Mato Grosso do Sul, 1 de julho de 2025
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Música de Maraísa sobre borderline causa polêmica e levanta debate sobre transtornos mentais

Letra associando transtorno a relacionamento abusivo é criticada por especialistas e gera reação nas redes sociais
A cantora Maraísa
Foto: Reprodução/Instagram
A cantora Maraísa Foto: Reprodução/Instagram

A cantora Maraísa, conhecida por sua trajetória na música sertaneja ao lado da irmã Maiara, se viu no centro de uma polêmica após a divulgação de um vídeo em que canta a música intitulada “Borderline”. A letra, que não chegou a ser lançada oficialmente, viralizou nas redes sociais e foi duramente criticada por fazer referência ao Transtorno de Personalidade Borderline de maneira considerada estigmatizante e equivocada por profissionais da saúde mental.

Logo no início da canção, Maraísa canta que “nem preciso de CRM pra diagnosticar essa loucura que cê tá vivendo”, referindo-se a um relacionamento em que o parceiro mudava de comportamento com cada pessoa com quem se relacionava. A letra sugere que esse padrão seria suficiente para apontar um diagnóstico de transtorno borderline, sem a necessidade de avaliação por um profissional da medicina. O conteúdo causou um enorme alvoroço nas redes, especialmente entre psicólogos, psiquiatras e pessoas diagnosticadas com o transtorno, que apontaram os perigos de disseminar informações incorretas e reforçar estigmas sobre saúde mental.

Após a repercussão negativa, o vídeo foi apagado dos perfis oficiais da artista. A assessoria de imprensa de Maraísa informou que a música não foi oficialmente lançada e que, até o momento, não há previsão de que venha a ser divulgada de forma oficial. Mesmo assim, o estrago já havia sido feito, e a discussão ganhou força, abrindo espaço para um debate necessário sobre como transtornos mentais são retratados no entretenimento e na cultura popular.

A psicóloga Tatiana Serra foi uma das especialistas que se posicionou publicamente sobre o assunto. Segundo ela, a canção trata o transtorno borderline de forma leviana e promove desinformação. “Essa letra, além de estigmatizar, apresenta uma definição incorreta sobre o transtorno. Pessoas que convivem com borderline não são ‘loucas’. Muitas trabalham, estudam, mantêm relacionamentos, constroem famílias. São pessoas que enfrentam desafios emocionais intensos, mas que podem viver com qualidade, especialmente com o tratamento adequado”, afirmou a profissional.

Mas afinal, o que é o transtorno de personalidade borderline?

Trata-se de uma condição psiquiátrica marcada por um padrão contínuo de instabilidade emocional, comportamento impulsivo, relações interpessoais intensas e, muitas vezes, conflituosas. As pessoas diagnosticadas com borderline têm dificuldade em regular suas emoções e podem oscilar entre extremos emocionais num curto espaço de tempo. Isso pode gerar crises de raiva, insegurança, medo de abandono e sentimentos de vazio profundo.

O transtorno geralmente começa a se manifestar no final da adolescência ou início da vida adulta, e pode ter causas multifatoriais, incluindo predisposição genética, histórico de abuso na infância ou traumas emocionais. Apesar de ser uma condição complexa, ela tem tratamento. O acompanhamento psicológico contínuo, especialmente por meio da terapia comportamental dialética (DBT), aliado à intervenção psiquiátrica quando necessária, tem mostrado excelentes resultados na estabilização do quadro.

A polêmica em torno da música de Maraísa acendeu um alerta sobre como as questões de saúde mental ainda são mal compreendidas, e como a forma com que essas doenças são representadas pode influenciar negativamente o público. Para Tatiana Serra, a arte pode — e deve — falar sobre saúde mental, mas com responsabilidade e embasamento. “É preciso sensibilidade e informação ao tratar desses temas. Estamos falando de vidas, de diagnósticos sérios. A desinformação pode afastar as pessoas do tratamento e reforçar o preconceito”, pontuou.

Nas redes sociais, enquanto alguns fãs defenderam a cantora, dizendo que ela não teve intenção de ofender e que a canção refletia uma experiência pessoal, outros cobraram uma retratação e mais cuidado com o conteúdo que é compartilhado com milhões de seguidores. A discussão escancarou a necessidade de maior conscientização sobre o transtorno borderline e também sobre o papel de artistas e influenciadores na construção de discursos mais saudáveis e empáticos sobre temas tão delicados.

O episódio envolvendo Maraísa serve como um lembrete de que saúde mental não deve ser tratada como metáfora ou diagnóstico de internet. É um campo sério, que exige cuidado, responsabilidade e, acima de tudo, empatia. Fica o chamado para que a arte continue dialogando com as questões humanas, mas sem abrir mão da informação correta e do respeito com quem convive diariamente com transtornos como o borderline.

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