sido apontado pelo atirador Ronnie Lessa como um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes.
Brazão, de 58 anos, é líder de um poderoso grupo político da zona oeste do Rio, berço das milícias cariocas. Foi deputado estadual por cinco mandatos consecutivos, onde acumulou polêmicas e suspeitas de corrupção até ser afastado e, posteriormente realocado como conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro. Em sua ficha, figuram acusações de improbidade administrativa, fraude, envolvimento na chamada ‘máfia dos combustíveis’ e o envolvimento com milícias para a compra de votos.
Em 2011, ele chegou a ter seu mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral do RJ por suposta compra de votos na Zona Oeste do Rio, local considerado seu reduto eleitoral desde a primeira eleição em 1999. A decisão foi anulada após uma liminar concedida pelo Tribunal Superior Eleitoral no mesmo ano.
O nome de Brazão apareceu pela primeira vez publicamente na investigação caso Marielle em 2019, após o depoimento do policial militar Rodrigo Jorge Ferreira acusar o então vereador Marcello Siciliano e o miliciano Orlando Curicica como os mandantes do crime. À época, a Polícia Federal desconfiou que as denúncias contra Siciliano e Curicica tinham o objetivo de obstruir as investigações, e que Ferreira atuaria em nome de grupo ilegal chamado “Escritório do Crime”. Posteriormente, esse grupo foi relacionado a Brazão.
A possível hipótese de motivação
A principal hipótese trazida nas investigações envolvendo Brazão, segundo o Intercept, envolve uma suposta vingança contra o ex-deputado Marcelo Freixo, à época filiado ao PSOL. Enquanto também deputado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Brazão entrou em disputas políticas com Freixo. Marielle trabalhou com Freixo durante 10 anos, até ser eleita vereadora, em 2016.
A rixa entre os parlamentares tem origem central em 2008, quando o nome de Brazão foi citado no relatório final da CPI das Milícias, presidida por Freixo, como um dos políticos ‘liberados’ para fazer campanha política em Rio das Pedras.
Em 2017, Freixo também teve papel central na Operação Cadeia Velha, que ocorreu cinco meses antes do assassinato da vereadora e prendeu políticos influentes do MDB no Rio de Janeiro.
Em nota, a deputada estadual Mônica Benício, viúva de Marielle, disse ter visto com “preocupação o vazamento de informações que possam comprometer a condução das investigações” sobre o caso. Também ponderou que o conteúdo da delação de Lessa ainda não foi homologado.
“As famílias reiteram seu apelo por responsabilidade na veiculação de informações sobre o caso, evitando usos de diversas ordens e finalidades”, afirmou. “Não aceitaremos que o Caso Marielle e Anderson seja simplificado e interpretado apenas como objeto de disputas e interesses pessoais ou de grupos políticos“.