Mato Grosso do Sul, 24 de janeiro de 2025
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Menopausa sem tabu: saiba os impactos no corpo e os novos hábitos e tratamentos que vão reduzir os sintomas

Climatério e menopausa com ou sem reposição hormonal, alimentação estratégica, suplementos, exercícios e sono de qualidade; especialistas quebram mitos e mostram que é possível melhorar a qualidade de vida
Foto: Freepik
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Ondas de calor, ganho de peso, alteração de humor, queda da libido, ressecamento vaginal, metabolismo lento, perda da qualidade de sono, perda da firmeza e elasticidade da pele… Esses são alguns dos sintomas que costumam gerar pânico na mulher ao se falar de menopausa. Não por acaso, esse assunto foi considerado um tabu por muitos anos.

Com o empurrãozinho das redes sociais e do empoderamento feminino, fortalecido pelos movimentos feministas recentes, o caminho começou a se abrir para o compartilhamento de experiências e informações de forma mais ampla e com menos preconceito.

“Comecei a falar sobre menopausa em 2018, quando completei 50 anos e não fazia ideia do que estava acontecendo comigo. Há cinco anos, pouquíssimas mulheres falavam sobre esse assunto e eu me arrisquei a contar o que estava acontecendo comigo”, lembra Claudia Arruga, criadora do perfil “Cool50s”, citando quadros de insônia, alterações de humor, ganho de peso, irritação e, principalmente, “a falta de acolhimento médico”.

“Percebi que esse assunto rodeava as mulheres de 50 que, como eu, estavam no limbo. Vejo que o panorama mudou completamente. Avançamos muito com as centenas de perfis no Instagram que abordam o tema e é fato: a internet teve um papel fundamental para desmistificar a menopausa.”

“Liberdade é uma palavra forte quando o assunto é ‘falar’ sobre nossas menopausas. Sinto que há mais curiosidade, mas não total intimidade com a transição menopáusica. O assunto ainda fica para o final da conversa num encontro entre amigas, se resume, muitas vezes, em uma frase, comentário ou algo dito por um médico em uma consulta”, opina Danielle Chyla, do perfil “Antes dos Cinquenta”.

A menopausa dos novos tempos: recursos e conhecimentos

Para a ginecologista Joele Lerípio, pós-graduada em fisiologia do envelhecimento saudável e especialista em Climatério e Menopausa, o conhecimento é essencial para que cada vez menos o tabu atrapalhe a chance de melhora da qualidade de vida das mulheres que estão entrando no climatério.

“É um evento que faz parte do ciclo natural da vida da mulher. É a representação do término da nossa fase reprodutiva e dali para frente é uma fase que a gente não vai engravidar mais de forma espontânea. Do ponto de vista cultural, a mulher que não pode gestar não tem mais valor, porque está ‘velha’”, explica ela, afirmando que os tempos são outros.

“Antigamente, a mulher de 50 anos tinha uma aparência mais judiada porque não tínhamos todos os recursos e conhecimentos dos benefícios que temos hoje. Nós não tínhamos os recursos estéticos dos bioestimuladores, não era globalizado”, cita a médica. Segundo ela, a mulher está começando a se preparar para esse processo mais cedo e muitas vezes tem referências de pessoas que estão chegando bem nessa fase através do que vêem nas redes sociais: “É uma forma de espelhamento.”

Para a atriz Ângela Dippe, em cartaz com a comédia “Da Puberdade à Menopausa”, a sua experiência foi bem diferente do que se tem atualmente, e ela revela essas vivências de forma bem-humorada no palco. “Como eu estava sem orientação, criei um grupo no Facebook que tinha várias atrizes e gente de todo lugar que não sabia direito como lidar. Mas a primeira coisa era ter a certeza de que o grupo era secreto, porque ninguém queria que se soubesse que estava na menopausa, era tabu total”, lembra a artista.

“Trocávamos receitas, mas parecíamos criminosas. E não se chegava à conclusão nenhuma. O que mais me incomodou foram os calores, eu até anotava para saber se tinha uma lógica, e não tinha a porcaria da lógica. Era insuportável! A pele virou um semiárido, uma caatinga, o chão do sertão toda craquelada”, lembra Ângela Dippe.

“Na minha época tinha muita desinformação. Agora está muito mais fácil e daqui um tempo vai estar mais ainda. Estou com 61, entrei no climatério quando tinha 48. As coisas mudaram muito. Hoje em dia a menopausa dá like, seguidor, glamour. Naquela época dava medo e pânico.”

Quais são os impactos da menopausa no corpo da mulher

A parte estética é uma questão que pesa para todas as mulheres, afirma a Dra. Joele Lerípio. Mas o seu objetivo é cuidar da melhora da qualidade de vida no envelhecimento delas: “Eu trabalho com a parte hormonal. Elas vêm para mim querendo melhorar a sua vida. Uma frase que escuto muito é: ‘Joele, eu não me reconheço mais, eu não sou mais quem eu era.’”

E isso está relacionado com o processo de perda hormonal que se inicia na perimenopausa: “Aquele corpo está mais cansado, mais esquecido, sem libido, ganhando gordura muito facilmente e mais flacidez, o sono está péssimo. O que mais vejo é o desejo de se reencontrar, de se reconhecer de novo, de voltar a ter energia depois de um dia de trabalho, de voltar a querer namorar.”

A especialista afirma que muitas pacientes ainda reclamam do ganho de peso, mas não de forma tão recorrente quanto as outras queixas listadas. “Ela passa a ser uma pessoa mal-humorada, irritada, com baixa tolerância, com baixa energia. E com a baixa de alguns neurotransmissores, surge um quadro de depressão relacionado à baixa da dopamina, é a depressão de nada ter graça”, explica.

Mudança de hábitos a partir dos 40 anos e alimentação estratégica

A escolha dos alimentos passa a ser essencial para a mulher que está a caminho do climatério. E a nutricionista explica os motivos para se fazer as escolhas certas:

“Não estamos falando de um cardápio de 30 dias, é uma mudança de estilo de vida para uma melhor qualidade. Por isso é importante que a mulher entenda o que está acontecendo no seu corpo para ter uma maior autonomia na escolha dos alimentos que vai ingerir.”

  • Alimentação hipocalórica: “O metabolismo já está pior, então é necessário reduzir as calorias. Mas isso não basta. A proteína tem que ser alta. Deve-se prestar atenção na quantidade e na distribuição dessa proteína, porque naturalmente já estamos perdendo massa muscular. Vejo que as mulheres nessa idade começam a diminuir o consumo de proteína, e a gente precisa. Temos que lutar contra a perda muscular para poder começar a ganhar.”
  • Estímulo da mitocôndria: “Tudo o que a gente come tem as células como destino final, e o objetivo é que vire energia. A mitocôndria faz essa conversão do nutriente para virar energia, seja para realizar qualquer atividade como também para o funcionamento do próprio organismo. Naturalmente, o envelhecimento faz com que a sua mitocôndria trabalhe menos e fique menos eficiente. Para melhorar o metabolismo, temos que apostar na eficiência dessa mitocôndria através da alimentação.”
  • Jejum intermitente: “É uma estratégia de alimentação para a mulher 40+ por vários motivos, e um deles é o funcionamento da mitocôndria, que vai melhorar o metabolismo. A gente tem que melhorar esse metabolismo com a massa muscular, é uma forma de incrementar o gasto energético.”
  • Fitormônios: “É importante enfatizar os hormônios através dos alimentos, os fitormônios. São moléculas existentes em alguns alimentos que agem no nosso corpo. Elas se ligam aos receptores dos hormônios do nosso corpo fazendo a mesma ação. Quando colocamos esses alimentos na dose certa, melhoramos os sintomas e protegemos o corpo por conta dessa ação. Independentemente de a pessoa fazer a reposição hormonal, a quantidade de fitormônios tem que vir também pela alimentação. A quinoa, o grão de bico, a lentilha, arroz integral, feijão, aveia, por exemplo, são grãos muito bons porque têm muito antioxidante e fitormônios.”

Reposição hormonal na menopausa: tratamento não é o mesmo do passado

A reposição hormonal é o tratamento que costuma ser mais indicado para uma melhor resposta aos sintomas da menopausa, mas ainda gera dúvidas entre as mulheres. “Existem as que não podem fazer terapia de reposição hormonal por alguma contraindicação e as que não querem por pânico, medo em função de crenças baseadas em estudos antigos com hormônios que não são os mesmos utilizados hoje. Isso ficou muito forte e arraigado na população, inclusive em médicos”, explica a ginecologista.

“Sem dúvida que quando a gente faz a reposição hormonal com os hormônios certos, com as doses certas e pelas vias de administração certas, temos como resposta a melhora da qualidade de vida dessa mulher. É tirar com a mão a grande maioria dos sintomas dela”, afirma a médica, acrescentando que muitas delas relatam nas redes sociais que passaram a rever a questão após ouvir as explicações da doutora nas redes sociais.

De acordo com o recente Estudo Brasileiro de Menopausas divulgado pela revista da Associação Brasileira de Climatério (Sobrac), dentre as 1.500 mulheres ouvidas, com faixa etária na média de 52 anos, 26,1% disseram estar na fase de climatério, transição da fase reprodutiva até a menopausa com a redução gradual da produção do estrogênio, hormônio sexual feminino.

Os sintomas mais citados foram os fogachos, que correspondem às ondas de calor (73,1%), aparecendo, em média, aos 47 anos. A pesquisa mostrou que mais de 90% das mulheres que se submeteram à terapia de reposição hormonal (administração dos hormônios femininos, como estrogênio e progesterona) relataram melhoria nos sintomas.

A médica aponta que muitas pessoas falam sobre tratamento hormonal sem ter conhecimento real do que é. “Eu acredito em todos os benefícios maravilhosos que ela traz, mas eu conheço todos os riscos também. Hormônio é extremamente potente para melhorar a saúde de uma mulher, mas também para piorar a saúde de uma mulher que tem contraindicação e que ainda assim um profissional indica para ela usar”, alerta.

A nutricionista funcional acrescenta sobre a contribuição desse tipo de tratamento: “A reposição hormonal é muito segura hoje. É feita com hormônios bioidênticos, isomolecular, tem muito pouca contraindicação, mas ainda assim tem pessoas que não podem fazer. E de qualquer maneira, se você puder usar mais hormônios vindos da alimentação, melhor. Mas eu acho que quem pode, deve fazer a reposição hormonal.”

Isso porque mesmo que a pessoa faça a reposição, se a alimentação for rica em fitormônio, os benefícios do tratamento são ainda melhores. “Porque esses hormônios naturais têm uma ação anti-câncer, não só não aumentam o risco de câncer, mas previnem. Eles trabalham muito como antioxidantes, para a proteção do cérebro e do corpo inteiro, e ainda estimulam bactérias boas da nossa microbiota intestinal”, lista Flávia Cyfer.

Hábitos essenciais para reduzir os sintomas da menopausa

Mas não basta esperar que a reposição hormonal resolva todos os sintomas. Segundo a ginecologista Joele Lerípio, se essa fosse a única solução, as mulheres que não fazem o tratamento não iam melhorar nunca. “Tenho pacientes que sem reposição hormonal estão melhores do que algumas que estão com reposição. A reposição é a cereja do bolo num corpo que está comendo direito, num intestino que está absorvendo direito. E é preciso que essa mulher entenda que exercício físico não é opcional”, alerta.

Os exercícios estão dentro do tratamento para o novo envelhecimento e para que essa fase de climatério e menopausa seja menos cruel, acrescenta a médica. “E é bom entender que o sono reparador é a base de qualquer ponto na saúde. Se a paciente não estiver dormindo bem, não adianta eu só me preocupar com os fogachos dela.”

Ou seja, o ponto de partida é entender como está o sono, a alimentação, o intestino, e a prática de exercícios. “E a partir daí, avaliar o hormônio ou os fitoterápicos. Para quem não pode o hormônio, eu vou substituir para uma suplementação de vitaminas e fitoterápicos”, ressalta.

Já com relação às atividades físicas, a Organização Mundial de Saúde recomenda 150 minutos de exercícios moderados por semana. “Peço que as minhas pacientes se exercitem pelo menos cinco vezes na semana. Nessa faixa etária, exercícios de força, com peso. O aeróbico é importante, mas quem vai segurar a massa muscular e a óssea é o peso.”

Suplemento alimentar para a menopausa: o poder do Ômega 3 e Silício

Os suplementos alimentares costumam ser muito indicados para a mulher que está entrando no climatério, mas a nutricionista pondera: “A alimentação é a base de tudo. Não adianta tomar um suplemento e não ter uma alimentação maravilhosa. Se puder incluir o suplemento para dar um suporte, é muito bom.”

O ômega 3 é essencial por oferecer vários benefícios para a saúde da mulher. “O grande perigo da mulher na menopausa é a parte cardiovascular e ele tem um efeito anti-inflamatório muito potente. É um suplemento que vai agir no suporte cardiovascular, na ação anti-inflamatória ajudando na proteção do cérebro, vai ajudar na parte da microbiota e na melhora do foco e da concentração. Muitos estudos vêm mostrando uma melhora nos sintomas dos fogachos e outros relacionam ainda a importância do Ômega 3 para a depressão”, destaca ela.

Já o silício é um importante aliado para colaborar na questão estética, segundo Flávia Cyfer. “É um mineral fundamental para a formação de colágeno, ele vai te dar a matéria-prima. E nesse processo de biossíntese de colágeno, existem dois nutrientes limitantes, que se não tiver no seu corpo não vai fazer o colágeno: a vitamina C e o silício”, explica ela.

Os benefícios do silício não se limitam à pele. A especialista acrescenta que, de acordo com vários estudos, ao complementar o silício a partir de 40 anos, o incremento da produção de colágeno também é sentido na massa óssea e nas articulações: “Claro, desde que você esteja consumindo uma quantidade de proteína adequada e se alimentando de forma correta.”

Efeitos da menopausa na estética e saúde íntima: o que muda e tratamentos

A queda da produção de colágeno e os efeitos disso na pele são uma das queixas recorrentes das mulheres que estão entrando no climatério. Segundo a dermatologista Juliana Piquet, os impactos principais na pele são perda de firmeza e de elasticidade, poros dilatados ou flácidos, alterações vasculares (flushing e telangiectasias, vasos aparentes), rugas, ressecamento, prurido (coceiras em diferentes pontos), cicatrização ruim, crescimento de pelos na face e diminuição do turgor (tônus) e hidratação.

“Nos cabelos, há uma alteração da qualidade dos fios, que ficam mais finos, secos, quebradiços e com menos densidade capilar”, lista ela. No corpo, a médica cita a redistribuição de gordura, com aumento da adiposidade visceral. De acordo com a Dra. Juliana Piquet, o ideal para amenizar esses efeitos é iniciar alguns procedimentos estéticos antes de entrar na menopausa, quando já se observa alguns sintomas devido à “flutuação nos níveis de estrogênio”.

“Como existe uma queda de cerca de 30% do colágeno nos primeiros 5 anos da menopausa, ligada diretamente à queda nos níveis de estrogênio, e não à idade, e depois de cerca de 2% ao ano por cerca de 15 anos, o ideal é iniciar o tratamento no período da perimenopausa, que antecede em cerca de 4 a 5 anos à parada da menstruação.” A dica da dermatologista é a realização de uma ‘poupança’ de colágeno, assim como manter o estímulo regular, especialmente nestes primeiros anos.

Para quem já entrou na menopausa, existem caminhos para amenizar os impactos na pele. “O ideal é investir nos tratamentos que visam o estímulo à síntese de colágeno, com melhora na flacidez, além da correção dos problemas que já surgiram com o uso de lasers para melhoria do aspecto dos poros ou de manchas, preenchimento em pontos estratégicos seja para reposicionar tecidos ou para repor volumes perdidos”, indica ela, citando também tratamentos que ajudam na regeneração da função da pele, como os bioestimuladores e bioremodeladores de colágeno.

Até mesmo para a região vaginal já existem tratamentos que colaboram para um melhor conforto num momento em que várias mudanças são sentidas pela mulher na saúde íntima, além da estética. “Com a menopausa, acontece a síndrome geniturinária, onde ocorre atrofia e ressecamento vulvovaginal, perda de elasticidade, irritação, prurido e urgência urinária.”

E de que forma as tecnologias atuam na região íntima? “Elas agem internamente e externamente para melhorar, além dos sintomas descritos, a flacidez, a pigmentação, a hidratação e a perda de volume na região”, explica a dermatologista, citando os procedimentos mais comum para esses casos: os lasers de CO2, o Ultraformer MPT e o Spectra.

Para Ângela Dippe, que também se destaca em vídeos de humor nas redes sociais com texto da pesquisadora Mirian Goldenberg, até a facilidade de se buscar lubrificantes e testar novos caminhos são um ganho para as mulheres. “Hoje em dia tem um monte de lubrificante, naquela época não tinha para a secura vaginal. Tem até o óleo de coco, você passa aqui, ali e se sobrar ainda frita um bife. Fiz todo o tipo de laser, que na minha época não tinha, e virei sommelier de lubrificante. O pudor atrapalha a saúde feminina, por isso é tão bom normalizar os perrengues”, reforça a artista com leveza e humor.

‘Não precisa ter medo da menopausa, tem que ter curiosidade’, orienta a ginecologista

Para Cláudia Arruga, ainda existem muitas dúvidas e mitos sobre o assunto mesmo com informações importantes em muitos feeds. “Faz sentido, pensando que cada mulher atravessa o climatério de uma forma individualizada. Eu, por exemplo, não tive fogachos, mas leio relatos de muitas mulheres que têm esse como principal sintoma. Engraçado que a libido, ‘no pé’, é mencionada, mas não com tanta importância que os outros”, aponta a criadora do perfil “Cool50s”.

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