A tensão virou rotina para quem vive nos bairros Nhanhá, Jacy, Marcos Roberto e adjacências, em Campo Grande. Moradores cansados da insegurança e dos constantes furtos se reuniram em uma Audiência Pública na Câmara Municipal para pedir socorro. A proposta central foi a criação de uma Guarda Comunitária na região, mas o que se ouviu foi um grito coletivo por soluções mais amplas e urgentes.
A reunião, convocada pelo vereador Beto Avelar, da Comissão de Segurança Pública, reuniu representantes da Polícia Militar, Polícia Civil, Guarda Civil Metropolitana, Ministério Público, secretarias e lideranças comunitárias. A mensagem foi clara: a sensação de abandono tomou conta de quem vive por ali, e as ações isoladas de repressão não estão resolvendo.
Segundo os moradores, mesmo com operações policiais frequentes, a criminalidade se mantém firme, alimentada por usuários de drogas que invadem casas, furtam objetos e assustam famílias inteiras. Talita Mariana, presidente do Bairro Jacy, contou que desde novembro os furtos viraram rotina. “Levam tudo, até número da casa. E mesmo quando a polícia prende, eles são soltos rapidinho”, desabafou.
Maria Antônia de Melo Oshiro, moradora da região há 30 anos, não escondeu o medo. “A gente vive trancada. Se sair, tem que rezar pra voltar e achar a casa do mesmo jeito. Já levaram até moto de dentro da garagem”, contou.
O vereador Veterinário Francisco reforçou o cenário caótico. “O povo vive preso dentro de casa. Esses dias tinha um sujeito arrancando antena do telhado. E o que se diz é que gente de fora está sendo despejada aqui”, afirmou, alertando para a denúncia de que outras cidades estariam enviando moradores de rua para a Nhanhá.
A discussão foi além da segurança. O promotor de Justiça Douglas Oldegardo propôs a criação do Programa de Enfrentamento à Criminalidade da Região do Anhanduizinho, onde vivem mais de 200 mil pessoas. “A gente precisa de uma resposta coletiva, começando pela segurança, mas indo muito além dela. É preciso urbanizar, iluminar, dar condições reais de vida”, defendeu.
O vereador André Salineiro falou em colocar um posto policial fixo na Nhanhá e defendeu ações sociais mais efetivas. “Tem que acolher, mas também dar uma nova chance pra essas pessoas, com trabalho e dignidade”, apontou, lembrando do antigo programa Proinc, agora chamado Primt, que pode ser uma alternativa de reinserção no mercado de trabalho.
A fala do delegado Hoffman Davila, da Denar, trouxe uma reflexão importante. “Só reprimir não resolve. A gente prende, e quatro horas depois eles voltam pro mesmo lugar. Falta uma política de reabilitação séria e contínua”, disse ele, destacando a importância de um centro específico de acolhimento e tratamento.
O secretário de Segurança Anderson Gonzaga destacou que, apesar de mais de dez grandes operações já terem sido realizadas na região com apreensões e prisões, ainda falta articulação constante entre todas as esferas. “Mais de três toneladas de cobre furtado já foram apreendidas. Mas sem ações permanentes, tudo volta ao ponto de partida”, explicou.
Outros pontos levantados foram a necessidade de reativar projetos sociais voltados às crianças e adolescentes, melhorar a iluminação pública, ocupar os espaços com atividades culturais e esportivas, e retomar o contato próximo entre o poder público e as lideranças comunitárias.
Tereza Cristina Miglioli, da Secretaria de Assistência Social, explicou o papel dos centros de acolhimento e o trabalho da abordagem social. “Nós tentamos acolher, convencer, encaminhar. Mas não podemos obrigar ninguém a sair da rua. É um processo delicado e contínuo”, lembrou.
Enquanto as ideias circulam nas audiências e reuniões, quem vive na Nhanhá e arredores segue convivendo com o medo, a insegurança e o abandono. Para esses moradores, qualquer mudança precisa acontecer logo. Porque cada dia que passa, mais famílias são vítimas da violência, e mais vidas se perdem para o ciclo da exclusão social.
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