Os dias passam e os registros das perdas causadas pelas chuvas se multiplicam nos campos em Mato Grosso. Com a colheita prejudicada pelo excesso de umidade, tem soja brotando nas vagens, grãos com a qualidade comprometida e obstáculos ainda maiores para escoar a produção, com algumas estradas intransitáveis. Junto destes problemas, a apreensão com o futuro da segunda safra de milho. O atraso do plantio é uma ameaça para o desempenho das lavouras, o que aumenta a angústia dos agricultores.
“É um problema muito sério perder lavouras já consolidadas, lavouras comprometidas financeiramente para pagar os custos, as máquinas… é uma situação muito complexa que os nossos produtores têm vivido”, aponta Fernando Cadore, presidente da Aprosoja Mato Grosso.
Diante dos impactos já consolidados e de olho nas condições meteorológicas previstas para as próximas semanas na estado, a entidade encaminhou ofício à Defesa Civil pedindo atenção à “situação calamitosa” enfrentada por diversos municípios em decorrência das chuvas. Segundo a Aprosoja-MT, algumas regiões “podem acumular 300 milímetros de chuvas em 30 dias, inviabilizando a colheita da soja e o plantio do milho, gerando prejuízos para toda a cadeia produtiva, com reflexos na economia dos municípios e do estado”. O documento lista 67 municípios que podem entrar em situação de emergência. São 12 cidades na região noroeste, 17 na norte, 22 no nordeste do estado e 16 na região médio-norte.
Em entrevista, o secretário-adjunto de Proteção e Defesa Civil de Mato Grosso, Cel. César Viana de Brum, afirmou que desde o início desta semana equipes estão percorrendo os municípios para verificar os estragos no campo. “Eles nos reportam a situação para que a gente possa elaborar um documento que objetiva a gente homologar aquilo que o município está nos dizendo. Desde a semana passada para esta semana a gente observa que os pedidos se intensificaram e a gente crê então que, na semana que vem, a gente tenha vários municípios com este decreto de emergência em conforme essa demanda, a gente pode optar aqui, numa questão mais interna e administrativa, por fazer um decreto regional ou então estadual”, explica.
O secretário-adjunto diz ainda que a avaliação feita pelos técnicos, precisa levar em conta não apenas as perdas na lavoura, mas como elas devem refletir na economia local. “Nós não temos aqui problemas de risco à vida do produtor ou de seus funcionários. A gente está com um problema seríssimo aqui que é uma frustração da colheita e do plantio que podem ensejar, claro, uma frustração da receita que pode por sua vez chegar então a reduzir recursos públicos para os programas de governo relacionados à saúde, infraestrutura, etc. Então, o caminho para o produtor é chegar sim à Defesa Civil municipal, ao gestor, que de lá o estado vai dar o suporte necessário”, orienta.
Na avaliação do presidente da Aprosoja-MT, o reconhecimento oficial de que a situação é de emergência, será importante para ajudar os produtores que tiverem perdas acentuadas a comprovarem as causas dos prejuízos. “É muito difícil, muito complicado você perder uma lavoura já instalada. A orientação que estamos dando aos nossos produtores é que façam relatos, construam provas, lavouras em cima destas áreas perdidas. Nós sabemos que não resolve o problema, mas precisa-se ter um amparo quando for discutir algum contrato que, por ventura, venha a não ser cumprido em função das perdas climáticas. Infelizmente não é a situação que gostaríamos de estar vivendo, mas é uma questão climática e temos que tentar de alguma forma minimizar um problema que é tão sério, tão grave, que nós produtores estamos vivendo em nosso estado neste momento”, conclui.