Uma foto publicada no X (antigo Twitter) pela Força Aérea de Israel no último fim de semana, e apagada algum tempo depois, causou polêmica entre especialistas em munições. Em meio à guerra na Faixa de Gaza contra o grupo terrorista Hamas, a imagem mostra um helicóptero de ataque Apache com mísseis ar-terra Hellfire, ambos de fabricação americana.
Logo em seguida, conhecedores de assuntos militares começaram a questionar as cores dos mísseis — o tradicional tem listras amarelas, enquanto o “misterioso” tem uma cor mais acinzentada diferente e listras vermelhas.
A Força Aérea deletou a foto e logo a substituiu por uma em que aparecem os mísseis Hellfire clássicos. Mesmo assim, as discussões nas redes sociais e blogs especializados continuaram.
O editor de defesa do The Drive, Thomas Newdick, escreveu que “uma faixa vermelha, no entanto, é totalmente mais misteriosa e raramente ou nunca vista em um Hellfire”.
O perfil Aerospace Intelligence, no X, fez uma suposição: “Vermelho geralmente significa incendiário, e encontrei isso em um documento de 1999 (mas não tenho certeza se Israel usa o mesmo código de cores)”.
Outra alternativa cogitada nos fóruns foi de que se trata de uma versão termobárica do míssil Hellfire, o que faria muito mais sentido no contexto da guerra na Faixa de Gaza.
Enquanto uma bomba convencional utiliza o próprio oxigênio, a termobárica usa o oxigênio do ambiente para intensificar a explosão.
Esse tipo de munição é projetado para causar danos significativos em uma área, sendo particularmente eficaz em alvos em espaços confinados, como bunkers, túneis e edifícios, dada sua capacidade de gerar uma forte onda de calor (termo) e pressão (bárico).
Os túneis utilizados pelos terroristas do Hamas e da Jihad Islâmica na Faixa de Gaza são justamente um desafio para os militares israelenses.
Newdick cita uma versão específica do Hellfire, o AGM-114N, que tem uma ogiva termobárica.
“A versão N, também conhecida como Hellfire de carga aumentada de metal (MAC), destina-se especificamente à destruição de alvos fechados, do tipo que as FDI [Forças de Defesa de Israel] estão repetidamente atingindo em Gaza. Comparada a uma ogiva de explosão/fragmentação, uma ogiva termobárica é capaz de destruir todo o 1º andar de um edifício, por exemplo, mas deixar os andares acima dele (relativamente) intactos. Um míssil termobárico também é mais adequado para atingir forças inimigas escondidas em cavernas, bunkers ou redes de túneis, do tipo que se prolifera em Gaza.”
Versão que não explode
Uma versão do Hellfire chamada R9X ficou conhecida por ter sido usada no assassinato do líder da organização terrorista Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, na varanda da casa dele, no Afeganistão, no ano passado.
Na ocasião, um alto funcionário do governo dos EUA disse a repórteres da agência de notícias Reuters que dois mísseis Hellfire foram disparados de um drone. Ninguém mais ficou ferido no ataque.
O RX9 não explode, mas tem seis lâminas afiadas que se abrem no momento em que se aproximam do alvo.
Hellfire
O nome Hellfire é uma abreviatura em inglês para o termo “helicopter launched fire-and-forget” (lançado de helicóptero, tipo dispare-e-esqueça). São bombas de fabricação da americana Lockheed Martin. Cada unidade tem custo estimado de US$ 150 mil (R$ 740 mil).
Os mísseis Hellfire são uma família de armas inteligentes usada por helicópteros e drones (mais especificamente o Apache e o MQ-1C Gray Eagle, respectivamente).
Foi o mesmo armamento utilizado para eliminar o comandante da Guarda Revolucionária do Irã, Qassem Soleimani, em um ataque por drone na saída do aeroporto de Bagdá, no Iraque, em janeiro de 2020.
Eles são guiados por laser e têm diversos tipos de ogiva para destruir tanques, alvos urbanos e estruturas. Uma versão mais recente permite escolher o tipo de explosão para alvos variados.
A versão Longbow Hellfire usa radar para encontrar alvos, é eficaz contra tanques, com recursos especiais, como operação em mau tempo.
O Hellfire pesa 45 kg, tem 1,75 m de comprimento e pode ser disparado de até 8 km de distância.
