A madrugada de um domingo, que deveria ser apenas mais um fim de semana tranquilo na pequena cidade de Cassilândia, no interior sul-mato-grossense, transformou-se em um enredo de dor, angústia e suspeita de crime contra a vida de uma mulher. Desde o desaparecimento de Thácia Paula Ramos de Souza, de 39 anos, na noite de 11 de maio, o silêncio em torno do paradeiro da vítima tornou-se insuportável para sua mãe, Fátima Aparecida Ramos, que afirma, com a firmeza de quem já viu demais: “Tenho certeza que ele matou minha filha.”
Thácia, que vivia há quatro anos com o suspeito, desapareceu após ter sido vista pela última vez ao lado dele, durante a tradicional festa do “Baile do Queijo e Vinho”. O evento, aguardado anualmente pelos moradores da cidade, tornou-se o marco do último momento em que a mulher foi avistada em vida. Segundo a versão apresentada pelo homem à polícia, ele teria deixado Thácia na entrada da cidade durante a madrugada. No entanto, essa narrativa começou a ruir quando evidências vieram à tona, revelando inconsistências e traços de um desfecho mais trágico.
Histórico de medo e manipulação
Para Fátima, a hipótese de que a filha tenha desaparecido voluntariamente é completamente inaceitável. Moradora de Itajá, no interior de Goiás, ela revela ter buscado Thácia por diversas vezes em Cassilândia, em tentativas desesperadas de afastá-la de um relacionamento marcado por agressões, manipulações emocionais e ameaças constantes.
“Ele batia nela direto. O filho dela, de 18 anos, saiu de casa por não aguentar mais ver a mãe sendo ameaçada. Eu mesma fui lá três vezes tirar ela de perto dele. Mas ele sempre voltava com presentes caros, com buquês, com palavras doces… e ela cedia”, relatou a mãe, visivelmente abalada. As tentativas da família para afastar Thácia do ciclo de violência, porém, não foram suficientes para impedir o que hoje parece ser o desfecho mais temido.
Buscas intensas e revelações sombrias
As buscas realizadas desde o desaparecimento ganharam novo rumo quando a polícia encontrou um sapato de Thácia à margem do Rio Aporé, próximo a uma mancha de sangue. A perícia foi acionada e, diante das evidências, o delegado Rodrigo de Freitas pediu a prisão temporária do suspeito e a busca e apreensão em sua residência. As ordens foram cumpridas na manhã desta terça-feira, 14 de maio.
Em depoimento informal à polícia, o homem admitiu ter discutido com Thácia por ciúmes durante o retorno do baile. Disse ainda que os dois foram até um ponto escuro próximo ao rio, onde teriam entrado em luta corporal e, segundo ele, Thácia caiu na água. A versão, no entanto, é considerada frágil e contraditória. O histórico de violência doméstica já registrado anteriormente reforça a tese de feminicídio.
O Corpo de Bombeiros iniciou os trabalhos de busca no leito do rio e, além do calçado, encontrou um brinco que, segundo a mãe, pertencia à filha. Apesar dos esforços, o corpo de Thácia ainda não foi localizado, o que mantém em suspenso o desfecho do caso, que agora comove toda a cidade e mobiliza voluntários em ações de apoio e busca.
O silêncio que fere e o clamor por justiça
A ausência de notícias concretas sobre Thácia é um fardo pesado para Fátima, que se recusa a aceitar qualquer versão que não a verdade. “Ela nunca sumiria assim. Sempre ligava, sempre dava notícias. Eu conheço minha filha. Só quero que encontrem ela. Só quero justiça”, desabafa entre lágrimas.
Nas redes sociais, a comoção é crescente. Amigos, parentes e até desconhecidos compartilham imagens de Thácia, mensagens de apoio à família e pedidos de justiça. A comoção popular contrasta com o silêncio do suspeito, agora detido, e acentua a dor de quem perdeu uma filha, uma mãe, uma mulher que não deveria ter desaparecido.
Enquanto a Polícia Civil continua a investigação e o trabalho do Corpo de Bombeiros persiste no local onde os indícios foram encontrados, a família de Thácia enfrenta o peso insuportável da ausência. “A gente avisava. A gente implorava para ela sair dessa relação. Mas ele enganava, iludia, manipulava. Agora ela está sumida, e eu só quero que paguem pelo que fizeram com ela”, diz a mãe, mergulhada em uma dor que nenhuma palavra pode descrever por completo.
O caso permanece em andamento, agora sob a classificação de possível feminicídio. A cidade aguarda respostas. E uma mãe, que já perdeu tanto, aguarda encontrar o mínimo necessário para poder dizer adeus.
#Feminicidio #JusticaPorThacia #Cassilandia #ViolenciaDomestica #Desaparecida #ThaciaPaula #SegurancaPublica #DireitosDasMulheres #PoliciaCivil #BuscaERescate #RioAporé #RelacoesAbusivas