Uma rede de corrupção que se infiltrou em prefeituras de Mato Grosso do Sul foi desmontada nesta terça-feira (18) com a deflagração da Operação Malebolge. O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) cumpriu 50 mandados em quatro municípios do estado, desmantelando um esquema de fraudes milionárias em licitações públicas. O rombo ultrapassa a marca dos R$ 10 milhões e envolve políticos, servidores públicos e empresários.
A operação foi conduzida pelo Ministério Público Estadual (MPMS) e teve como foco cidades estratégicas onde o grupo criminoso atuava: Campo Grande, Água Clara, Rochedo e Terenos. Entre os mandados, 11 foram de prisão preventiva e 39 de busca e apreensão.
O Esquema de Corrupção: Como Funcionava?
As investigações revelaram que o esquema era liderado por um empresário, cujo nome ainda não foi divulgado, e operava através da cooptação de servidores públicos. O objetivo era fraudar processos licitatórios para garantir que empresas ligadas ao grupo fossem as vencedoras, muitas vezes sem qualquer concorrência real.
O Gaeco descobriu que os criminosos manipulavam editais, simulavam disputas entre empresas de fachada e até aceleravam pagamentos irregulares em contratos firmados com o poder público. Além disso, havia o pagamento de propina para que servidores atestassem, falsamente, a entrega de produtos e a prestação de serviços que nunca foram realizados.
“As investigações apontam que os contratos fraudados ultrapassam R$ 10 milhões. O grupo usava diferentes artifícios para garantir o sucesso do esquema, incluindo a simulação de concorrência e a criação de empresas fictícias para vencer licitações”, informou o Ministério Público em nota oficial.
Entre os itens envolvidos nas licitações fraudulentas estavam uniformes escolares, materiais de escritório, alimentos, serviços de manutenção de veículos, aluguel de máquinas, confecção de roupas, transporte de cargas e até equipamentos de informática e fisioterapia.
Os Principais Alvos da Operação
A operação prendeu diversas figuras de peso dentro das prefeituras envolvidas, incluindo Fernando Passos Fernandes, diretor de Licitação de Rochedo e filho do atual prefeito Arino Fernandes (PSDB). Ele já havia sido investigado na Operação Turn Off, que mirava fraudes em contratos para compra de equipamentos de fisioterapia e informática no município.
Outro nome de destaque é Renato Franco do Nascimento, servidor da Secretaria de Finanças e Licitação de Rochedo, apontado como um dos facilitadores do esquema. Ele teria sido responsável por acelerar processos fraudulentos e garantir que empresas ligadas ao grupo criminoso recebessem os pagamentos rapidamente.
Denise Rodrigues Medis, atual secretária de Finanças de Água Clara, também foi presa. As investigações apontam que ela teve participação direta na manipulação das licitações para beneficiar empresas específicas.
Além dela, as servidoras Ana Carla Benette e Jânia Alfaro Socorro, lotadas na Secretaria de Educação de Água Clara, também foram detidas. Elas são suspeitas de colaborar com o esquema criminoso e facilitar a aprovação de contratos irregulares.
Mas o grupo não se limitava ao setor público. Empresários que faziam parte do esquema também foram presos, acusados de criar e administrar empresas de fachada para burlar a concorrência e monopolizar as licitações. Essas empresas eram registradas em diferentes setores da economia, possibilitando que o grupo atuasse em diversos contratos simultaneamente.
A Origem do Nome da Operação: ‘Malebolge’
A escolha do nome “Malebolge” para a operação não foi aleatória. O termo vem da obra “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri, e refere-se ao oitavo círculo do Inferno, onde estão os fraudadores e corruptos. Segundo as autoridades, a referência se encaixa perfeitamente com o nível de sofisticação e crueldade do esquema desmantelado.
“A corrupção desviava dinheiro que deveria ser investido na população. Recursos que poderiam estar em saúde, educação e infraestrutura estavam sendo direcionados para o bolso de criminosos. O nome da operação reflete bem o nível de desonestidade e enganação que esse grupo praticava”, explicou um dos promotores responsáveis pelo caso.
Desdobramentos e Próximos Passos
Com a prisão dos envolvidos e a apreensão de documentos, o Ministério Público e o Gaeco agora focam na análise das provas para aprofundar as investigações e identificar outros participantes do esquema. Novas fases da operação não estão descartadas, e mais prisões podem ocorrer nos próximos dias.
Os servidores públicos envolvidos devem responder por crimes como fraude em licitação, corrupção ativa e passiva, organização criminosa e peculato. Já os empresários podem ser enquadrados em crimes de falsidade ideológica, estelionato e lavagem de dinheiro.
O Ministério Público reforçou que as prefeituras dos municípios envolvidos serão monitoradas para garantir que novos esquemas não se formem. A população também pode colaborar com denúncias anônimas para ajudar no combate à corrupção.
A Operação Malebolge expôs um esquema de corrupção que lesava diretamente os cofres públicos e comprometia serviços essenciais. Agora, resta aguardar as próximas fases da investigação para saber até onde se estendem os tentáculos desse grupo criminoso.
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