Aos 19 anos, Samille Malta viu sua dedicação incansável aos estudos se transformar em um feito histórico. Natural de Virginópolis, um pequeno município do interior de Minas Gerais, ela foi a única estudante da rede pública a tirar nota 1000 na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024. Como resultado, conquistou sua tão sonhada vaga no curso de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sua história de superação e dedicação chegou até o Palácio do Planalto, onde foi recebida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“É por isso que o ministro Camilo Santana (da Educação) fez questão de trazê-la aqui: para mostrar que as pessoas de escola pública, se tiverem chance, também conseguem dar conta do recado”, disse Lula em suas redes sociais. Durante o encontro, o presidente brincou sobre a rotina intensa de estudos da jovem: “Tem que estudar. Se você acha que vai passar querendo ir para a balada todo dia, não vai dar”.
Uma jornada de foco e dedicação
Samille iniciou sua trajetória escolar na Escola Estadual Nossa Senhora do Patrocínio, em Virginópolis. No entanto, reconhecendo a necessidade de um ensino mais aprofundado para sua meta de ingressar em Medicina, ela se mudou para a cidade de Viçosa para cursar o ensino médio no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa (Cap-Coluni).
A transição não foi fácil. “A mudança para Viçosa foi um desafio. Ficar longe da família por tanto tempo me afetou no início, mas aos poucos fui me adaptando, fiz amigos e me acostumei com a rotina intensa de estudos”, contou Samille. Durante três anos, ela se preparou de forma rigorosa, estudando por até 12 horas diárias e participando do Enem como treineira nos dois primeiros anos do ensino médio.
O esforço valeu a pena. “Foi a realização de um sonho que venho buscando há muito tempo. Quando vi minha nota, não sabia se ria ou se chorava de emoção. Era um misto de felicidade e alívio por ver que todo o meu esforço foi recompensado”, relatou emocionada.
Com aprovação também na Unicamp, Samille optou pela UFMG, em Belo Horizonte, para ficar mais próxima da família. “Sei que a jornada na Medicina não será fácil, mas estou pronta para esse novo desafio”, afirmou.
Números e desigualdade no Enem
O Enem 2024 contou com mais de três milhões de participantes. Apesar disso, apenas 12 alcançaram a nota máxima na redação. Entre eles, Samille foi a única vinda da rede pública de ensino. Os demais candidatos nota 1000 estudaram em escolas particulares, evidenciando uma realidade preocupante sobre o acesso desigual à educação de qualidade no Brasil.
A diferença também aparece nas notas médias: a pontuação média geral da redação foi de 660 pontos, um leve aumento em relação aos 645 pontos de 2023. No entanto, apenas 215 estudantes da rede pública atingiram notas entre 980 e 1000, enquanto 2.308 vieram de colégios particulares.
O impacto do Sisu na vida dos estudantes
O Sistema de Seleção Unificada (Sisu) é a principal porta de entrada para universidades públicas brasileiras. Ele permite que estudantes utilizem suas notas do Enem para concorrer a vagas em diversas instituições. A história de Samille reforça a importância dessa política pública e da necessidade de investir mais no ensino básico para que mais alunos da rede pública possam competir em condições justas com aqueles da rede particular.
Inspiração para milhares de jovens
A história de Samille Malta se tornou inspiração para milhares de estudantes brasileiros, especialmente aqueles que, como ela, enfrentam desafios para acessar uma educação de qualidade. “Não é fácil, mas é possível. Se você tem um sonho, agarre ele com todas as suas forças”, aconselha Samille.
O caso também reacende o debate sobre a necessidade de um ensino mais igualitário e de mais investimentos nas escolas públicas, garantindo que alunos talentosos tenham as mesmas oportunidades de sucesso que os da rede particular
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