A madrugada deste sábado, 7 de junho, amanheceu marcada pela dor, o medo e o silêncio inquieto que toma conta de comunidades cansadas da violência que se repete. No bairro Dom Antônio Barbosa, localizado na região sul de Campo Grande, um adolescente de apenas 17 anos teve a vida interrompida de forma brutal durante uma festa junina, evento que, há décadas, deveria celebrar as tradições populares e fortalecer os laços comunitários.
Segundo relatos da família, especialmente da avó da vítima, dona Josefa Maria de Salles, de 56 anos, um carro preto teria passado disparando diversos tiros contra pessoas que estavam reunidas no local. “Passaram atirando, num carro preto, dizem que foram dez tiros. Ninguém sabe o que aconteceu. Um outro levou um tiro na cabeça, outro no braço, e ele no abdômen. A gente sabe de três pessoas que foram atingidas”, contou a avó, ainda em estado de choque.
O jovem, atingido no abdômen, foi socorrido às pressas e levado ao CRS da Coophavila, onde teve seu óbito confirmado às 5h15 da manhã. Com ele, a polícia encontrou três pequenos tabletes de maconha, seda para consumo e uma quantia não revelada de dinheiro. A presença da droga reforça uma preocupação antiga das autoridades: o crescente envolvimento de adolescentes com o tráfico nas regiões periféricas da capital sul-mato-grossense.
Embora a avó afirme desconhecer se o neto sofria ameaças ou estivesse envolvido com grupos criminosos, a polícia civil trabalha com a possibilidade de o crime ter ligação com o tráfico ou com disputas territoriais entre facções. A Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude (DEAIJ) e o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) investigam o caso.
Moradores da região, que pedem anonimato por medo de represálias, relataram que o bairro convive com tiroteios, abordagens suspeitas e tráfico de entorpecentes de forma quase rotineira. “A gente se tranca em casa depois das dez da noite. Já não é de hoje que essas festas viram tragédia. As gangues disputam o controle e quem sofre somos nós, que só queremos viver em paz”, lamenta um comerciante que atua há mais de 20 anos no local.
O Dom Antônio Barbosa não é um caso isolado. Diversos bairros e vilas de Campo Grande têm experimentado um aumento na incidência de crimes violentos, especialmente aqueles envolvendo adolescentes. Segundo levantamento da Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul, houve um aumento de 12% nos casos de homicídios envolvendo menores de 18 anos entre 2022 e 2024 na capital. A maioria das vítimas, bem como dos autores, está ligada de alguma forma ao tráfico de drogas.
Especialistas em segurança pública e psicólogos sociais apontam que a vulnerabilidade social, a falta de oportunidades, a evasão escolar e a ausência de políticas públicas de base estão entre os principais fatores que contribuem para esse cenário. A criminalidade se aproveita do abandono para cooptar jovens, oferecendo promessas de dinheiro fácil, status e pertencimento.
Um delegado da DEAIJ destaca que a prevenção é um dos únicos caminhos possíveis para romper o ciclo de violência. “Não é possível conter essa realidade apenas com viaturas e prisões. Precisamos investir em educação, cultura, esporte, lazer. Os adolescentes não estão apenas sendo vítimas do crime, mas também sendo utilizados como ferramenta por organizações criminosas que se aproveitam da fragilidade desses meninos”, afirmou.
Um secretário municipal de segurança ressaltou que a prefeitura estuda ampliar os programas de vigilância comunitária e integrar ações sociais com as forças policiais. “Não há combate à violência sem presença do Estado. Vamos trabalhar para fortalecer a prevenção, mas também para melhorar o monitoramento e a repressão qualificada contra os grupos que aterrorizam nossas vilas”, declarou.
No entanto, para famílias como a de Josefa, as promessas já não soam como consolo. “Meu neto tinha sonhos, era uma criança ainda. Agora está morto. E quem vai pagar por isso?”, questiona, com a voz embargada pela dor irreparável.
A morte do adolescente, ocorrida em um momento que deveria ser de alegria e celebração, levanta questões urgentes sobre o tipo de cidade que Campo Grande está se tornando. A violência que antes parecia restrita a certas zonas agora irrompe em festas comunitárias, alcança jovens em idade escolar, transforma a noite em luto. A cada novo episódio, famílias são destroçadas, sonhos são enterrados, e o medo se consolida como morador permanente nas vilas esquecidas do poder público.
Enquanto a investigação tenta esclarecer a autoria e a motivação do ataque, a cidade volta a se perguntar até quando os adolescentes seguirão sendo alvos fáceis da violência. E até quando as festas juninas, símbolo da cultura popular, serão palco de tragédias anunciadas.
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